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terça-feira, 13 de julho de 2010

Método usa problemas para estimular alunos a pensar

Adotado há 13 anos pela Medicina da UEL, Aprendizagem Baseada em Problemas tem menos aulas tradicionais e mais discussão de casos clínicos
Estudar, discutir, pesquisar e resolver o caso. Este é o método que, há 13 anos, foi adotado pe lo curso de Medicina da Univer sidade Estadual de Londrina (UEL) como forma de aprendizado aos alunos. Chamado de Aprendizagem Baseada em Problemas, ou do inglês Pro blem-Based Learning (PBL), surgido em 1969 na Universidade McMaster, no Canadá, o objetivo é estimular a discussão e o trabalho em equipe, entre outras formas de interação com o assunto. As aulas tradicionais, em que o professor ministra o conhecimento e os alunos geralmente apenas ouvem, não foram abandonadas, mas reduzidas drasticamente.
“A aula do professor no quadro negro funciona bem em algumas matérias. Mas queremos que o aluno aprenda a buscar um conhecimento novo”, afirma a coordenadora do colegiado de Medicina da UEL, Evelin Ogatta Muraguchi. Com o método, a turma, de cerca de 80 alunos, é dividida em grupos de oito pessoas. Cada equipe tem um professor tutor, que levanta problemas a serem discutidos entre os alunos. A partir de então, a solução deve ser pesquisada em casa, em livros de referência, na internet e até com outros médicos. “Os alunos voltam e apresentam o que estudaram para resolver o problema.”
Objetivo é levar aluno a pesquisar as soluções
Com a dúvida na cabeça, os alunos pesquisam a origem e as possibilidades de uma simples dor no peito. Buscas em livros de referência, internet, jornais e revistas especializadas apontam diversas causas: desde uma inflamação dos pulmões até um infarto.
Tem de ter base antes de discutir, critica professor
Embora docente do corpo clínico do Hospital Universitário (HU) de Londrina, vinculado ao curso de Medicina, o professor Wander Eduardo Sardinha faz críticas ao modelo adotado pela UEL. Um dos problemas apontados por ele é a especialização específica de professores tutores atuando em grupos que discutem problemas multidisciplinares.
Evelin aponta que a produção de novos saberes tem avançado com rapidez. “O conhecimento da Medicina dobra a cada quatro anos. Se ele não aprende a estudar sozinho e buscar a informação relevante disponível, em oito anos será um médico defasado”, afirma a professora. Por isso, segundo ela, o método quer estimular o aluno a aprender sozinho para, quando profissional, não precisar depender de outras pessoas, como quando estudante dependeria do professor.
Dessa forma, avalia Evelin, os alunos não estudam uma matéria específica isoladamente, mas aprendem os conteúdos de forma interdisciplinar. “O problema é, por exemplo, uma pessoa que tropeçou, caiu e bateu a perna, que inchou. Então o aluno vai estudar anatomia, musculatura, fisiologia, entre outros”, explica. Os alunos participam de duas reuniões tutoriais: na primeira discute-se o problema e na segunda a solução. Além disso, têm a possibilidade de ter aulas práticas e visitar ambulatórios, laboratórios e unidades de saúde do município. Pelo menos duas vezes por semana toda a turma assiste a aulas tradicionais.
Para o médico e professor Adriano Freitas Ribeiro, o método faz com que o aluno seja protagonista do próprio conhecimento, tirando do docente essa responsabilidade. Formado em 2003, Ribeiro estudou na primeira turma da UEL em que o método foi experimentado, em 98. “Foi um método revolucionário porque mudou o modelo vigente de aulas expositivas e de pouca participação do aluno no próprio aprendizado. É claro que gerou uma angústia em nós, nos nossos pais”, lembra.
Segundo ele, a revolução foi colocar o problema nas mãos dos alunos e não mais no saber do professor. “A gente discutia, ia atrás na biblioteca. O enfoque foi passar o aprendizado aos alunos. Buscar o conhecimento e não esperar que seja passado de modo passivo será para o resto da vida”, afirma. Na avaliação final, o hoje médico considera positivo o novo modelo. “A grande maioria [da turma] gostou. Muitos foram fazer residência em São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto”, comenta.

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