Tudo vai bem. Tudo vai mal.
O Laboratório de Estudos da Pobreza-LEP, vinculado ao Curso de Pós-Graduação em Economia-CAEN, da Universidade Federal do Ceará, divulgou pesquisa cuja análise é, no mínimo, perturbadora.
O que sobressai, de cara, é a concentração de miséria no Nordeste, apesar das bolsas-famílias da vida, o crescimento do emprego, e outros avanços cantados e decantados em prosa e verso. Por outro lado, os riquíssimos Sudeste e Sul, apesar do percentual não chocar como o nosso, ainda respondem com mais de 5%%, com aproximadamente 2.800.000 de desvalidos. É inexplicável. Todo brasileiro deveria envergonhar-se com um quadro desses.
No que tange ao nosso Ceará, com “honroso” terceiro lugar dentre os que possuem mais miseráveis, os dados são aterradores. A pesquisa mostra que 17,9% dos jovens entre 0-14 anos vicejam na extrema pobreza. Ou seja, 416.500 vidas condenadas cujo futuro, salvo as exceções que sempre o destino reserva, é nebuloso. São os frutos de uma geração perdida já que egressos de famílias também miseráveis. Em termos de Brasil o número é menor – 9,66% - mas mesmo assim preocupante.
Alguém pode imaginar um ser humano sobreviver com menos de dois reais por dia? Como se conceber os palácios, as sinecuras, os desperdícios de recursos na área pública enquanto concidadãos nossos patinam num mundo de carências das mais elementares? Que sociedade doente é essa, cujos excessos e esbanjamentos parecem não ter limites éticos? Mundo de “madames”, “filhinhos papai”, “burguesinhos”, e outras figuras menores, insensíveis nos seus gastos supérfluos, como vinhos de dez mil reais a garrafa, psicólogos para cães, e outras demonstrações acintosas de luxo e vida fácil?
É muita pretensão nossa querer galgar o respeito e a referência entre as nações com estatísticas desse tipo. Se a busca da igualdade é utópica, a da equidade é OBRIGAÇÂO. Até quando continuaremos a ignorar esses “invisíveis”? Fazer de conta que não existem e o que vemos debaixo das pontes, nos alagados, nos longínquos sertões, nas periferias das grandes e maravilhosas metrópoles, são apenas miragens de seres que habitam outra dimensão?
Não foi por acaso que a atual presidenta elegeu como prioridade de seu governo a elisão dessa mancha no nosso “glorioso” quadro social. Se seu antecessor é aclamado – com justiça – por acionar as engrenagens da mobilidade social, elevando milhões de pessoas das classes E D para a C, tudo sob a visão do bem-estar e do consumismo, deve ser lembrado por não ter cumprido a meta que ora se propõe a nova chefe de governo.
Voltando ao Ceará: projeções do CAEN apontam investimentos anuais de R$ 294 milhões (aproximadamente 3% do PIB cearense) para sarjarmos esse tumor social. Estão previstas inversões de R$ 300 milhões para a construção de um aeroporto internacional na comunidade de Jijoca de Jeriquaquara para atender os turistas que se deliciarão com suas belíssimas praias. No nível nacional fala-se em investimentos bilionários para colocar em funcionamento um trem-bala que vai servir também a uma elite. Alguém viu por aí uma afável e distinta senhora que responde pelo nome de "prioridade"?
Essas parcas e mal traçadas linhas, se assim o permitissem as regras de etiqueta e obediências aos bons costumes, deveriam ser entremeadas de palavrões, único modo de exprimir o sentimento de revolta que assola qualquer cidadão quando tem que conviver com uma infâmia como a que ora se trata.
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