Páginas

sábado, 23 de julho de 2011

Milícia rejeita ajuda contra fome na Somália

Grupo radical al-Shabab nega calamidade e afirma que agências humanitárias têm interesses políticos


em O Globo

MOGADÍSCIO. A milícia islâmica al-Shabab, que controla o sul da Somália, voltou atrás na decisão de permitir a entrada de ajuda humanitária na região - afetada pela mais grave seca em 60 anos - negando que a população esteja sendo vítima de um surto de fome como declarou a ONU esta semana. Segundo Ali Mohamud Rage, porta-voz da milícia, as agências humanitárias, que estavam proibidas de operar na região desde 2009, continuam não sendo bem-vindas.



- As declarações da ONU são pura propaganda, 100% falsas. Há uma seca na Somália, mas não há fome. Essas agências praticam atividades políticas aqui, e querem que os somalis migrem para países cristãos vizinhos, como Quênia e Etiópia - afirmou o porta-voz da al-Shabab, que luta contra o governo de transição de Mogadíscio e é considerada aliada da al-Qaeda.



Unicef: 800 mil crianças correm risco de morrer



Tecnicamente, o termo fome é aplicado para designar uma situação na qual mais de duas pessoas morrem ao dia por grupo de 10 mil, por falta de alimentos. Segundo a ONU, esse número já chegou a 6 por 10 mil em duas regiões do sul da Somália - Bakool e Lower Shabelle. Ontem, o Unicef alertou que 800 mil crianças correm o risco de morrer de fome no país se não receberem assistência adequada.



Analistas afirmam que o surto de fome poderia ter sido evitado caso as agências humanitárias tivessem recebido permissão para atuar no local, como na Etiópia e no Quênia, que também sofrem com a seca. Mas, apesar da proibição da al-Shabab, as agências que voltaram a operar na região no início do mês foram unânimes em afirmar que vão continuar no país.



- A al-Shabab não é uma organização monolítica. Não sabemos se as declarações se aplicam à organização ou apenas a indivíduos - disse Emilia Casella, porta-voz do Programa Mundial de Alimentos (PMA), que teve 14 colaboradores mortos no país nos últimos anos. - Temos intenção de trabalhar onde for possível.



O PMA anunciou também a criação de uma rota aérea para levar alimentos às crianças de Mogadíscio. Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde e o Unicef também afirmaram que continuarão no país. Mas o número de agentes é extremamente pequeno, e a maior parte das organizações continuam temendo enviar funcionários à Somália por falta de segurança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário