Quem vai ficar com o apoio do PMDB, quer dizer, seus cinco minutos na televisão e seus palanques na campanha de 2010? A resposta a esta questão está na raiz de toda a crise política que se arrasta desde o início do ano e culminou na semana passada com a salvação de José Sarney pelo PT. Vai valer a pena?
No mesmo dia, dois senadores, Marina Silva e Flávio Arns - por razões bem diferentes, diga-se - anunciaram que deixariam o partido. No dia seguinte, Aloizio Mercadante foi convencido por Lula a revogar sua renúncia irrevogável à liderança no Senado para não aumentar ainda mais a crise nas relações entre o partido e o governo.
Diante de mais uma guerra interna desencadeada a partir deste episódio, os analistas de sempre repetiram a previsão feita outras vezes ao longo das últimas três décadas: é o fim do PT.
Tantas vezes anunciada nestas últimas três décadas, a morte do PT é desmentida eleição após eleição e nas pesquisas, inclusive as mais recentes, que colocam o partido em primeiro lugar na preferência dos eleitores brasileiros.
É como diz o leitor Simei de Almeida, em comentário enviado na tarde de segunda-feira: “Antes não prestava pelo que era, agora não presta pelo que não é mais”.
Às vésperas de comemorar 30 anos, no começo do ano eleitoral de 2010, parlamentares, dirigentes e militantes petistas vivem o eterno dilema de ser ou não ser governo quando chegam ao poder, do pequeno munícipio à Presidência da República.
Tem sido assim desde que o primeiro petista foi eleito. Muitos foram ficando pelo caminho, abrindo dissidências e até novos partidos, que nunca emplacaram.
No centro das discussões, desde o primeiro Encontro Nacional do PT, está sempre a política de alianças, depois que o partido descobriu que ninguém consegue se eleger nem governar sozinho.
Qual o preço e os limites destas alianças? Foi mais uma vez em torno desta questão que a jornalista Marilda Varejão, minha velha amiga e petista histórica, desencadeou um grande debate entre militantes, a partir do momento em que comunicou a mais de cem pessoas das suas relações que estava deixando o partido.
“Com imensa dor, mas com igual convicção, anexo a carta que estou levando hoje ao PT local. Sem mais, abraços, Marilda Varejão”, escreveu ela, e anexou a carta que reproduzo abaixo.
“Petrópolis, 23 de setembro de 2009
Ao Partido dos Trabalhadores
Há muito – mais precisamente desde quando, no “mensalão”, vi rolarem por terra ídolos como José Dirceu e Genoíno – venho pensando em fazer o que agora faço.
Entretanto, movida pelo desejo de separar o joio do trigo e, de alguma forma, ajudar a reconstruir o PT local, mantive-me fiel ao partido, tendo exultado quando a cidade elegeu Paulo Mustrangi como prefeito.
Entretanto, apesar de Lula declarar que petista é como flamenguista, que permanece fiel ao time independentemente das derrotas, creio que para tudo nesse mundo há um limite.
E não suporto mais ver esse homem – que acompanhei com ardor e paixão desde a greve dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, SP, em maio de 1978 –, em nome da “governabilidade”, jogar por terra a própria biografia e os ideais de tantos quantos depositaram nele a responsabilidade de construir um Brasil mais justo e mais digno.
O mais lamentável em tudo isso é que, apesar da decepção, não nego sua capacidade e louvo seus feitos: é mérito seu mais de 35 milhões de brasileiros terem saído da linha de pobreza e nosso país hoje ser conhecido e respeitado em todo o mundo.
Mas nem por isso Lula pode ser maior que o próprio PT nem fazer com que petistas históricos, como o senador Aloizio Mercadante se tornem alvo do achincalhe nacional.
Por tudo isso, em caráter irrevogável (irrevogável mesmo!), venho solicitar minha desfiliação partidária. Solitária em minha dor, saberei sempre a hora de estar ao lado das pessoas de bem que insistem na luta, como por exemplo o ministro Patrus Ananias. Mas me resguardo e estou a salvo dessa indigesta pizza que tentam jogar goela abaixo dos menos incautos".
Os amigos da Marilda se dividiram ao meio, apoiando ou discordando da sua decisão, e o debate continua nesta terça-feira pela internet.
Zélio Alves Pinto, o grande cartunista e artista plástico, escreveu: “Tá certo, Marilinha: concordo, mas discordo, porque contra fogo só fogaréo, senão acabam queimando a gente e, cansado de ser gato escaldado, eu fico. Não tenho carteirinha, apenas fé. E é nessa que eu vou. Apoio Marilda, você, e digo-lhe mais, até a Marina, mas não dá pra votar nela (vão fazer picadinho da santa), mas fico. Me desculpa, viu? Todo carinho, Zélio”.
No final da noite de ontem, ao ler a mensagem de Zélio, resolvi participar também do debate em que escrevi para os amigos o que penso a respeito deste assunto:
“Pessoal,
Não queria entrar nesta conversa, mas faço minhas as palavras do mestre Zélio, sem tirar nem por. É por isso que gosto sempre de ouvir os mais velhos…
Estou que nem ele: nunca entrei em partido nenhum, mas não perco a fé. Se não entrei, não tenho nem como sair… Como dizia outro velho amigo, o Carlito Maia: não sou do PT, mas o PT é meu partido. É e será. O resto é muito pior.
Qual PV vocês preferem: o PV do DEM e do Sirkys, no Rio, ou o PV do PSDB e do Penna em São Paulo? Coitada da minha amiga Marina…
Entre o Gabeira e o Roberto Freire, linhas auxiliares dos demo-tucanos, gente sem projeto e sem compromisso com o país, fico com o Lula, o melhor presidente (para a maioria da população) que este país já teve, desde Getúlio Vargas.
Daqui a 100 anos, quando falarem do Brasil, só vão lembrar destes dois."
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