Estamos no mês do aniversário de Brasília. Muitos têm perguntado se há o que comemorar neste quinquagésimo ano de construção da Capital Federal. Talvez para os mais descrentes, não. Para os que realmente amam esta cidade, a dor em vê-la ser motivo de chacota para todo o país tem a força arrasadora de quebrantar o espírito. No entanto, creio que, como brasilienses por opção, devemos nos propor um desafio maior: celebrar intensamente nosso amor por Brasília, nosso compromisso cidadão com o seu passado, presente e futuro.
Festejar os 50 anos de Brasília é encarar sua realidade política e atuar para construir, com decência, democracia e compromisso coletivo, os próximos 50 anos. O grupo político local vencedor das eleições de 2006, e que já estava no poder desde os governos de Joaquim Roriz, é protagonista do mais bem documentado escândalo de corrupção da história brasileira. Exaltar o aniversário de Brasília é dizer para o restante do Brasil que nós não compactuamos com isso. Que nós, a maioria do povo de Brasília, queremos nossa cidade, e nosso país, livres da corrupção que seqüestra os recursos públicos essenciais para melhorar a qualidade de vida de nossa gente.
E que motivos temos para festejar? De início podemos destacar a vinda de brasileiros das cinco regiões para erguer Brasília. A construção desta cidade promoveu a união de todo um país em torno do sonho de JK. Aqui, os candangos fincaram raízes e adotaram a cidade como berço de uma nova esperança. Este mesmo sentimento ainda move muitos que aqui vem em busca de um novo começo para suas vidas.
Somos exemplo da convivência harmoniosa entre as mais diversas religiões. Temos centros de excelência na saúde e na educação, como a Rede Sarah e a Universidade de Brasília, respectivamente. Somos exemplo de civilidade e respeito quando paramos para que os pedestres passem em segurança na faixa. Aqui as belezas erguidas pelos homens contemplam a natureza. Por sua vez a natureza nos brinda com um céu sem igual – o nosso mar, com as maravilhosas surpresas que o cerrado nos revela, com o tapete verde que se renova a cada chuva, com a maravilhosa floração das árvores na seca.
As políticas públicas vanguardistas que se anunciaram na fundação de Brasília, principalmente o sistema de saúde, de educação, de assistência social, padecem pelo descaso, pelo sucateamento. Precisam ser revigoradas e adaptadas às novas necessidades da população. A cidade pensada para ter 500 mil habitantes no ano 2000, se aproxima dos 3 milhões, uma década depois. Um projeto de desenvolvimento local que reconheça o caráter metropolitano de nossa Capital precisa ser construído e implementado com urgência.
A presente crise, neste cinqüentenário, deve nos dar a energia necessária para construir o futuro de nossa Cidade, preservada como Patrimônio Cultural da Humanidade, ambientalmente sustentável, socialmente justa e democrática.
Arlete Sampaio ex-vice-governadora do Distrito Federal e ex-deputada distrital
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