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terça-feira, 1 de setembro de 2009

Oposição mira governo e acerta PT em cheio

Para Valter Pomar, opção por ampliar alianças trouxe problemas ao partido

Para Valter Pomar, opção por ampliar alianças trouxe problemas ao partido

Renato Godoy de Toledo no Brasil de Fato


As denúncias da oposição contra o presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) visavam transferir uma crise do Congresso para alguns metros dali, no Palácio do Planalto. Até o momento a missão não foi cumprida, tendo apenas resvalado na ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com acusações que ainda carecem de comprovação.

A oposição mirou o governo como um todo, mas atingiu apenas parte de seu objetivo. Acertou em cheio o principal partido de sustentação do governo, o PT. O dia 18 de agosto foi agitado em Brasília. Com determinação do Planalto, Sarney foi absolvido. O líder petista no Senado, Aloizio Mercadante, disse que não aceitaria a posição do partido em prol do presidente da casa. Via Twitter, anunciou que renunciaria à liderança. Mas, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia seguinte, voltou atrás.

Mas os danos não pararam por aí. Ainda no dia 18, o senador Flávio Arns, então do PT paranaense, anunciou que se sente envergonhado pela postura do partido e anunciou sua desfiliação. Por motivos “extra-crise”, a senadora Marina Silva tornou pública a sua decisão de sair do PT e sinalizou que deve mesmo ser candidata à presidência pelo PV, partido em que se filiou no último domingo (dia 30). Além de perder uma senadora com notoriedade, o PT enxerga em Marina uma concorrente que pode atrair parte do eleitorado que votaria em Dilma.

Bandeira da ética

Desde 1995, quando a então Articulação Unidade na Luta – hoje reunida no campo Construindo um Novo Brasil – retomou o controle do PT, as bandeiras socialistas começaram a perder espaço no âmbito partidário, derrotando a posição dos grupos mais à esquerda. Assim, o principal ponto de referência das campanhas petistas passou a ser a conduta ética de seus parlamentares. De fato, ocorreram alguns exemplos, no início desta década, em que membros do PT notabilizaram-se por denunciar esquemas de corrupção, como em São Paulo, durante a gestão de Celso Pitta e na cidade de Embú das Artes (SP), onde um único vereador do partido denunciou e cassou todos os seus colegas.

Dentro dessa política, incluía-se uma flexibilidade em termos de aliança e de novas adesões ao partido. Algumas figuras estranhas à história do PT ingressaram na agremiação, como o senador Delcídio Amaral (MS), detentor de milhares de hectares de terra, e o ex-governador de Roraima, Flamarion Portela, que foi cassado por corrupção (em 2004) e tem uma postura notadamente anti-indigena.

Uma organização estritamente parlamentar

Para o sociólogo Francisco de Oliveira, professor aposentado da Universidade de São Paulo e ex-petista, as relações entre o governo e José Sarney demonstram a equiparação do PT aos demais partidos. “Há uma diminuição na representatividade do PT na sociedade. Finalmente, o partido entrou no grande jogo dos partidos que só vivem no parlamento. Com isso, digamos que a viagem redonda do PT se consumou: partiu da contestação desse procedimento tradicional, deu a volta e incorporou-se ao modelo que antes criticava”, analisa.

Oliveira também iguala o comando de Lula sob o partido ao tradicional mandonismo da política brasileira. “O PT vai continuar na política como um grupo que se organiza para o poder. Assim como o PMDB, por exemplo. A maneira como o presidente Lula age sobre o partido é caudilhesca. Assim como a maneira que ele se livra das pessoas incomodas. Ele acabou de humilhar um senador [Mercadante] com importantes serviços ao partido”, considera.

Na opinião do sociólogo, a maneira dura como o presidente dirige o partido resultou na escassa criação de novos quadros para o petismo. “Aquele que não obedece, ele destrói. Por isso que ele não tem sucessor. Para a candidatura à presidência, ele buscou um quadro que não é tradicional no partido [Dilma veio do PDT em 2000]. Em São Paulo, onde o partido nasceu, não há candidato. E o senhor Luiz Inácio Lula da Silva tem uma grande responsabilidade nisso”, avalia.

Filiações e posturas

A flexibilização em acordos partidários e a mudança de perfil apontada por Oliveira, tem trazido frutos ao PT. O senador Flávio Arns é fundador do PSDB e tornou-se petista no início desta década, após convite do diretório regional do Paraná. Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do partido, critica filiações como a de Arns. “O senador Flávio Arns nunca deveria ter entrado no PT. Sua conduta sempre foi tucana. Sua saída é benéfica e demonstra o erro dos que querem ampliar o PT, atraindo pessoas sem identidade ideológica”, defende.

Pomar também critica a postura instável de Mercadante, pelo fato de este ter sido um dos arquitetos da ampliação do leque de alianças do PT. “A conduta de Mercadante foi errática e errada. A 'escolha de Sofia' que tivemos que fazer no Senado é em grande medida produto de uma estratégia construída desde 1995, estratégia da qual Mercadante é um dos construtores. Sempre dissemos que esta estratégia tinha seus custos, inclusive eleitorais. O senador Mercadante, pelo visto, só descobriu isto agora, mas sua reação frente a isto foi errada, pois ele sabe muito bem que ruim com Sarney, pior com Marconi Perillo e a tucanagem”, analisa.

Dilma como alvo

A oposição tem como principal foco eventuais denúncias que envolvam a ministra Dilma, candidata do PT à sucessão. Tudo que foi levantado contra ela até o momento seria uma reunião entre ela e a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira. Procurada pelo jornal Folha de S. Paulo, Lina afirmou que, em reunião com Dilma, a ministra teria pedido celeridade nas investigações da Receita sobre Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.

A ex-secretária – esposa de um ex-ministro de FHC – foi convocada a depor no Senado. Inquirida, disse não lembrar da data da reunião, mas recordou dos trajes da ministra. “A oposição está em campanha e seu alvo é o PT e Dilma. As acusações feitas contra ela são patéticas: a própria acusadora, além de ter problemas de memória, afirma que o suposto pedido da ministra não tinha nada de irregular. Quanto ao PT, o problema é político: a oposição, que quando era governo tinha aliança com o PMDB, acusa o PT pelos erros e crimes de peemedebistas”, diz Pomar.

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