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domingo, 8 de maio de 2011

Empresários aglomeram-se em pé por uma hora para ouvir Lula no Fasano




“Eu nunca votei no Lula e nunca votarei. Mas vim por causa dele.” Essa era a afirmação mais repetida na noite de quarta-feira em dezenas de rodinhas formadas por empresários, banqueiros, executivos e advogados que lotaram o amplo salão da Casa Fasano, templo de festejos luxuosos da elite paulistana.
Pouco mais de 450 pessoas se espalharam pelo espaço de pé direito altíssimo e paredes de intrigante transparência, que deixam ver os aviões que cruzam o céu. O Bank of America Merrill Lynch, um dos maiores bancos dos Estados Unidos, era o anfitrião da noite e comemorava a autorização do Banco Central do Brasil para que a instituição passe a operar como banco múltiplo, ampliando sua atuação no país.
Alexandre Bettamio, presidente do BofA no Brasil, provavelmente também não votou em Lula em 2002 ou 2006. Mas elegeu o ex-presidente para ancorar o mais importante evento já realizado pela instituição no país apostando que seria um grande chamariz. A escolha foi certeira.
Lula tem cobrado cachê de “palestrante global”. No caso, o valor não confirmado pelos assessores do presidente ou pelo banco, de quase R$ 200 mil, incluía discurso de 45 minutos seguido de mais meia hora de “social” pelo salão. O contrato foi cumprido à risca e, talvez sensível à praxe do setor financeiro, o ex-presidente concedeu um bônus aos banqueiros e falou por 1 hora e dois minutos. Parte da plateia nunca havia tido a oportunidade de estar tête-à- tête com o ex-presidente. Outros queriam vê-lo falar de novo e esperavam “se divertir” com o discurso bem humorado. Pouco depois das 20 horas o salão já estava cheio e, por volta das 21h30, quando Lula começou a falar, o público se aglomerou ao seu redor, abrindo um clarão ao fundo. Aguentaram firme, em pé, por mais de uma hora.
Na “primeira fila”, dois ex-ministros de Lula: Luiz Fernando Furlan, que ocupou a Pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio; e o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles. Logo a seu lado, o atual presidente da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, Ricardo Flores. Sentada à uma discreta mesinha ao lado direito do pequeno palco montado, dona Marisa assistiu a metade do discurso acompanhada de uma outra mulher. Lá pelas tantas, foi escoltada por seguranças até uma sala reservada e de lá não mais saiu.
Ao introduzir Lula à plateia, o presidente de mercados globais do Bank of America, Tom Montag, referiu-se a ele como “o político mais popular da Terra”. O “gancho” para a presença de Lula em um evento do banco americano foi o enorme desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro durante seu governo. O BofA foi um dos bancos que lideraram a gigantesca capitalização da Petrobras no segundo semestre do ano passado. Único ponto de contato entre o ex-presidente e seu contratante, o fato foi fartamente lembrado nos discursos da noite.
Lula fez uma palestra sob medida para o público presente. Temas como a explosão do crédito consignado e o desenvolvimento do mercado de capitais foram cuidadosamente escolhidos para rechear a fala. Munido de um discurso oficial de cinco páginas, Lula fez a alegria dos presentes ao abusar de seus famosos improvisos. “He speaks very well”, dizia um executivo brasileiro a outro, estrangeiro, no meio do salão.
Arrancou gargalhadas sinceras e mesmo aplausos, em diversos momentos, ao debochar do que seria o estereótipo da forma de pensar da elite brasileira. “Tem gente que fala: esse Lula colocou os pobres no lugar que só nós viajávamos”, afirmou, por exemplo, ao referir-se ao fato de “os pobres” estarem viajando de avião. Mais tarde, disse que muita gente começa a falar inglês antes mesmo de sair do aeroporto, só para mostrar que sabe.
Apelou para a emoção e deixou a plateia silenciosa ao falar do Programa Luz para Todos e descrever que “quando chega a luz elétrica na casa de uma pessoa é como se você, num passe de mágica, pegasse uma pessoa do século 18 e trouxesse para o século 21. É como se fosse a máquina do tempo.”
Lula queria provar, caso alguém ali ainda tivesse dúvida, que a política de seu governo fez bem ao empresariado. Já perto das 22h30 e do fim de sua palestra, quando a audiência se mostrava um pouco cansada com a longa fala do ex-presidente, ele arrematou: “Eu sei que tem gente que tem preconceito contra mim. Mas eu desafiaria qualquer um de vocês: eu duvido que algum empresário já ganhou mais dinheiro nesse país do que no meu mandato. Duvido que os bancos já tiveram mais lucro nesse país do que no meu mandato.”
E nesse momento talvez tenha cometido a única gafe da noite, ao exemplificar: “Pode pegar qualquer empresa, pode pegar a empresa do Furlan.” A Sadia, empresa antes controlada pela família do ex-ministro Furlan, como bem sabem todos os presentes, praticamente quebrou em 2008. Não por conta de políticas econômicas, é verdade, mas por problemas de gestão. Mas os cochichos ao pé do ouvido foram inevitáveis.
“Ele é muito bom”, “ele é muito inteligente”, “agora dá para entender [a sua popularidade]“, saíram falando aqueles que nunca votariam nele.
Das poucas pessoas dentro da Casa Fasano que haviam votado em Lula, duas copeiras não escondiam a excitação com a presença de seu ex-presidente. Difícil foi encarar a frustração de não poder vê-lo: muito profissionais, não abandonaram o posto e ficaram confinadas no banheiro feminino durante quase toda a noite, prestando assistência às convidadas.

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