Folha de São Paulo (via Boletim Eletrônico do NEMS-PR)
Quando engravidou pela segunda vez, a gerente de vendas Érika Szmoisz reuniu em casa tios, avós, marido e babá, e fez ali mesmo seu primeiro ultrassom em quatro dimensões.
Dividiu o custo do exame delivery com a família e não tem dúvida: diz que se tiver outro filho, fará a mesma coisa.
O ultrassom 4D -que, em vez de gerar fotos, faz um vídeo da criança em movimento- está se tornando tão popular nas clínicas que algumas, para se diferenciar, começam a oferecer os serviços em domicílio.
Assim, a grávida pode reunir a família inteira e chamar quem ela quiser, na hora do exame, para exibir seu bebê.
A clínica Ávila e Toledo, na cidade de São Paulo, atende em chás de bebê e festas de família como a de Érika.
Mas a comodidade tem seu preço: o atendimento em casa custa R$ 2.000 nos fins de semana e feriados e R$ 1.500 de segunda a sexta-feira. Quando o ultrassom é feito na própria clínica, o preço cai para R$ 300.
"A gente percebeu que havia um mercado grande para trabalhar", diz Telma de Oliveira, sócia da clínica.
Fabiana Sebergas Pinhal, grávida de 34 semanas, é uma das gestantes que se animou a fazer o ultrassom 4D no chá de bebê. Acabou desistindo da ideia porque resolveu transferir a festa para Minas Gerais, na casa de parentes.
Mas acabou ganhando da clínica o exame domiciliar, em São Paulo. "Em casa, você pode ficar à vontade e o tempo que eles disponibilizam para o exame é maior", diz.
Produção fotográfica
Já a Photobaby, especializada em ultrassom 4D, pretende implantar o atendimento domiciliar em junho. Por enquanto, faz entre cem e 150 exames por mês, na própria clínica. Lá, é permitido levar a família toda para a sala do ultrassom e o atendimento é aos sábados, para não coincidir com o trabalho da plateia.
A clínica também tem convênio com uma produtora e dá desconto se a gestante decide fazer um ensaio fotográfico. "A produtora faz a foto de fora e a gente faz a foto por dentro", brinca Daniela Figueiredo, dona da clínica. Detalhe: o exame não inclui diagnóstico médico. "A mãe assina um termo sabendo que é só a foto", diz.
Bruna Jorge, que acabou de ter a segunda filha, começou a fazer o ultrassom 4D na Photobaby com sete semanas de gravidez. Disse que perdeu a conta dos exames fez. Professora, além de mostrar os vídeos para a família, os levou para seus alunos do ensino fundamental.
Médicos obstetras ouvidos pela reportagem divergem quanto a esse uso desregrado do ultrassom.
Para Eduardo Souza, coordenador científico de ginecologia e obstetrícia da unidade Amália Franco do Hospital São Luiz, não há problema em a gestante fazer vários exames, mesmo que por conta própria.
A única recomendação do médico é que ela mantenha a consulta pré-natal e faça o ultrassom 4D apenas a partir de 30 semanas de gravidez. "Daí ela já consegue ver algumas feições do bebê, fica um exame mais agradável".
Já para o obstetra Sérgio Kobayashi, chefe do setor de medicina fetal do Hospital Sírio-Libanês, o exame só deveria ser feito com recomendação médica, para complementar o ultrassom tradicional, em casos específicos.
Mas, segundo ele, o apelo comercial do exame 4D é muito grande. "A gente não sabe exatamente a longo prazo quais são os efeitos do ultrassom sobre o feto. Até hoje, não existe uma comprovação científica de que o exame é 100% seguro."
Para o ginecologista e obstetra Eduardo Motta, do Hospital Israelita Albert Einstein, a discussão não é sobre os efeitos negativos no bebê, que seriam nulos, mas sobre a banalização do ultrassom e sua transformação em espetáculo.
"Passa-se a ideia de que fazer ultrassom 4D é fundamental para a avaliação de bem-estar do bebê. É uma ideia errada, que acaba sendo incentivada por celebridades que até compram aparelhos de ultrassom."
Foi o que fez, por exemplo, a cantora Ivete Sangalo. A atriz norte-americana Katie Holmes é outro exemplo de famosa que comprou o aparelho quando estava grávida.
No Brasil, resolução do Conselho Federal de Medicina determina que só médicos realizem e interpretem exames.
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