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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Saúde emperra avanço dos Objetivos do Milênio no PR


Várias cidades não conseguirão reduzir casos de aids e de mortalidade materno-infantil até 2015, conforme preconiza as Nações Unidas


Reduzir as taxas de mortalidade infantil e materna, e deter os casos de aids. Esses são os principais obstáculos para que o Paraná atinja integralmente as metas propostas há 11 anos nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), acordo intermediado pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre 191 países. Segundo levantamento recente divulgado pelo Observatório de Indicadores de Sustentabilidade (Orbis), 93 cidades não irão conseguir reverter até 2015 – ano limite para o cumprimento das metas – a propagação do vírus HIV no estado. Já outros 69 e 49 municípios dificilmente alcançarão os objetivos de reduzir em dois terços o índice de mortalidade materna e em três quartos o índice de mortalidade infantil, respectivamente. 


Os objetivos do milênio contemplam metas em diferentes áreas, como redução da pobreza, universalização da educação, garantia da sustentabilidade ambiental e igualdade entre os gêneros. Apesar de, na média geral, o Paraná estar adiantado no cumprimento das metas, as melhorias previstas nas áreas da saúde não são compartilhadas por boa parte dos municípios. A dificuldade na redução do índice de mortalidade materna, inclusive, reflete um desafio nacional: o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) prevê que este é um dos objetivos com risco de não serem cumpridos no Brasil.

