Mariana Jungmann, Agência Brasil
BRASÍLIA - Uma política perversa de desassistência a pacientes psiquiátricos, especialmente dependentes químicos, está sendo implementada na saúde pública brasileira. Esse é o alerta que o coordenador do departamento de psiquiatria do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, de Porto Alegre, Carlos Salgado, faz depois de acompanhar esses pacientes por mais de 20 anos.
- Os leitos dos hospitais psiquiátricos são fechados com a promessa de se abrir um novo leito no hospital geral, o que não resolve a situação. Como tratar um usuário em abstinência de crack em um leito num hospital geral destinado meramente a pacientes com problemas psiquiátricos leves como depressão? - questiona o psiquiatra.
Segundo ele, pesquisa da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) com usuários de crack, 12 anos após o primeiro contato, mostrou que o índice de morte gira em torno de 24%.
-[Eles] morrem bem mais que a média que seus contemporâneos não usuários, mas é bem menos que esperávamos. Nós achávamos que todos iam morrer em 12 anos. Então, dá para tocar a vida mal, mas dá pra tocar.
Por isso, Salgado chama a atenção para a necessidade de melhorar o atendimento à saúde e de preparar a comunidade para lidar com esses usuários.
- Percebendo que essa é um onda alta e longa, é necessário que a comunidade se arme e se organize para atender a esses usuários, que demandam muita atenção do sistema de saúde. E o sistema de saúde não deve e não precisa se recusar a atender o usuário de crack.
Em seu trabalho no Hospital Presidente Vargas, Carlos Salgado cuida de 20 leitos destinados a psiquiatria. Desses, de acordo com ele, quatro ou cinco estão permanentemente ocupados por mulheres grávidas viciadas em crack, o que não é o ideal.
- Para um dependente químico, conviver com um paciente psicótico é um estresse a mais - explica.
Ainda segundo ele, um tratamento que tem surtido efeito são as reuniões em grupo no próprio ambulatório do hospital.
- Eu tenho exemplo de pacientes que estão no ambulatório comum de atendimento psiquiátrico e se beneficiam bastante do atendimento em grupo, além de um atendimento simples individual. Ou seja, nem todo usuário de crack vai demandar uma internação de longo prazo - completa.
COMENTÁRIO: A questão da atenção em Saúde Mental é típica do ditado "Nem tanto ao mar, nem tanto à terra"... Declarar que o problema se resume à oferta de leitos em hospitais psiquiátricos é partir para a simplificação excessiva da questão.
Qual seria o contraponto? Basta ver que tipo de internação e - PRINCIPALMENTE - que tipo de resultados estamos tendo na esmagadora maioria dos casos internados em hospitais psiquiátricos neste país. 70% ou mais das internações constituídas por alcoolistas e eventualmente por dependentes químicos, que ficam em média (no papel) 45 dias internados e com uma taxa absurda de reinternação, posto que INEXISTEM opções de tratamento/acompanhamento destes pacientes fora do hospital. No Paraná (segundo informação extra oficial) existem apenas DOIS CAPS do tipo III, que seriam os adequados para o tipo de situação descrita no artigo acima.
A questão ganha contornos dramáticos para as famílias que convivem com este tipo de situação, e requer atenção planejamento adequado e intervenção imediata.
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