Páginas

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras responde ao artigo infeliz do presidente do CFM

NOTA DA REDE FEMINISTA DE GINECOLOGISTAS E OBSTETRAS

Em resposta ao artigo do presidente do CFM afirmando que o Conselho não mudará parecer que dá autonomia sobre o tratamento precoce da COVID-19.

Depois de meses e meses de omissão do Conselho Federal de Medicina, em um silêncio aterrorizante diante da necropolítica genocida do presidente Bolsonaro, de suas insistentes tentativas de nos empurrar quer a clororquina quer a ivermectina como "tratamento precoce" que funcionaria para a COVID-19, com o único e explícito objetivo de empurrar as pessoas de volta às ruas com uma falsa sensação de segurança, quando pensamos que não há mais como piorar, o presidente do CFM, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, escreve artigo em que ataca cientistas “não médicos”, defende o tratamento precoce da COVID-19 e o famigerado parecer 04/2020, alfineta as sociedades de especialidades médicas e deixa muito evidente que a entidade não irá mudar sua conduta.

Esse senhor precisa ser desafiado a mostrar as “dezenas de artigos” que afirma estarem disponíveis mostrando a efetividade das drogas defendidas até o momento para o tratamento precoce, para que sejam devidamente analisados por quem entende de evidências científicas e apurado seu rigor metodológico. Porque a boa Ciência já demonstrou há tempos que não são eficazes.

Precisa, além disso, no mínimo comparecer a debates com os “não médicos”, cientistas de boa cepa, que ele ataca, insinuando que se "auto-intitulam cientistas" como se não o fossem, pois queremos ver ao vivo se ele consegue defender esse ponto de vista com pessoas que têm um currículo acadêmico infinitas vezes melhor que o dele. Biólogos, sanitaristas, farmacologistas, epidemiologistas, ninguém precisa ser médico para entender de ensaio clínico e de efetividade de medidas preventivas e de drogas para tratamento da COVID-19. Esse tipo de corporativismo é inconcebível em pleno século XXI. Deveríamos reconhecer que o médico não é o senhor todo poderoso e detentor de todo o conhecimento da face da terra e que só teríamos vantagens com o trabalho com a equipe transdisciplinar e as importantes contribuições dos cientistas das diversas áreas.

E que história é essa de “se autointitular cientista”? O presidente do CFM parece se dirigir em especial aos biólogos Átila Iamarino e Natália Pasternak, ambos com formação acadêmica, doutorado e pós-doutorado. Eles são cientistas, Mauro. Quem não é de forma alguma é você, com seu currículo pífio. Pode acreditar que os médicos não são uma casta superior ao restante da humanidade. Os bons médicos e os médicos cientistas neste momento estão morrendo de vergonha dessa sua afirmação.

Deixamos aqui o link para o Currículo Lattes do presidente do CFM: não fez mestrado, doutorado e nunca publicou um artigo na vida. Isso não é difamação. Lattes é de domínio público. E foi atualizado em 2004. Que importância enorme o presidente do CFM dá à Ciência, não? Quais são os critérios, aliás, para se eleger um Conselheiro? É esperar demais que os médicos cientistas (sim, eles existem!) também façam parte do CFM, visando a arejar essa instituição e trazer conceitos importantes da Medicina Baseada em Evidências que são fundamentais para uma boa prática clínica?


Não se pode conceber que, tantos meses depois da pandemia e com a vasta quantidade de publicações e guidelines de boa qualidade demonstrando a falta de efetividade e os possíveis riscos das drogas usadas para o propalado "tratamento precoce", o CFM insista ainda que o médico tem autonomia para prescrever terapias sem evidências científicas. Em pleno século XXI, a Medicina tem que caminhar de braços dados com a Ciência, e não na direção contrária dos achismos, da enganosa "experiência pessoal" e das falácias despejadas a granel pelos defensores de cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, zinco, selênio e outras mezinhas.

Em tempo:

Obviamente todos sabemos que o presidente do CFM é e sempre foi bolsonarista, que o Conselho não quer desagradar ao despresidente. E que seu ponto de vista se torna insustentável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário