Orientação sexual e informação são os métodos mais eficientes contra a gravidez precoce
Sem saber como será criar as três filhas, Lilian Moraes da Silva planeja voltar a estudar no próximo ano. Precisou se afastar das aulas da 6.ª série logo aos dois meses de gravidez, considerada de alto risco. Orientada pelo médico, fez todos os exames necessários e o pré-natal até o sétimo mês de gestação, quando as meninas nasceram. Prematuras, ainda não puderam deixar a UTI neonatal do Hospital Costa Cavalcanti, em Foz do Iguaçu, e não há previsão de quando receberão alta. “A Lilian sempre teve o exemplo dentro de casa e tinha motivos de sobra para evitar a gravidez tão cedo. De agora em diante, a vida dela será toda para as filhas. Muitos sonhos que ela tinha acabaram”, observa Rosângela.
Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Ampliar imagemLilian e Rosângela, mãe e avó, observam Melissa, uma das trigêmeas nascidas em Foz do Iguaçu: história repetida
A falta de orientação e o início da vida sexual cada vez mais cedo são os desafios para conter os índices de gravidez precoce. O trabalho de prevenção tem mostrado resultados positivos. No Paraná, a redução no número de adolescentes grávidas foi de 35% entre 1998 e 2008, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano passado, cerca de 40 mil meninas entre 15 e 19 anos declararam ter filhos, contra 62,3 mil em 98. No Brasil, a redução foi menor, 18,2%.
Para manter o ritmo de queda, o trabalho de orientação é essencial. “A alternativa para enfrentar essa realidade tem se baseado em duas frentes: na educação preventiva e no acesso facilitado a métodos contraceptivos”, explica a chefe da Divisão de Promoção da Saúde da Mulher, Criança e Adolescente da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Patrícia Torres Matille. No Paraná, 54 unidades de saúde para a Atenção Integral à Mulher e à Criança estão em funcionamento. Até o final de 2010, o número deve triplicar.
Cuidado diário
Em Cascavel, alunos da 7.ª série do Colégio Estadual Santa Cruz estão participando do projeto Planejando o Futuro. Em uma das dinâmicas de prevenção contra a gravidez na adolescência, os estudantes receberam um ovo de galinha, que deveriam cuidar como se fosse um filho. Segundo a coordenadora, Mirian Nara Lopes, esse tipo de exercício faz com que percebam o valor da responsabilidade e o quanto algo inesperado e totalmente dependente deles pode dificultar a realização de tarefas simples.
“Crianças não estão preparadas para cuidar de crianças”, reforça a psicóloga especialista em orientação familiar, Renata Teixeira Lima. “O ser humano, desde quando nasce até a juventude, é dependente, em menor ou maior grau, de um adulto que possa orientá-lo, educá-lo e ter afeto por ele.” Se, por qualquer motivo, uma dessas fases for prejudicada, o jovem perde uma referência importante e que não poderá passar adiante, criando um comportamento repetitivo e muitas vezes irreversível, com consequências graves.
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