"O que tem fome e te rouba o último pedaço de pão, chama-o teu inimigo... Mas não saltas ao pescoço do teu ladrão que nunca teve fome." Bertolt Brecht
domingo, 24 de julho de 2011
Governo muda regra para entregar UPAs
Para cumprir meta eleitoral de Dilma, até hospital filantrópico poderá ser transformado numa dessas unidades
Demétrio Weber demetrio@bsb.oglobo.com.br
BRASÍLIA. Com apenas 113 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em funcionamento no país, e sem cumprir sequer a meta do governo Lula - que era chegar a 500 -, o Ministério da Saúde flexibilizou as regras do programa. Uma portaria publicada este mês prevê que os prontos-socorros e outras unidades de saúde já existentes possam ser transformados em UPAs, com direito a repasses federais. Antes, o ministério só bancava a instalação de unidades que começassem do zero.
Além das 500 UPAs prometidas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a então candidata Dilma Rousseff assumiu, na campanha eleitoral, o compromisso de criar mais 500 até 2014 - totalizando mil unidades. Segundo o Ministério da Saúde, Lula deixou o cargo com somente 101 UPAs em funcionamento. Ou seja, cumpriu um quinto do prometido. O governo Dilma entregou doze unidades até a semana passada.
O secretário de Atenção à Saúde, Helvécio Magalhães Júnior, diz que mais 99 UPAs deverão começar a funcionar este ano. Se isso ocorrer, o país terá, até o fim de dezembro, 212 unidades ativas. As novas regras, segundo Helvécio, permitirão instalar as mil UPAs prometidas por Lula e Dilma. Dentro do novo modelo, até hospitais filantrópicos poderão ser transformados em UPAs - desde que sigam parâmetros de infraestrutura e recursos humanos estabelecidos pelo ministério.
- Pretendemos (fazer) as mil - diz Helvécio.
Concebidas para desafogar hospitais e abrir novas portas na rede de urgência e emergência, as UPAs funcionam 24 horas por dia. OMinistério da Saúde repassa dinheiro tanto para a construção do prédio e a compra de equipamentos quanto para o custeio de cada unidade. Embora pague a conta, o governo federal não é o responsável pela gestão das UPAs. Esta é uma tarefa de governos estaduais e prefeituras.
A portaria do Ministério da Saúde, de 7 de julho, estabeleceu três formatos dessas unidades: UPA Nova (que será construída), UPA Ampliada (unidade que receberá dinheiro para acréscimo de área em edificação já existente) e UPA Reformada (recurso para alteração de ambiente sem acréscimo de área).
Helvécio diz que a mudança é uma "inflexão" na política do atendimento de urgência iniciada no governo Lula:
- Chegamos à conclusão que não poderíamos desconhecer a realidade de centenas de prontos-socorros e pronto atendimentos já existentes - diz Helvécio.
Vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde(Conass), Antonio Jorge considera que havia uma supervalorização das UPAs e que as medidas tomadas pelo governo Dilma fazem uma correção de rumos. Segundo Jorge, que é secretário da Saúde de Minas Gerais, as UPAs devem funcionar dentro de uma rede que inclua a oferta de atenção básica e serviços hospitalares:
- O Ministério da Saúde recolocou os pingos nos is. Hoje a política não é de implantação de UPAs, mas de redes de urgência e emergência. Se a UPA não tiver uma retaguarda hospitalar e uma atenção primária que funcione com qualidade, ela vai reproduzir o pior modelo que existe, que é paciente no corredor, paciente não grave ocupando leite de paciente grave - diz Antonio Jorge.
O tamanho da população a ser atendida, na chamada área de abrangência de cada unidade, define a dimensão da UPA a ser instalada: o porte 1 é destinado a áreas com 50 mil a 100 mil moradores; o porte 2, para 100 mil a 200 mil; e o porte 3, para 200 mil a 300 mil. Esse critério define o montante dos repasses.
"Não adianta construir UPA fantasma"
O Ministério da Saúde destina entre R$1,4 milhão a R$2,6 milhões para a UPA a ser instalada, de acordo com a população a ser atendida. Além dessa verba, há repasse mensal do governo federal, para garantir o funcionamento das unidades, que varia de R$100 mil a R$250 mil. O ministério informou que 478 UPAs já estão habilitadas, ou seja, na fase bem inicial de instalação.
O conselheiro André Luiz de Oliveira, que é representante de usuários no Conselho Nacional de Saúde (CNS), acredita ser possível cumprir a promessa de criação de UPAs. Mas defende que isso seja feito sem abrir mão da qualidade do serviço:
- Não adianta construir UPAs fantasmas. Não adianta construir um bela UPA, se não tem equipe treinada - diz André Luiz de Oliveira, que é também coordenador nacional da Pastoral da Saúde.
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