Entrevista
Flávio Arns, governador do Paraná em exercício
A redução da taxa de mortalidade materna é um dos objetivos que não devem ser alcançados em pelo menos 49 cidades. Há como reverter esse cenário?
É preciso observar que a taxa de mortalidade materna em Curitiba é de 12 mortes a cada 100 mil habitantes, o que é um índice comparável a países desenvolvidos. Por outro lado, em nível estadual, o índice piora bastante, na faixa das 35 mortes a cada 100 mil. Em Curitiba, o índice está melhor particularmente pelo programa Mãe Curitibana, em que há acompanhamento médico frequente, consultas periódicas, exames à disposição. Queremos instituir no Paraná essa mesma estrutura. Se você trabalhar junto com a Pastoral da Criança, oferecendo um programa bem estruturado, não tenho dúvidas que o índice vai diminuir.
No caso da aids, falta conscientização ou a prevenção oferecida não é suficiente?
Os médicos apontam que os índices de contaminação pelo HIV têm aumentado em todo o Brasil porque hoje a pessoa percebe que não morre mais da doença e acaba relevando o fato de que pode ficar doente e depender de medicamentos para o resto da vida. Ao mesmo tempo, pílulas contra a impotência prolongaram o período da vida em que a atividade sexual pode ser feita. Isso tudo passa por uma questão de conscientização e conhecimento sobre o tema. Não é uma questão somente de saúde pública, e sim também de educação, não só na escola, mas dentro das comunidades, nos grupos de jovens.
Falta um maior envolvimento da sociedade?
Tem muita gente que sabe bem o que fazer e pode ajudar extraordinariamente, como as pastorais. Dialogando, se você respeita e leva em conta o ponto de vista dos outros, consegue a união em torno dos objetivos que quer atingir. Isso é fundamental para a mortalidade materna, promoção da saúde e prevenção às doenças sexualmente transmissíveis.
Londrina sofre para melhorar pré-natal
Londrina está entre os 49 municípios paranaenses com o quadro mais crítico de mortalidade materna, com redução de apenas 22% nas mortes entre 1990 e 2009, de acordo com os dados do Obser­va­tório de Sustenta­bilidade (Orbis). Nos últimos anos, o município conseguiu aumentar o número de consultas de pré-natal na rede de saúde, mas a qualidade do pré-natal ainda não é satisfatória, segundo a supervisora de enfermagem do Hospital Evangélico, Neusa Queiroz de Aquilar.
No país, a mobilização para atingir os objetivos ocorre principalmente por meio dos movimentos “Nós Podemos”, espalhados pelos estados com o objetivo de desenvolver ações em parcerias entre poder público, iniciativa privada e organizações não-governamentais. Para um dos articuladores do movimento no Paraná, João Frederico Souza, os obstáculos são maiores na área da saúde justamente pelas limitações do atendimento público não só no estado, mas em todo o Brasil.
“O cumprimento das metas de saúde depende muito de políticas públicas eficientes”, argumenta Souza. “Primeiro de tudo, é preciso oferecer uma boa qualidade de serviço. Conseguimos, com o movimento, o apoio de empresas e entidades, mas as pessoas que não têm condição de serem atendidas no setor privado não conseguem, em parte, alcançar tratamento eficaz pelo município ou estado”.
Reforço
O governador do estado em exercício, Flávio Arns, reconhece que o Paraná ainda precisa avançar significativamente na melhoria e expansão da saúde pública. Segundo o Orbis, grandes cidades como Londrina, Maringá e Guarapuava estão entre as que não irão atingir as metas de redução da mortalidade materna e dos casos de HIV.
Uma das medidas lançadas pelo governo para tentar reverter o cenário foi o lançamento do programa de saúde Hospsus, que prevê o repasse mensal de até R$ 40 mil para qualificar o atendimento de gestações de alto risco, a fim de combater tanto o óbito da mãe quanto do recém-nascido. Em todo o Paraná, 48 hospitais públicos e filantrópicos aderiram ao programa.
Também como parte das ações para buscar o cumprimento dos ODM, o superintendente de Vigilância em Saúde do estado, Sezifredo Paz, afirma que o Plano de Ações e Metas do Paraná para o período de 2012 a 2015 prevê o reforço na conscientização e mobilização dos próprios gestores dos municípios para a implantação de políticas de combate à aids. Paz reforça, porém, que as mortes ligadas à doença têm caído significativamente no estado.
“A ocorrência de Aids vem caindo em todas as faixas etárias. Mas é lógico que ainda há uma preocupação, principalmente em relação às jovens do sexo feminino de 15 a 19 anos, uma das faixas mais atingidas. De maneira geral, o combate à doença no estado passa pela informação, conscientização e reforço no diagnóstico”, argumenta.
Média nacional
Desigualdade entre estados reduz desempenho
Estudo divulgado em junho pelo Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo apontou que o Brasil teve avanços em quase 70% de 26 indicadores que servem de referência para as metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Considerando os progressos obtidos nas duas últimas décadas, o país ficou na 32.ª colocação entre as 98 nações que integram a pesquisa.
Apesar da posição relativamente “confortável” do país no panorama global, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Brasil reconhece que algumas metas, em especial as que tratam do acesso a saneamento básico e da redução da mortalidade materna, não devem ser cumpridas até 2015. Quando observados por estados, os números mostram que existe uma disparidade.
Enquanto alguns já superaram as metas de reduzir a mortalidade infantil em dois terços, como Paraíba, Pernambuco e Ceará, por exemplo, outros seguem a passos lentos. Faltando quatro anos para 2015, Tocantins e Maranhão percorreram apenas 10% e 6% do caminho pretendido para se atingir o mesmo objetivo.
A situação é ainda pior na redução da mortalidade infantil. De 1996 a 2009, em apenas sete estados houve redução de fato. Os dados são do Observatório de Indicadores de Sustentabilidade. “Costumamos dizer que o Brasil vai atingir quase todos os objetivos. Mas isso na média. Quando entramos no detalhamento dos dados, vemos que ainda há muita desigualdade”, relata a coordenadora de Planejamento Estratégico do Pnud, Maria Celina Berardinelli Arraes.
Para ela, a disparidade nos avanços dos objetivos ocorrem não só devido às desigualdades econômicas e sociais entre os estados brasileiros, mas também pelos diferentes graus de mobilização apresentados em cada região. “Nossa estratégia para os próximos cinco anos será fortalecer e motivar os movimentos estaduais, buscando uma maior mobilização da população e, por consequência, dos gestores públicos”, analisa.

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