ANDRÉ MONTEIRO
da Folha Online
A Polícia Civil prendeu nesta quarta-feira duas pessoas acusadas de crime contra a saúde pública em uma ação que fechou uma fábrica clandestina de produtos cirúrgicos na zona sul de São Paulo. Uma tonelada de material foi apreendida. Os presos foram encaminhado ao DPPC (Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania).
Polícia investiga clientes de fábrica clandestina de material cirúrgico
Polícia fecha fábrica clandestina e apreende 1 t de material cirúrgico
Além dos produtos clandestinos, a polícia afirma as condições de higiene eram precárias na fábrica, o que pode indicar risco para o paciente. "As condições sanitárias eram inexistentes. Pode ter ocorrido desde uma simples infecção hospitalar até mesmo a morte do paciente que fez uso deste equipamento", disse Adilson Bezerra, chefe de inteligência da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Para o delegado da 2ª Delegacia de Saúde Pública do DPPC, Anderson Gianpaoli, os produtos são "invasivos, utilizados em seres humanos, em hospitais, portanto a toxidade, dependendo do contato, pode causar sérios riscos à saúde".
A polícia apreendeu no local produtos como anéis para cirurgia bariátrica, cânulas, tubos para entubação e equipamentos para ventilação mecânica usados em UTIs. A fábrica não tinha registro na Anvisa nem na vigilância estadual. Segundo a polícia, uma parte da produção era exportada para países como Alemanha, Nova Zelândia, Uruguai e Venezuela.
"A polícia entende que que não houve nenhum tipo de controle por parte da distribuidora já identificada no que diz respeito à compra destes produtos. Notamos que as empresas não estão muito preocupadas com o controle de qualidade, a forma como estes produtos são feitos e principalmente se estes produtos são atestados pelos órgão sanitários para serem comercializados", disse Gianpaoli.
A investigação aponta que a fábrica New Life Tubos e Conexões Ltda. originalmente fabricava produtos usados na construção civil, mas começou a produzir equipamentos hospitalares. Informações preliminares levantadas por policiais mostram que a empresa atuava nesta área havia dez anos.
Na fábrica também foi encontrado plástico reciclado, o que indica que os produtos poderiam ser feitos com a matéria prima, que é proibida pelo órgão federal.
A polícia também apreendeu notas fiscais que mostram que os produtos eram vendidos a distribuidoras de equipamentos médicos --em apenas um contrato uma distribuidora comprava R$ 25 mil por mês. Os materiais clandestinos eram revendidos para hospitais e clínicas de todo o país. Agora as investigações vão se concentrar nos possíveis clientes destas distribuidoras.
Presos
João Leonidas Vieira da Silva, 33, responsável pelo setor de compras de uma distribuidora de equipamentos médicos, foi preso em flagrante, afirma a polícia. Mais cedo a polícia prendeu Luis Martinez Idaldo Junior, 36, proprietário que morava nos fundos da fábrica. Os dois foram presos sob acusação de falsificar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, que é considerado crime hediondo e tem pena prevista de 10 a 15 anos.
Na fábrica foram encontrados quatro funcionários trabalhando em péssimas condições de higiene. Havia mofo e poeira, e o único banheiro era uma balde adaptado. "Uma oficina mecânica era mais limpa do que a fábrica onde foram encontrados esses produtos para a saúde", disse Bezerra. A fábrica foi lacrada.
Segundo a Anvisa, sua central de atendimento recebeu uma denúncia anônima e acionou o setor de investigações. Policiais federais que trabalham na agência acionaram a Polícia Civil paulista e começaram a investigação, que durou cerca de 15 dias.
Segundo a polícia, os advogados dos presos não quiseram se manifestar.
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