Em um jogo de vídeo game pela internet, “patriotas” devem reverter um golpe de Estado executado por Obama depois de uma derrota eleitoral nas eleições legislativas deste ano
David Brooks
de Nova Iorque (EUA)
La Jornada (reproduzido no Brasil de Fato)
O presidente Barack Obama dá um golpe de Estado, dissolve a Constituição e o país para estabelecer a União da América do Norte com a ajuda do presidente mexicano, Felipe Calderón, e do primeiro ministro canadense, Stephen Harper.
Tudo começa quando Obama decide manter conversas clandestinas durante 2010 com Calderón e Harper. Diante de uma massiva derrota eleitoral dos democratas nas eleições legislativas deste ano, em parte devido às suspeitas sobre tais conversas secretas, Obama decide atuar antes que a nova maioria conservadora assuma nas duas casas do Congresso.
Ele anuncia que o novo Congresso não se reunirá, dissolve o país, instaura a União da América do Norte e proíbe as armas de fogo, em acordo com um novo tratado global da Organização das Nações Unidas.
Emprega as tropas de defesa civil emergencialmente, enquanto figuras públicas conservadoras (sobretudo as da televisão e do rádio) começam a desaparecer ou ser assassinados em campos de concentração do governo. Obama se declara o “lendário imã perdido”. Segundo o jogo: “O golpe marxista começou! Era óbvio que os empregados e czares de Obama eram seguidores de Marx”.
Nesse Estado policialesco, tudo depende de patriotas rebeldes que terão que buscar a forma de resgatar o país. Milhões se revoltam e assim começa a segunda Revolução. Dentre os inimigos, estão líderes democratas no Congresso e altos funcionários, além de nacionalistas negros, como os Tigres Negros, que são algo como a guarda pessoal de Obama.
Criadores libertários
Tudo isso é um jogo de vídeo online criado por libertários conservadores do Brooklyn há uns dois meses. O jogador tem a responsabilidade de se somar à revolução para combater as forças antipatrióticas que roubaram o país. O jogo se chama “2011: Obama’s Coup Fails” – 2011: Fracassa o golpe de Obama.
Mas não se trata apenas de um jogo. O que o torna mais sério é sua conexão com aquele que é o movimento de base ultraconservadora cada vez mais poderoso e diverso no país, e que já provoca preocupação nas cúpulas, e até mesmo impacto político nacional. Ainda que os criadores do jogo afirmem que tudo não passa de entretenimento cheio da ação, com um tom satírico, eles advertem que se os acontecimentos atuais persistirem, o golpe de Obama 2011 poderia, de fato, se converter em um capítulo escuro da história estadunidense.
Os programadores afirmaram em entrevistas – na revista Wired e Mother Jones – “que detestamos igualmente os republicanos e os democratas”, e que farão outro jogo em que o objetivo será emboscar George W. Bush (ainda não cumpriram com essa promessa).
Ou seja, justamente o que pensa uma ampla corrente deste movimento, o mesmo que conseguiu o triunfo na eleição legislativa especial para a cadeira vaga do senador Edward Kennedy, quando um desconhecido conservador triunfou sobre a poderosa máquina do Partido Democrata, causando temor por parte do governo Obama e a liderança do Congresso. Também são os que conseguiram realizar manifestações nacionais de dezenas de milhares em Washington, e também têm sido a cara popular dos esforços para derrotar e debilitar a agenda política de Obama em diversas cidades do país.
Movimento crescente
Embora inicialmente taxados como extremistas loucos por portarem mantas e dizerem consignas que acusam Obama de ser socialista, muçulmano clandestino, hitleriano, estrangeiro africano, inimigo da liberdade etc, o fato é que os números e sua influência, assim como sua organização descentralizada, continuam crescendo, com apoio de pessoas mais moderadas que também acreditam que Washington e Wall Street seqüestraram o país, e que o governo não só não representa seus interesses, como é inimigo da liberdade e dos valores estadunidenses.
São identificados como o movimento “Tea Party”, mas não é um partido, pois a palavra party também significa “festa”ou “reunião social”, e é uma referência a uma ação de desobediência civil ocorrida no início da revolução de independência e realizada pelos colonos contra a imposição de impostos sobre o chá por parte da Inglaterra.
Os colonos atacaram navios de carga britânicos no porto de Boston, jogando baús de chá na água. Foi parte da rebelião que levantou a palavra de ordem “sem representação, nenhum imposto”, ou seja, se recusavam a pagar impostos para um governo em que os cidadãos não tinham representação política. É a mesma consigna que se aplica agora.
Contra qualquer governo
Todos os dias, há novas associações que se identificam como parte do movimento Tea Party, deixando os democratas cada vez mais assustados, mas inquietando também os republicanos, já que a ira contra os governantes de Washington é geral, não importando necessariamente o partido.
De fato, agora, os dirigentes republicanos estão tentando incorporar essas bases, em vez de se impor sobre elas. Na verdade, algumas pesquisas recentes indicam que, se existisse um Partido do Chá, sua popularidade seria maior do que a que goza o Partido Republicano, afirma o jornalista Ben McGrath em uma excelente reportagem sobre as dimensões e correntes do movimento para a revista The New Yorker.
Depois da derrota dos democratas em Massachusetts, bastião dos Kennedys, é evidente como a presidência de Obama e outros analistas progressistas subestimaram a força do movimento, assim como a extensão do ressentimento que o nutre. Ao focarem nos exageros, tirando sarro das brigas internas do Tea Party, ignoraram sua gradual consolidação, agrega McGrath.
Este movimento tomou emprestadas muitas das táticas dos movimentos progressistas das últimas décadas. Alguns o qualificam como o primeiro movimento populista de direita destes tempos. De repente, se inseriu na dinâmica da política nacional. Ou seja, não mais apenas um jogo. (veja-o em: www.usofearth.com/2011-obamas-coup-fails.php).
Tradução: Dafne Melo
Para entender: O conservadorismo libertário ou libertarismo conservador é um termo que descreve certas ideologias políticas que procuram fundir as ideias libertárias e conservadoras no que diz respeito à necessidade de haver um “governo pequeno” (ou a ausência de governo) e um estilo de vida tradicional mas que respeite a liberdade individual.
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