Do blog do Alon:
Faz tempo que não falo, para valer, mal da oposição nesta coluna. Para não ficar me repetindo (andei fazendo isso uma certa época, e colunistas políticos não devem cair no ramerrame) e também porque, convenhamos, não chega a ser um prodígio de coragem e criatividade bater na oposição brasileira nos dias que correm.
2009 está chegando ao fim. Vamos fazer um esforço e tentar lembrar algo produtivo que a oposição tenha feito nos últimos 12 meses. Eu, sinceramente, não me recordo. Se estiver sendo injusto, meu e-mail está à disposição.
PSDB e Democratas lutaram para instalar a CPI da Petrobras. O objetivo era impedir que a empresa continuasse —sempre segundo a oposição— a servir aos propósitos políticos do PT e aliados deste. A CPI foi finalmente instalada, e o que aconteceu? Nada. Morreu de morte morrida, como diria o João Cabral. Nem foi preciso o governo matá-la.
Diz a oposição que o desfecho é produto da acachapante maioria governista. Bem, mas esse é um dado da realidade, anterior à CPI. Parece o governo colocando a culpa do apagão nos fenômenos meteorológicos. Por falar nisso, você conhece alguém da oposição que ainda esteja a cobrar das autoridades uma explicação definitiva sobre por que faltou luz naquele dia?
Um ano depois da eclosão da crise planetária das finanças, a economia começa a recuperar-se. A oposição teve esse tempo todo para apertar o governo nas taxas de juros, no spread. Poderia ter exigido mais rapidez e eficiência no ataque ao estrangulamento do crédito. Poderia, mesmo antes da crise, ter assumido a defesa de quem pega dinheiro emprestado em banco e é esfolado. Ou denunciado a violência das tarifas cobradas do cliente bancário.
Você poderia me dar o nome de pelo menos um parlamentar do PSDB ou do Democratas que tenha tomado a si a tarefa de adotar o lado do cidadão, trabalhador ou empresário, na guerra contra a escravidão financeira? Que tenha se oferecido para a missão de organizar a resistência? Já que hoje é domingo, quem sabe você aproveita o tempo livre e me ajuda a fazer essa pesquisa. Mas reserve um tempo razoável.
São exemplos. Poderia citar outros, como o caso José Sarney. O importante é que o comportamento da oposição brasileira segue um padrão, que lembra os “coelhos” das corridas no atletismo. Muitos flashes e vigor na largada, total perda de fôlego na chegada. Falta tudo. Método, persistência, organização. Os projetos do pré-sal estão em votação no Congresso. Alguém conhece a opinião consolidada da oposição a respeito?
É na oposição que os partidos e os políticos se credenciam ao exercício do poder. É como um simulador de voo: ali o piloto mostra se tem ou não as qualificações necessárias para pilotar avião de verdade, cheio de gente dentro. Diz-se de Luiz Inácio Lula da Silva que, antes de ser presidente, nunca teve experiência administrativa, fora a passagem pelo sindicato. Falso. Seu simulador de voo foram os muitos anos em que liderou, organizou e fez crescer o PT na tarefa de infernizar a vida do governante de plantão.
Por que a oposição brasileira não consegue fazer oposição? Talvez porque os interesses que mais facilmente defenderia estão bem contemplados no governo Lula. Incluem-se aí os felizardos que arremataram as estatais na era FHC, os bancos, as empreiteiras. Também por isso, fazer oposição de verdade ao governo do PT não seria trivial. Exigiria um ajuste estratégico, aproximar-se de demandas que se opõem às dominantes. Daria trabalho, implicaria sacrifício. Menos ar condicionado e mais barro amassado. Muito mais fácil é esperar sentado pelo megaescândalo.
Infelizmente para a oposição, quando o “big one” finalmente aconteceu foi na turma dela mesma.
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