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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Planos de saúde não cobrem exame para detecção do vírus zika

ANS diz que faltam diretrizes específicas para uso do teste PCR


Além de se depararem com sintomas de zika em meio a uma epidemia considerada “explosiva” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), usuários dos principais planos de saúde do país podem não conseguir confirmar se têm ou não a doença ao serem atendidos em hospitais e laboratórios particulares. Isso porque os planos de saúde ainda não são, atualmente, obrigados a cobrir os custos do único teste disponível para diagnóstico.

A Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS), responsável por regular o setor, afirma que não há no país diretrizes específicas para a utilização do PCR, exame essencial para comprovar a presença do material genético do vírus zika. O teste é caro: custa, em média, R$ 350 por pessoa.

Os protocolos e diretrizes de atendimento específicos para o tratamento do vírus zika são estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Procurado pelo GLOBO, o ministério não se pronunciou até a segunda-feira.

Desde 2000, a detecção de dengue tem cobertura obrigatória pelos planos de saúde. No início de janeiro, testes rápidos para a doença e para a chicungunha passaram a ser exigidos. Exames complementares podem auxiliar o diagnóstico e também são cobertos, como os hemogramas, os de contagem de plaquetas e a chamada prova do laço.

DIAGNÓSTICO PRESUMIDO

O GLOBO entrou em contato com as principais operadoras de plano de saúde brasileiros. Apenas a Unimed Rio de Janeiro informou que cobre todos os exames existentes, inclusive o PCR para zika. Unimed Brasil e Amil, por sua vez, disseram que suas coberturas incluem testes que constam no rol de procedimentos da ANS, entidade que diz faltarem diretrizes específicas para o uso do PCR.

As operadoras Bradesco Saúde e SulAmérica responderam que são representadas pela Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde). E a entidade alegou que os profissionais de saúde ainda estão em treinamento para o uso do PCR, e que são poucos os laboratórios que dispõem do teste.

“É importante ressaltar que será necessário avançar com as pesquisas e superar a etapa de treinamentos para disponibilizá-lo à população de forma equânime e em âmbito nacional”, explicou a FenaSaúde.

A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) declarou que suas operadoras associadas realizam o diagnóstico por meio dos testes rápidos.

Em nota enviada ao GLOBO, a ANS afirmou que, “na maioria dos casos, o diagnóstico presumido do vírus zika pode ser feito pela exclusão da dengue e da febre chicungunha”.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO, porém, criticaram o método do diagnóstico por exclusão como alternativa ao PCR. O professor Mariano Zalis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que há retrocesso no atendimento recomendado pela ANS.

— Tudo bem usar os testes de dengue e chicungunha para exclusão da zika se não houvesse ainda um exame específico disponível. Mas não é o caso. Já é possível fazer o diagnóstico, ter certeza. Os planos estão totalmente por fora das necessidades da população — criticou Zalis.

O infectologista Marcos do Lago, professor da Universidade do Estado do Rio (Uerj), também frisou que a exclusão não é suficiente para diagnosticar zika:

— Não tem como ter certeza por exclusão. Podem ser outras doenças associadas a outros vírus. É um indício, mas não é uma garantia — disse.

Semelhante ao que já ocorre com dengue e chicungunha, o tratamento médico para a zika é coberto pelos planos, já que se baseia apenas no controle dos sintomas. Os exames e terapias para tratamento de bebês com microcefalia estão disponíveis, segundo a ANS.

A Secretaria Nacional do Consumidor, do Ministério da Justiça; o Núcleo de Defesa do Consumidor, da Defensoria Pública do Estado do Rio; e o Procon carioca afirmaram que não receberam denúncias sobre não cobertura de exames de zika por planos de saúde. O Procon estadual não respondeu.

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