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domingo, 8 de novembro de 2009

Gravidez na adolescência

Orientação sexual e informação são os métodos mais eficientes contra a gravidez precoce

Fabiula Wurmeister, da sucursal da Gazeta do Povo em Foz do Iguaçu

O nascimento de trigêmeos já seria o bastante para mudar a rotina da casa. A ocorrência rara ganha outros contornos com a idade dos pais: a garota de 14 anos e o rapaz de 16. Esta é a terceira vez que a gravidez precoce – e na mesma idade – acontece na família. A mãe da adolescente – avó de Melissa, Micaela e Marcela –, Rosângela Moraes da Silva, tem 28 anos, e a bisavó das três recém-nascidas, 46.

Sem saber como será criar as três filhas, Lilian Moraes da Silva planeja voltar a estudar no próximo ano. Precisou se afastar das aulas da 6.ª série logo aos dois meses de gravidez, considerada de alto risco. Orientada pelo médico, fez todos os exames necessários e o pré-natal até o sétimo mês de gestação, quando as meninas nasceram. Prematuras, ainda não puderam deixar a UTI neonatal do Hospital Costa Cavalcanti, em Foz do Iguaçu, e não há previsão de quando receberão alta. “A Lilian sempre teve o exemplo dentro de casa e tinha motivos de sobra para evitar a gravidez tão cedo. De agora em diante, a vida dela será toda para as filhas. Muitos sonhos que ela tinha acabaram”, observa Rosângela.

Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Christian Rizzi/Gazeta do Povo / Lilian e Rosângela, mãe e avó, observam Melissa, uma das trigêmeas nascidas em Foz do Iguaçu: história repetida Ampliar imagem

Lilian e Rosângela, mãe e avó, observam Melissa, uma das trigêmeas nascidas em Foz do Iguaçu: história repetida

A falta de orientação e o início da vida sexual cada vez mais cedo são os desafios para conter os índices de gravidez precoce. O trabalho de prevenção tem mostrado resultados positivos. No Paraná, a redução no número de adolescentes grávidas foi de 35% entre 1998 e 2008, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano passado, cerca de 40 mil meninas entre 15 e 19 anos declararam ter filhos, contra 62,3 mil em 98. No Brasil, a redução foi menor, 18,2%.

Para manter o ritmo de queda, o trabalho de orientação é essencial. “A alternativa para enfrentar essa realidade tem se baseado em duas frentes: na educação preventiva e no acesso facilitado a métodos contraceptivos”, explica a chefe da Divisão de Promoção da Saú­de da Mulher, Criança e Adoles­cente da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Patrícia Torres Ma­­tille. No Paraná, 54 unidades de saúde para a Atenção Integral à Mulher e à Criança estão em funcionamento. Até o final de 2010, o número deve triplicar.

Cuidado diário

Em Cascavel, alunos da 7.ª série do Colégio Estadual Santa Cruz estão participando do projeto Plane­jando o Futuro. Em uma das dinâmicas de prevenção contra a gravidez na adolescência, os estudantes receberam um ovo de galinha, que deveriam cuidar como se fosse um filho. Segundo a coordenadora, Mirian Nara Lopes, esse tipo de exercício faz com que percebam o valor da responsabilidade e o quanto algo inesperado e totalmente dependente deles pode dificultar a realização de tarefas simples.

“Crianças não estão preparadas para cuidar de crianças”, reforça a psicóloga especialista em orientação familiar, Renata Tei­xeira Lima. “O ser humano, desde quando nasce até a juventude, é dependente, em menor ou maior grau, de um adulto que possa orientá-lo, educá-lo e ter afeto por ele.” Se, por qualquer motivo, uma dessas fases for prejudicada, o jovem perde uma referência importante e que não poderá passar adiante, criando um comportamento repetitivo e muitas vezes irreversível, com consequências graves.

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