Em dezembro de 2000, um incêndio atingiu um prédio no Alto da Glória, em Curitiba. Não era um prédio qualquer: o alvo dos criminosos era a sede da Promotoria de Investigações Criminais, a PIC. Tratava-se de uma instituição que vinha aparecendo cada vez mais e incomodando cada vez mais gente. Meses antes, por exemplo, havia tido participação essencial na CPI do Narcotráfico, que derrubou gente grande no estado. Foi esse, aliás, o motivo do incêndio: uma tentativa desesperada de queimar as provas obtidas.
O incêndio servia também para tentar intimidar os integrantes da promotoria. Além de gente do Ministério Público, a PIC contava também como policiais militares e com policiais civis. E a união de todos esses setores para combater crime organizado e tráfico de drogas estava, nitidamente, causando problemas para a bandidagem.
Felizmente, o incêndio não foi o suficiente para acabar com as investigações. Mais tarde, a única mudança ocorrida de fato foi no nome. A PIC virou Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), mas continuou basicamente com a mesma composição e com a mesma atuação. (Também continuou sem o decreto que pode transformá-lo em órgão permanente, coisa que depende de a Procuradoria-Geral de Justiça e de o governo do estado assinarem um papel).
No ano passado, novamente o Gaeco voltou a mostrar sua importância. Depois de a Gazeta do Povo e a RPC TV revelarem os desmandos ocorridos na Assembleia Legislativa, foi o grupo que correu atrás das denúncias. Em março, começou a apuração. Em outubro, os supostos responsáveis já estavam em audiência na Justiça, respondendo pelas acusações.
Investigações rápidas, eficientes e importantes. Uma atuação fundamental contra o crime organizado. Tudo isso estaria em jogo caso o Gaeco fosse posto abaixo, como parece haver o risco neste momento.
Reportagem de ontem, nesta Gazeta, mostrou que um decreto de Beto Richa retira da instituição todos os policiais que nela trabalham hoje. O novo comandante da Polícia Militar, coronel Marcos Scheremetta, foi claro ao falar sobre o tema: “Eu preciso de uma nova ordem expressa para não recolher os policiais”, declarou.
A ordem expressa teria de vir do próprio Richa, único com autoridade para desfazer o que está prestes a ser feito. E seria necessário que viesse logo.
O governador afirmou na quinta-feira, durante a posse de Scheremetta, que a segurança pública é prioridade número um em seu governo. Manter o Gaeco funcionando em todas as cidades onde já opera e inclusive reforçá-lo seria uma mostra de que está falando sério. Desmantelá-lo seria, pelo contrário, um indício de que a prioridade é da boca para fora.
Acabar com o Gaeco, no fim, é o que os traficantes querem. É o que quer o crime organizado. O governador certamente deve ter alguma boa intenção ao chamar os policiais para outras funções. Mas estará cometendo um erro terrível se não mudar sua posição: facilitará a vida de quem o estado deveria estar perseguindo e prendendo. Dos pequenos traficantes aos grandes comandantes do tráfico organizado.
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