RAFAELA NOGUEIRA no Globo |
Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um dos dez principais problemas de saúde pública do mundo, a obesidade vem crescendo em ritmo preocupante no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), em 1974-75, 1,8% das meninas e 2,9% dos meninos entre 5 e 9 anos eram obesos. Já em 200849 houve um salto desse número para 11,8% das meninas e 16,6% dos meninos. Alguns estudos indicam que um terço das crianças obesas se transformam em adultos obesos. Esse dado é aterrorizante. Em alguns anos teremos na sociedade brasileira uma epidemia de doenças relacionadas à obesidade. No Brasil não há mensurações quanto ao custo da obesidade e sobrepeso para o país. Em 2003 foi feito o primeiro levantamento elaborado pela Força-Tarefa latino-Americana de Obesidade sobre os custos da obesidade no Brasil: R$ 1,1 bilhão -esse foi o montante aproximadamente gasto a cada ano com internações hospitalares, consultas médicas e remédios para o tratamento do excesso de peso e das doenças ligadas a ele.
Só o Sistema Único de Saúde (SUS) destinou R$ 600 milhões para as internações relativas à obesidade. Esse valor equivale a 12% do que o governo brasileiro despendia anualmente com todas as outras doenças. Se forem levados em consideração ainda os gastos indiretos (faltas ao trabalho, licenças e morte precoce), estima.se que a conta chegue a R$ 1,5 bithão. Será que não deveria haver uma agenda política para o problema? Será que já não está na hora de a sociedade começar um debate? Alguns estados americanos estão fornecendo mais informação nutricional sobre a comida ingerida. Em Nova York, por exemplo, as cadelas de fast-food foram obrigadas a listar as calorias contidas em seus produtos. Outra possível intervenção, que não deve agradar multo, seria a de sobretaxar bens considerados menos saudáveis como refrigerantes, doces e etc.: a sobretaxação desestimularia o consumo desses produtos e tornaria mais atrativo o consumo de bens que trariam benefícios à saúde.
Governos poderiam subsidiar comidas consideradas "saudávels", como legumes e venturas. O desafio ao se taxar bens é saber o que deve e o que não deve ser taxado. Outra possível ação preventiva, seguindo o exemplo do cigarro no Brasil, seria proibir a propaganda de produtos direcionados ao público infantil cujo conteúdo nutricional não se enquadre nos padrões recomendados por especialistas. Novamente fica a perguntaquais seriam esses produtos? Não há uma resposta fácil. No entanto, cabe à nossa sociedade tentar encontrar uma solução para esse problema que se agrava a cada día. A obesidade infantil é um problema de saúde pública com consequências futuras graves para a sociedade. Está na hora de enfrentarmos o problema através de pesquisas sérias e não de opiniões sem embasamento científico. O momento exige seriedade. Vamos acabar com essa brincadeira.
RAFAELA NOGUEIRA é professora de Direito da FGV Rio.
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