É perder tempo chamar os apoiadores de Bolsonaro de fascistas porque a maioria nem sabe do que se trata.
Eles criaram o bolsonarismo, que é muito pior, uma invenção nativa que junta ignorância com má fé, não tem propriamente uma ideologia, mas apenas ódio e interesses diversificados para se dar bem.
Vêm aí Janaína, Kim, Frota, Major Olímpio, a fina flor da “renovação na política”.
Com esse tipo de gente não adianta querer argumentar e propor um “acordo ético”, como fez Haddad na segunda-feira, para evitar a disseminação criminosa das fake news.
É como entrar num presídio rebelado e propor um pacto de boa convivência entre as facções que estão se matando.
Em resposta pelo twitter, o capitão veio com os dois pés no peito do adversário, a quem chamou de “pau mandado de corrupto” e “canalha”.
Mas nada disso me espanta mais. É daí para baixo, e é só o começo.
Se Haddad insistir no bom mocismo, pode ter o mesmo destino de Alckmin, que nas eleições de 2006 teve menos votos no segundo turno do que no primeiro, ao ser derrotado por Lula.
O que realmente me deu dimensão do grau de violência e insanidade que nos espera neste segundo turno, foi um registro feito pelo colunista Alvaro Costa e Silva, na Folha, em que relata sete cenas do fascismo em marcha.
Uma delas é particularmente chocante, e a reproduzo abaixo:
Cena 5: na cidade de Muniz Ferreira, Bahia, um cachorro _ de nome Marley _ foi baleado durante uma carreata. Ele começou a latir enquanto os carros passavam buzinando. “O homem saiu do carro e deu um tiro numa pata. Depois que o cachorro correu, ele deu dois tiros. Eu pedi: `Não atire, não atire!´ Mas ele ainda deu mais dois tiros. Meu cachorro correu para dentro de casa e, quando vimos, estava morto no chão”, conta a dona. Segundo o jornal O Povo, era uma carreata bolsonarista.
Se você conta esta história aos fanáticos seguidores do capitão, eles dão uma risadinha cínica, como quem diz: “E daí? Agora é nóis…”
Podem até achar que o cachorro também é comunista e tinha mesmo que morrer.
Desde domingo, eles assumiram tal grau de superioridade e truculência ignara, que nada mais é capaz de atingir suas convicções messiânicas.
Qualquer crítica ao novo herói nacional é recebida com desdem, coisa de perdedores. Colocam em dúvida até as barbaridades que o próprio Bolsonaro escreve nas redes sociais: “Precisa ver se foi isso mesmo que ele falou… Tem muita mentira contra ele”.
É como conversar com uma parede. O muro que se ergueu entre os brasileiros nas eleições de domingo é maior do que o do Trump no México, são agora dois Brasis absolutamente inconciliáveis.
Os fatos, a lógica e a razão são abatidos a tiros de intolerância absoluta, em defesa do “Novo Brasil” que saiu das urnas triunfante, nos braços de Janaína Pascoal e Alexandre Frota.
A ameaça maior para o nosso futuro nem está neste capitão tosco, boçal e desequilibrado, nem no seu vice general, mais perigoso do que ele, mas nos quase 50 milhões de brasileiros que votaram nos dois milicos de pijama neste domingo, sem ter a menor ideia dos seus planos e ideias para o Brasil, além de “metralhar a petralhada”.
“Bolsonaro ganhou antes mesmo de ganhar porque não apenas ampliou o ódio, mas também sequestrou o debate. Este tempo já foi perdido por quem aposta na democracia. Mas o tempo não foi perdido para os que apostam no caos, porque o ódio foi ampliado e os muros ficaram ainda maiores e mais difíceis de serem atravessados por qualquer diálogo”, escreveu Eliane Brum em sua coluna do El País, o grande jornal espanhol, onde hoje trabalha a mais premiada jornalista brasileira, o que também é sintomático destes tempos enlouquecidos e emburrecidos.
Diante deste cenário, qualquer que seja o vencedor, Hélio Schwartzman não parece muito otimista na sua coluna de hoje na Folha, que termina assim:
“Se nada de pior acontecer, podemos esperar quatro anos de caos”.
Vida que segue. Para onde?
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