Grande parte das 4 toneladas de agrotóxicos apreendidas pelo Ibama semana passada, na fronteira de Rondônia com o Amazonas, é do reagente 2,4D, que vinha sendo usado para desfolhar floresta, antes do desmate completo. Só que este é um dos dois principais componentes do Agente Laranja, que fez atrocidades no Vietnã, na década de 1960.
Na ocupação do Vietnã, as Forças Armadas dos Estados Unidos encomendaram essa arma química das empresas Monsanto e Dow Chemical, ambas americanas. O nome que se popularizou vem dos galões de cor alaranjada em que o veneno era acondicionado para demarcar diferença, por causa de seu enorme poder letal.
Na guerra genocida, esse agente tinha dupla função. Uma, era desfolhar a floresta para desnudar bases da guerrilha vietnamita. A outra, ainda mais cruel, era arrasar as plantações agrícolas, especialmente de arroz, e assim privar o povo do seu principal componente alimentar.
Mas, no fim das contas, o veneno atingiu todos os seres vivos, inclusive e principalmente os humanos. Matou milhões. E, quatro gerações depois, calcula-se que perto de 5 milhões de vietnamitas tenham sequelas da guerra química, com deficiências físicas e mentais.
O Ibama divulgou os nomes dos três produtos apreendidos. Além desse, há boa quantidade de Garlon 480, produzido pela mesma Dow Chemical, e o U46BR, produzido pela também estadunidense Nufarm.
Antes de entrar no caso do 2,4D, vale um destaque para esse tal Garlon 480.
Nos EUA, esse produto é vendido para algum uso no combate a plantas invasoras nas lavouras, mas com um monte de advertências. Começa por “Produto Altamente Tóxico”, em letras garrafais. E segue: “Produto Muito Perigoso ao Meio Ambiente” e “É Obrigatório o Uso de Equipamentos de Proteção Pessoal na Manipulação”.
No Brasil, o uso desses produtos é permitido por normas governamentais, todavia sob estrita normatização. Na Amazônia, há muitos registros de uso em plantações de grãos, mas em especial em pastagens para gado bovino.
Contudo, pelas normas, só pode ser borrifado em terra, de modo bem localizado e com prazo de carência para as pessoas entrarem nessas áreas em trajes comuns. De todo modo, é de se imaginar o que haverá na carne e no leite dos planteis ali criados.
Muito além disso, porém, ao aspergir esses produtos por avião, a empresa, que ocupa fazenda nas proximidades está promovendo enorme estrago. Por razões não sabidas, o Ibama mantém seu nome em sigilo.
O fato é que se trata de uma vasta área da União, de preservação ambiental e de parque indígena, no município de Novo Aripuanã, no sul do Aamazonas.
Ali, o Ibama descobriu a ação por acaso, num sobrevôo de técnicos naquela imensidão. Mas quantas outras estarão fazendo o mesmo? A flora, a fauna e, claro, as populações nativas não sairão ilesas disso, com certeza.
E aí, voltemos ao Diclorofenoxiacético, o nome técnico do 2,4D, que é apresentado em solo nacional com a marca 2,4D Amina72, da empresa Atanor do Brasil, cuja base é no Rio Grande do Sul. Pelo estrago feito na floresta, segundo as fotos do Ibama e avaliações de cientistas de outras instituições do governo brasileiro, pode-se dimensionar sua potência.
Nos EUA, veteranos da Guerra do Vietnã, que manipularam o Agente Laranja para jogá-lo sobre os outros, padecem, eles próprios, de graves problemas de saúde e de efeitos danosos em filhos, netos e bisnetos.
A Monsanto, principal responsável pelo veneno, paga indenizações e responde a um mundaréu de outros processos na justiça. Refresca para os americanos. Já os vietnamitas têm amparo de seu governo.
E o ribeirinho, o indígena e outros viventes dessas áreas da Amazônia?
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