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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Transporte modelo: 3 em 4 linhas registraram atrasos em 2009

Estação-tubo na Desembargador Westphalen: atrasos em horários de pico provocam filas e irritam passageiros
Ônibus demorados e inseguros levam o usuário a optar pelo carro, o que aumenta o trânsito nas ruas
Na cidade citada como exemplo de transporte coletivo, três em cada quatro linhas da Rede Integrada de Transportes (RIT) registraram reclamações de atrasos por parte dos usuários em 2009 (veja quadro). Ao todo, 74% das linhas do transporte público tiveram dificuldades em cumprir a tabela de horários estabelecida pela Urbanização de Curitiba (Urbs), empresa responsável pela administração do sistema de transporte coletivo da capital e parte da região metropolitana, e receberam queixa via Central 156. O descrédito do ônibus tende a tornar o transporte público cada vez mais individualizado, piorando o trânsito.
Diretor-executivo do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), Ayrton Amaral Filho diz que a pontualidade do sistema é de 99,8%. “Temos, porém, cada vez mais obstáculos. E o transporte coletivo não tem prioridade no trânsito”, afirma. Apesar de não haver estimativa nem a soma das multas cobradas pela Urbs às empresas em 2009, Amaral Filho afirma haver exagero por parte dos fiscais. “São milhares de multas com intervalo de dois minutos de atraso. O conceito deveria ser de orientar, pois a preocupação, assim como a da Urbs, é oferecer qualidade, o que se obtém trabalhando em conjunto”, opina.
Central 156
Trânsito lidera ligações
Desde 1984 em funcionamento, o serviço ou Central 156 é muito usado pelos curitibanos. No ano passado, as chamadas recebidas somaram 1,7 milhões, número próximo ao da população da capital. Do total, cerca de 40% dos atendimentos estão relacionados com a Urbs. Em primeiro lugar está o trânsito com 25,5 mil ligações, seguido por cobradores e motoristas com 13,2 mil. Desse número, 2,3 mil foram queixas relacionadas aos atrasos. Conforme a Urbs, os usuários buscam, em geral, informações sobre itinerários e locais onde possam pegar os ônibus.
30 minutos para entrar na estação-tubo
A terceira pior linha pelas reclamações da Central 156 é o ligeirinho Bairro Novo. Quase diariamente, por volta das 18 horas, a estação-tubo inicial no sentido bairro, localizada na Avenida Desembargador Westphalen, registra filas que dobram a es quina com a André de Barros e che gam à Alameda Doutor Muricy. “Levo 30 minutos pelo menos para entrar no tubo todos os dias. Quando o ônibus chega, o motorista só deixa embarcar quem está lá dentro. Por isso, ele sempre sai meio vazio”, relata a operadora de caixa Elizabeth de Fátima de Lima, de 51 anos. “Essa fila é assim todos os dias. Pode estar frio ou chovendo...”, conta Marlete Romano, de 36 anos.
Ambas nunca registraram reclamação na Central 156. “Eu nunca fiz. Até tem um pessoal que diz que faz, mas, se fazem mesmo, não senti mudança alguma”, afirma Elizabeth. Muitos cidadãos, caso do metalúrgico Alexandre Dias, não usam a linha todos os dias em razão da demora para chegar ao ponto. “Todo dia é essa porcaria. Se aumentassem o tamanho do tubo, aumentaria o conforto para quem está esperando aqui na fila. O que resolveria a situação, na realidade, era aumentar o número de ônibus. Só assim as filas acabariam”, opina Dias.
Intervalo
Segundo a tabela da Urbs, a partir das 18 horas, o intervalo entre os ônibus seria, em tese, de 6 minutos. No entanto, durante a reportagem, os veículos passavaram a cada 16 minutos, quase três vezes o intervalo estabelecido e divulgado pelo site da prefeitura de Curitiba. De acordo com a Urbs, a ampliação da estação-tubo do ligeirinho Bairro Novo está em estudo.
No total, 2,3 mil reclamações foram registradas pela Central 156 em um universo de 6,5 milhões de viagens realizadas no ano passado – média de 1 queixa a cada 2,8 mil viagens. Não é preciso esforço para encontrar filas nos pontos e tubos, sobretudo nos horários de pico. Nem todos os afetados pelos atrasos, contudo, se dispõem a registrar as queixas.
Com o passar do tempo, os atrasos, mesmo pequenos, derrubam a credibilidade do transporte público, na opinião de Luiz Cláudio Mehl, membro do Conselho Consultivo do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP). “Se o ônibus não dá a resposta esperada, o usuário o abandona e passa a usar o transporte individual”, afirma. “É preciso criar vias exclusivas para o transporte coletivo e mecanismos para convencer os cidadãos a deixarem o carro em casa. Do contrário, o trânsito e os atrasos, por conse quê ncia, pioram”, acrescenta Mehl.
Professor de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Eduardo Ratton afirma que os sistemas se tornam a cada dia menos sustentáveis. “O número de passageiros está diminuindo, segundo a Agência Nacional de Transporte Público (ANTP). Como, em geral, os ônibus são demorados e inseguros, muitas pessoas optam pelo transporte individual”, avalia. Ratton lembra de uma pesquisa da própria ANTP, realizada no ano passado, para ilustrar o raciocínio. De acordo com o estudo, sai mais caro andar de ônibus do que de moto ou carro em Curitiba em percursos de até sete quilômetros. Os proprietários de veículos individuais podem economizar entre 14% e 228%.
Ranking
Quatro das cinco piores linhas de Curitiba, segundo os usuários, tiveram, no ano passado, problemas por causa de obras em seu trajeto ou alterações no itinerário ligados de alguma forma com a Linha Verde. Embrião da futura Linha Verde Norte, o trajeto percorrido pelo ônibus Mara canã/Linha Verde lidera a estatística de atrasos com 93 queixas, sendo que 89 delas acon teceram entre maio e julho. No período, a Urbs am pliou de dois para sete a frota de veículos. A empresa argumenta que a maior parte das reclamações se deve à dificuldade em adequar a demanda ao movimento e às obras no itinerário.

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