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segunda-feira, 1 de março de 2010

As placas se movem: Dilma já empata com Serra


Fausto, no Jornal Olho Vivo


por Rodrigo Vianna, em Escrevinhador (reproduzido no Vi o Mundo)

O Mundo e a América Latina, em especial, se entristecem com as notícias sobre mais um terremoto arrasador - dessa vez  no Chile.
Passei o sábado numa reunião, para criar uma associação de empresários e empreendedores de comunicação de linha progressista. Dentro da sala, num hotel paulistano, vez por outra aparecia alguém com mais notícias tristes sobre o terremoto. Tecnicamente, já sabemos o que se passou: placas tectônicas se chocaram, bem perto da costa chilena, o que pode provocar também tsunamis em todo o Pacífico.
No fim da tarde, outras placas  se moveram - mas dessa vez na política brasileira. Na sala onde eu estava, chegaram os números da nova pesquisa DataFolha: Dilma colou em Serra.
A "FolhaOnline", até tarde da noite, ainda escondia os detalhes da pesquisa. A idéia é forçar o povo a comprar o jornal. Ok. Gastei meus 4 reais. E tenho aqui o diário impresso.
Os números são avassaladores.
No cenário mais provável, a situação é a seguinte: Serra 32% (contra 37% em dezembro), Dilma 28% (23% em dezembro), Ciro 12% (13% em dezembro) e Marina 8% (tinha os mesmos 8% em dezembro).
A manchete do jornal destaca esse quadro: "Dilma cresce e já encosta em Serra".
Ok. Está correto.
Mas, quando digo que os números são avassaladores, refiro-me a outras variáveis. Vejamos...
1) Rejeição - Serra é agora o mais rejeitado: 25% não votariam nele de jeito nenhum, contra 19% em dezembro.
2) Voto espontâneo - Dilma está em primeiro lugar, com 10%; com os mesmos 10% aparece... Lula!  Serra é apenas o terceiro, com 7%; em quarto aparece o "candidato de Lula", com 4%, em quinto está Aécio, com 1%.
Reparem que a soma de Lula/Dilma/"candidato de Lula" alcança 24%, contra 8% de Serra/Aécio.
3) Transferência de Voto - 42% dizem que votariam num candidato apoiado por Lula; 26% dizem que "talvez" votariam em quem Lula indicar; e só 22% afirmam que "não" votariam no candidato de Lula.
4) Conhecimento do candidato - Serra é conhecido por 96%, Dilma é conhecida por 86%.
Resumo da ópera: há uma avenida aberta para que Dilma siga a crescer.
À medida que ela se torne mais conhecida, a tendência é que a intenção de voto em Dilma se aproxime dos 42% - que é o total de eleitores inclinados a escolher um candidato indicado por Lula.
A "Folha" escolheu não brigar com os números. Com uma exceção: o jornal diz que "é impreciso dizer que o levantamento indica um empate estatístico". Êpa. Aí, não. Estamos, sim, diante de um "empate técnico", no limite da margem de erro.
Mas isso é detalhe.  O que importa é a tendência, anotada também na simulação de segundo turno: a diferença entre Serra e Dilma desapareceu: Serra tem 45%, Dilma tem 41%. Em dezembro, a vantagem de Serra era de 15 pontos. Agora, evaporou.
Diante disso, a colunista Eliane Cantanhêde parece desesperada. Na página 2 do jornal, ela escreve o texto "Ou vai ou Racha", com destaque para a seguinte pérola: "a eleição atingiu o ponto ideal para a definição de Aécio Neves: sempre se soube, mas nunca tinha ficado tão evidente o quanto sua candidatura a vice é fundamental para a oposição".
"Ponto ideal" pra quem, cara pálida? Cantanhêde quer empurrar Aécio pro fogo. Quer que ele perca agarrado a Serra.
Vamos raciocinar friamente. Se Aécio aceitar ser vice, e Serra perder (o que parece provável, dado que a soma dos votos espontâneos nos dois fica em um terço do total de votos espontâneos para Dilma+Lula+candidato do PT), o mineiro perde junto. Se Aécio aceitar a vice,  e Serra ganhar, Aécio vira sócio minoritário da vitória.
Os jornalistas serristas, depois de espalhar por aí que Aécio bate na namorada e tem hábitos pouco ortodoxos, agora querem a ajuda do mineiro para salvar Serra.
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