Da coluna Caixa Zero, publicada neste sábado, na Gazeta do Povo:
Os ruralistas dos três estados do Sul pretendem se reunir nos próximos dias com o ministro Antonio Palocci. Vão pedir que os produtores brasileiros de cigarro continuem autorizados a colocar aditivos no tabaco. Há um pequeno problema no pedido: é que as entidades internacionais de saúde já comprovaram que esses aditivos são tóxicos e causam câncer.
O Brasil é parte de uma convenção internacional que quer ver os aditivos banidos. Os artigos 9 e 10 da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco indicam que a adição de açúcar, de amônia e de aromatizantes deve ser banida. Quando queimados juntos com o tabaco, esses produtos produzem substâncias neurotóxicas e cancerígenas, como o acetaldeído.
A Anvisa abriu no ano passado e encerra no fim de março uma consulta pública sobre o tema. Pretende adotar uma resolução banindo os aditivos. Os deputados da bancada ruralista, porém, não pretendem deixar que isso aconteça. Dizem que prejudicaria os agricultores que plantam o fumo tipo burley, uma variedade comum no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
Nesta semana, o deputado Luís Carlos Heinze, do PP gaúcho, começou a movimentar a bancada para pedir a audiência com Palocci. Do Paraná, já conseguiu a adesão de Moacir Micheletto (PMDB) e de Abelardo Lupion (DEM). Mas diz que conseguiria muito mais se fosse preciso. “O pessoal dos três estados está mobilizado”, diz ele.
O ex-ministro Reinhold Stephanes (PMDB-PR), que está de volta à Câmara, é outro que apoia Heinze na cruzada pelos aditivos. Como titular da Agricultura, mandou um representante a uma discussão sobre o tema na Europa em 2009 já para dar uma posição menos drástica do Brasil sobre o tema.
O problema, na versão de Heinze, é que os produtores de burley não têm como vender seu tabaco sem aditivo. O gosto fica horrível, o fumo é irritante demais e ninguém iria querer comprar. Para o pessoal do Instituto Nacional do Câncer, não é uma má ideia. Deixar um produto tóxico menos atraente, no fim das contas, reduziria o dano causado pelo tabagismo.
Mas, para Luís Carlos Heinze, tudo não passa de uma questão comercial. “O Canadá, que levantou essa bola, não planta o burley, e quer que o Brasil também pare de plantar.” Segundo o deputado, um quarto dos 200 mil produtores da Região Sul seriam afetados. Mas, na verdade, já existem cigarros da Souza Cruz com fumo burley sem aditivo. E mesmo que a nova resolução saia os produtores terão pelo menos dois anos para se adaptar.
Os defensores da proibição dos aditivos dizem que tudo não passa de uma questão econômica. “A indústria convence os deputados, que vão para a defesa do tabaco. Mas a verdade é que eles querem apenas manter os lucros deles. E não há dinheiro que pague uma das 200 mil vidas que perdemos por ano no país por causa do cigarro”, diz Agenor Álvares, diretor da Anvisa.
Na sua cruzada pelos aditivos, no entanto, os ruralistas parecem contar com apoio dentro do próprio governo. Os ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento e do Trabalho são considerados aliados. Do outro lado, estão o Ministério da Saúde, Anvisa e Desenvolvimento Agrário. De que lado Palocci e Dilma vão ficar?
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