Após declarar apoio ao exemplo mais isento de jornalismo investigativo registrado nos últimos anos no Paraná, passei a ser alvo de ataques, via internet, de pessoas sem escrúpulos
Gosto de andar a pé, seja caminhando para se exercitar, passear ou mesmo para ir ao escritório, ao mercado, à quitanda. Nos últimos dias, constantemente sou interrompido nas ruas de Curitiba, quase sempre para abordar um mesmo tema: as denúncias de corrupção na Assembléia Legislativa do Paraná (Alep).
Nestas ocasiões, em geral escuto de cidadãos indignados comentários como esses: "que falta de vergonha"; "como paranaense, estou envergonhado"; "alguém tem que fazer alguma coisa"; "que bando de ladrões"; "parabéns pela sua posição"; e assim por diante. Outros perguntam: "Mas o senhor, que foi deputado, não sabia de nada?"
Exerci o mandato de deputado estadual de 1991 a 1998, e já naquela época ouvíamos falar de irregularidades e de corrupção na Alep. Porém, éramos minoria, e sequer conseguíamos aprovar um pedido de informações. Mesmo com essa dificuldade, insisti em obter a lista de funcionários. Até hoje, não a obtive.
Apesar de desconfiar e de receber denúncias de irregularidades na Assembleia, nunca tive provas. Sem elas, o que fazer?
Na legislatura anterior (1987-1990), o PT foi representado no Legislativo estadual por Pedro Tonelli, o primeiro deputado do Paraná a solicitar da Mesa Executiva da Assembleia a sua lista de funcionários.
Na época, presidia a Casa o falecido deputado Aníbal Khury. Tonelli cumpriu quatro anos de mandato e, até agora, duas décadas depois, ainda espera a lista de funcionários. Será que já existiam os Diários Secretos?
Também exerci parte dos dois mandatos sob a presidência de Aníbal Khury, e sei o quanto foi difícil enfrentar a máquina montada por ele. Sei o quanto foi difícil ser oposição e reivindicar transparência.
Daquele período, guardo alguns momentos. Relato aqui dois deles. Numa ocasião, cobrado para que fosse realizado concurso público para a contratação de funcionários para a Assembleia Legislativa, Aníbal respondeu que não faria. Alegou que, em concurso público, "só passam comunistas e japoneses". Falava em tom de gracejo, mas jamais faria concurso algum.
Em outra ocasião —não me recordo se há testemunhas—, Aníbal me disse que eu, que dizia haver irregularidades e suspeitas de corrupção na Assembleia, deveria aguardar após a morte dele. "Aí, é que verá a corrupção". Será que Aníbal Khury tinha bola de cristal, ou apenas conhecia seus pares?
Como cidadão que exerce o mandato de deputado federal, também me sinto agredido com o que ocorria e ocorre na Assembleia Legislativa do Paraná. E como cidadão consciente foi que solicitei a entrada da Polícia Federal nas investigações.
Também nessa condição defendo a renúncia, da Mesa Executiva do Legislativo, de todos os deputados que têm compromisso com a verdade e com a transparência, e que não compactuam com a corrupção.
São cobranças simples. Mas, após formulá-las, passei a ser vítima de mentiras, calúnias e, por incrível que pareça, até de ameaça à vida.
A partir desta situação, surgiu-me a pergunta: Por que um vizinho íntegro às vezes parece ter dificuldade de denunciar um outro vizinho, criminoso? Às vezes, não faz a denúncia por falta de provas. Em outras vezes, mesmo tendo as provas, tem medo de represálias.
Dentro das instituições, não é diferente. Por isso, imagino, alguns deputados estaduais honestos estão calados. E aqueles que não se calaram passam a sofrer ameaças.
A União Paranaense de Estudantes (UPE), que mobiliza os estudantes no movimento "Caça Fantasmas", por exemplo, teve, dias atrás, sua sede arrombada. Isso é intimidação, represália.
Comigo não foi diferente. Após declarar apoio ao trabalho de investigação de jornalistas paranaenses - exemplo mais isento de jornalismo investigativo registrado nos últimos anos no Estado - , passei a ser alvo de ataques, via internet, de algumas pessoas sem escrúpulos.
Relato esses fatos e concluo que o exemplo do relacionamento entre vizinhos é reproduzido no restante sociedade. Quem denuncia passa a ser alvo dos denunciados, dos criminosos. Como se, para eles, um crime a menos, ou a mais, não significasse nada.
Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR)
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