Luís Fernando Veríssimo
É difícil tratar com a seriedade que ela merece de uma questão como os efeitos da flatulência na biosfera.
E no entanto pum de vaca é responsável por boa parte da emissão de gases que ameaçam nosso equilíbrio ecológico e provocam o aquecimento global.
Há mesmo quem diga que o pum é a principal contribuição de países como o Brasil, com seus grandes rebanhos bovinos e ovinos, para o problema.
Mas falou-se pouco em flatulência em Copenhague. E ninguém falou pelos bovinos e ovinos.
Se tivessem um porta-voz atuante na reunião, as vacas poderiam ter dado um subsídio valioso à defesa dos países ricos que resistem a mudanças nos seus hábitos poluidores.
A defesa das vacas seria a Natureza. É da sua natureza darem puns. Não podem se conter. Se pudessem controlar a própria flatulência não seriam vacas, seriam damas da sociedade.
Da mesma maneira, é da natureza dos países industrializados sacrificarem tudo à sua volta, inclusive a própria saúde, por índices sempre maiores de crescimento e lucro.
Se contrariassem a sua natureza não seriam o que são. Vacas e países desenvolvidos teriam o mesmo argumento em Copenhague: não poluímos por falta de caráter, mas porque é assim que fomos feitos.
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Tem gente que não acredita no tal aquecimento global provocado pelo homem e a vaca.
Há os que dizem que não há provas científicas suficientes ou convincentes disto e há os que simplesmente negam as provas, como fazem os que negam o Holocausto ou a evolução.
Mas alguns eco-céticos surpreendem com sua posição. Por exemplo: Alexander Cockburn, que escreve regularmente na revista “The Nation” e diz que toda essa campanha contra as emanações de combustíveis fósseis que causariam o efeito estufa tem por trás o lóbi da indústria nuclear, pois o que está em jogo é quem dominará a energia do planeta no futuro.
Como todas as teorias conspiratórias esta depende, para ser aceita, de uma certa suspensão do bom senso.
Cockburn tem sólidas credenciais como crítico do capitalismo e seus detritos e em nada se parece com fantasiosos negadores do genocídio nazista ou criacionistas anti-Darwin, mas para acreditar na sua tese é preciso ignorar todas as evidências de mudança climática que, literalmente, caem sobre a nossa cabeça, e atribuir ao lóbi nuclear um poder colossal.
De qualquer maneira, a dúvida está no ar. Junto com outros poluentes.
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