De janeiro a novembro do ano passado foram 788 mil notificações; número supera os de 2002 e é o maior já registrado
Ministério da Saúde contabiliza 223 mortes pela forma hemorrágica da doença no mesmo período, o maior número na história
CÍNTIA ACAYABA
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
Com 788 mil casos de dengue registrados de janeiro a novembro de 2008, o Brasil bateu o recorde de notificações da doença no país. O máximo de casos havia sido registrado em 2002, quando foram informadas 695 mil contaminações no ano. O número de mortes por dengue hemorrágica também foi o maior da história do país: 223.
Os dados são do Ministério da Saúde. Depois de 2002, o país chegou a apresentar queda nos casos de dengue, que voltaram a crescer a partir de 2005. "O aumento se deve, principalmente, à transmissão da dengue tipo 2, que causou a epidemia no Rio de Janeiro", diz Fabiano Pimenta, secretário-adjunto de Vigilância em Saúde do ministério.
Os casos de 2008, 43% maiores do que os de 2007, foram impulsionados, principalmente, pela região Sudeste do país. O Rio de Janeiro, que registrou 63 mil casos em 2007, chegou a ter 249 mil pessoas contaminadas com a doença em 2008 -quase 30% de todos os casos do país.
Em relação às mortes por dengue hemorrágica, houve um aumento de 41% em comparação com 2007 (e de 49% comparando com o ano de 2002, que teve 150 mortes).
"Quem pegou dengue do tipo 3 uma vez não vai ter mais sintomas, por exemplo. Só que as crianças que nasceram de 2001 para cá são suscetíveis. Então, aumentou o grupo que pode pegar esse tipo de doença que começou a circular nesse período", afirma Ivo Castelo Branco, clínico infectologista e professor do Núcleo de Medicina Tropical da UFC (Universidade Federal do Ceará).
Aumento
Minas Gerais, com 77,5 mil casos de dengue notificados, e Ceará, com 66 mil, ocupam a segunda e a terceira posição, respectivamente, dos Estados com maior número de pacientes que contraíram a doença no ano passado.
Para Castelo Branco, os casos de infecção podem ser, na verdade, superiores ao estimado.
"Você multiplica esses números. Muita gente se trata sem procurar um médico. Se teve mais casos é porque teve mais notificação, porque é fácil fazer o exame", diz.
Segundo o especialista, a dengue é ainda um desafio para o governo. "Isso não é só no Brasil. O mundo mudou. Antes você jogava veneno nas florestas, e hoje, se fizer isso, é preso. A maioria das pessoas está nas cidades. Existem pneus, plásticos, coisas que não havia."
Ele afirma que é preciso realizar campanhas levando em conta as especificidades de cada região para se ter um combate efetivo. "Não é possível dizer à população do Ceará para não acumular água porque aqui passa muito tempo sem chover. O problema são as caixas d'água. No Sul, é o acúmulo de pneus, por exemplo".
Questionamento
Paulo Olzon, infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma, porém, que é preciso analisar os dados com cuidado.
"Não acho que a situação piorou. É preciso analisar os critérios de diagnóstico. Quando se desperta a consciência sobre a doença, a pessoa pode chegar no pronto-socorro e dizer que tem sintomas", diz.
Para Olzon, a questão cultural e a falta de rigor do poder público são fatores que fazem com que a doença seja um problema em tempos atuais.
"Nossa sociedade ainda é desorganizada. Quem não cuida do seu espaço compromete o dos vizinhos. O governo deveria atacar mais em vez de se defender. Quem ajuda a proliferar o mosquito poderia ser punido, mas isso é uma atitude antipática. Pode perder votos", diz.
Os dados são do Ministério da Saúde. Depois de 2002, o país chegou a apresentar queda nos casos de dengue, que voltaram a crescer a partir de 2005. "O aumento se deve, principalmente, à transmissão da dengue tipo 2, que causou a epidemia no Rio de Janeiro", diz Fabiano Pimenta, secretário-adjunto de Vigilância em Saúde do ministério.
Os casos de 2008, 43% maiores do que os de 2007, foram impulsionados, principalmente, pela região Sudeste do país. O Rio de Janeiro, que registrou 63 mil casos em 2007, chegou a ter 249 mil pessoas contaminadas com a doença em 2008 -quase 30% de todos os casos do país.
Em relação às mortes por dengue hemorrágica, houve um aumento de 41% em comparação com 2007 (e de 49% comparando com o ano de 2002, que teve 150 mortes).
"Quem pegou dengue do tipo 3 uma vez não vai ter mais sintomas, por exemplo. Só que as crianças que nasceram de 2001 para cá são suscetíveis. Então, aumentou o grupo que pode pegar esse tipo de doença que começou a circular nesse período", afirma Ivo Castelo Branco, clínico infectologista e professor do Núcleo de Medicina Tropical da UFC (Universidade Federal do Ceará).
Aumento
Minas Gerais, com 77,5 mil casos de dengue notificados, e Ceará, com 66 mil, ocupam a segunda e a terceira posição, respectivamente, dos Estados com maior número de pacientes que contraíram a doença no ano passado.
Para Castelo Branco, os casos de infecção podem ser, na verdade, superiores ao estimado.
"Você multiplica esses números. Muita gente se trata sem procurar um médico. Se teve mais casos é porque teve mais notificação, porque é fácil fazer o exame", diz.
Segundo o especialista, a dengue é ainda um desafio para o governo. "Isso não é só no Brasil. O mundo mudou. Antes você jogava veneno nas florestas, e hoje, se fizer isso, é preso. A maioria das pessoas está nas cidades. Existem pneus, plásticos, coisas que não havia."
Ele afirma que é preciso realizar campanhas levando em conta as especificidades de cada região para se ter um combate efetivo. "Não é possível dizer à população do Ceará para não acumular água porque aqui passa muito tempo sem chover. O problema são as caixas d'água. No Sul, é o acúmulo de pneus, por exemplo".
Questionamento
Paulo Olzon, infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma, porém, que é preciso analisar os dados com cuidado.
"Não acho que a situação piorou. É preciso analisar os critérios de diagnóstico. Quando se desperta a consciência sobre a doença, a pessoa pode chegar no pronto-socorro e dizer que tem sintomas", diz.
Para Olzon, a questão cultural e a falta de rigor do poder público são fatores que fazem com que a doença seja um problema em tempos atuais.
"Nossa sociedade ainda é desorganizada. Quem não cuida do seu espaço compromete o dos vizinhos. O governo deveria atacar mais em vez de se defender. Quem ajuda a proliferar o mosquito poderia ser punido, mas isso é uma atitude antipática. Pode perder votos", diz.
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