Luiz F. Veríssimo - no Noblat
Uma faixa no meio da torcida brasileira, ontem, dizia "Nicola, mamãe te ama". Não era um recado de incentivo ou crítica ao time, aos jogadores, ao técnico ou ao Galvão Bueno. Era um recado para o Nicola, uma declaração de que sua mãe o ama. A faixa não estava bem exposta. Estava no lado em que ficam as câmeras que cobrem a ação principal do jogo. Só no caso de uma eventual tomada do outro lado, ou do diretor de imagens, catando flagrantes no meio do público, se enternecer com ela, a faixa apareceria na TV. A mãe do Nicola confiou no acaso para que sua mensagem chegasse ao filho. Não se sabe se o Nicola chegou a ver a declaração da mãe. Não sei quem é o Nicola ou quem é a sua mãe. Também ignoro o que levou a mãe do Nicola a assegurar que o amava. Haveria alguma incerteza a respeito, talvez depois de um drama familiar em que o amor materno ficara em dúvida? A mãe do Nicola estaria proibida de ver o filho e escolhera aquela maneira de vencer o bloqueio? Ou teria vindo à Copa e deixado o filho em casa e agora estava corroída pelo remorso? Não poderia ter escolhido um cenário mais espetacular para sua manifestação. O estádio de Durban é o mais bonito do que vi até agora. Ele e os outros estádios construídos especificamente para esta Copa farão parte do rebanho de elefantes brancos que a África do Sul herdará, não podendo nem usá-los como atração zoológica. Mas isso não tem nada a ver com o Nicola e sua mãe. Que paixões, que ternura ou angústia não estariam por trás daquela afirmação pública de amor? Fiquei pensando nisso o tempo todo. Meu medo era que o Nicola não estivesse vendo a faixa. Se alguém que conhece o Nicola estiver lendo isto, por favor, avise que sua mãe já o perdoou ou pede para ser perdoada, e que de qualquer maneira o ama.
Enquanto isso, em campo, acontecia alguma coisa parecida com futebol. Dois times que "se respeitam", uma maneira de dizer que se anulam pelo medo e a falta de ambição mútuos, correram, se bateram e empataram sem gols. Cristiano Ronaldo, que levantava a torcida portuguesa cada vez que escapava rumo ao infinito, pois sempre dava em nada, continuou jogando apenas com seu próprio ego, o único companheiro que merece sua confiança. Enfim, se o Nicola não estava vendo o jogo na TV, não perdeu nada.
Enquanto isso, em campo, acontecia alguma coisa parecida com futebol. Dois times que "se respeitam", uma maneira de dizer que se anulam pelo medo e a falta de ambição mútuos, correram, se bateram e empataram sem gols. Cristiano Ronaldo, que levantava a torcida portuguesa cada vez que escapava rumo ao infinito, pois sempre dava em nada, continuou jogando apenas com seu próprio ego, o único companheiro que merece sua confiança. Enfim, se o Nicola não estava vendo o jogo na TV, não perdeu nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário