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sábado, 13 de março de 2010

Revista em quadrinhos alerta para riscos do trabalho agrícola na infância



Alertar crianças entre 9 e 10 anos de idade para os riscos que o trabalho infantil agrícola pode trazer à saúde é o principal objetivo da publicação Descobrindo a agricultura com o jovem Neno, desenvolvida pelo pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Frederico Perez (Ensp/Fiocruz). A revista em quadrinhos retrata situações nas lavouras, observadas por meio da produção de um trabalho sobre os riscos relacionados ao uso do agrotóxico e identificação de grupos mais vulneráveis de exposição às substâncias.
 Perez: A grande maioria das escolas de área rural do país tem aulas até o quinto ano. Quando chega esse momento, a criança fica sem opção de estudo. Ou vai para a cidade estudar ou começa a trabalhar<BR>
(Foto: Viriginia Damas/Ensp) 
Perez: A grande maioria das escolas de área rural do país tem aulas até o quinto ano. Quando chega esse momento, a criança fica sem opção de estudo. Ou vai para a cidade estudar ou começa a trabalhar
(Foto: Viriginia Damas/Ensp) 


Em 2008, o Brasil alcançou a marca de maior consumidor de agrotóxicos no mundo, principalmente pela produção das grandes monoculturas exportadoras - com destaque para a produção da soja na região Centro-Oeste. A partir desse dado, o Ministério da Saúde desencadeou uma série de ações relacionadas à vigilância das populações expostas e, junto com o CNPq, financiou projetos de pesquisa sobre o tema. A Ensp, por meio de seu Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh), foi contemplada em um dos editais com o trabalho que avaliou os riscos relacionados ao uso de agrotóxicos nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, coordenado pelo pesquisador Josino Costa.
O trabalho de avaliação pretendia identificar os grupos mais vulneráveis à exposição. De acordo com Perez, há uma fase que preocupa muito os pesquisadores: o momento em que as crianças chegam ao quinto ano do ensino fundamental, a antiga quarta série. "A grande maioria das escolas de área rural do país tem aulas até o quinto ano. Quando chega esse momento, a criança fica sem opção de estudo. Ou ela vai para a cidade estudar, o que fica complicado por conta da distância e da falta de transportes, ou ela começa a trabalhar. Portanto, trata-se de uma idade em que jovens, na faixa dos 9 e 10 anos de idade, estão entrando no processo de trabalho agrícola e manipulando o agrotóxico. A revista é destinada às crianças dessa faixa etária e trabalhamos com relação aos riscos do uso da substância".
A revista narra a história de um jovem chamado Neno, de 10 anos, morador de Campo Feliz, um pequeno vilarejo onde a principal atividade é a agricultura. O jovem Neno é filho de dois agricultores e, apesar da pouca idade, já trabalha na lavoura com os pais. "A revista traz duas mensagens principais. A primeira conta que as tarefas que as crianças realizam para ajudar seus pais se tratam, na verdade, de trabalho infantil. A outra fala dos riscos que a atividade traz à saúde".


A parte de educação, percepção de risco e o roteiro da história foram desenvolvidos por Perez. De acordo com o pesquisador, foram realizados estudos de percepção de riscos por meio de desenhos, nos quais as crianças relatavam o processo de trabalho dos pais. Com base neles, foram elaboradas atividades, como uma feira de ciências e um teatro com os menores. "O teatro serviu de inspiração para o roteiro da revista. Grande parte das historias vem de situações de trabalho que identificamos no decorrer do projeto".
O trabalho foi financiado pelo CNPq, e a ideia é começar a distribuição pelas áreas em que a Ensp desenvolve projetos. Em seguida, será realizada uma avaliação sobre a aceitação da mídia e entendimento da mensagem. "O próximo passo será desenvolver outra mídia para adolescentes. Teremos outra linguagem e um formato de acordo com esse público".

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