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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Hospitais privados pagam mais a médicos e socorristas ao receber segurados dos melhores planos de saúde

Fabíola Gerbase fabiola.gerbase@oglobo.com.br

Catharina Wrede catharina.wrede@oglobo.com.br

A máfia das internações que atua em hospitais privados no Rio e em municípios vizinhos, denunciada ontem pelo GLOBO, tem como principal alvo pacientes segurados por planos de saúde considerados de primeira linha. O valor pago pelos hospitais envolvidos no esquema de pagamento de propina é maior se o doente tiver um plano de saúde "melhor", ou seja, se for um dos que repassam valores mais altos por um dia de internação.

A conversa com o funcionário que opera o esquema no Hospital do Amparo, no Rio Comprido, revelou que a propina, no caso de um paciente internado por mais de 48 horas em CTI, é normalmente de R$300. Mas o valor chega a R$600 se o doente for segurado pelos planos de primeira linha. Ele explicou que "o interessante é ter planos diferentes" no hospital.

Na Casa de Saúde Pinheiro Machado, em Laranjeiras, o contato do esquema é um funcionário do setor de faturamento. Depois que uma pessoa que trabalha na internação libera a vaga pedida pelo técnico de enfermagem ou médico da empresa de remoção hospitalar, esse funcionário entra em cena para acertar o pagamento da propina. No telefonema dado pela repórter do GLOBO, que simulou interesse pelo esquema, ele reclamou que a Vida UTI Móvel, uma das principais envolvidas, não está levando para a casa de saúde os pacientes de "convênios bons". Pela internação deles em CTI, o funcionário oferece R$600. Já se o segurado for de um plano "pior", o valor da propina cai para R$250.

Os valores repassados ao hospital por um dia de internação por cada plano de saúde variam muito. Na maioria dos casos, as seguradoras não revelaram números por questões de concorrência, mas informaram que os valores consideram critérios como a gravidade do caso e a idade do paciente, o tipo de doença e o número de procedimentos realizados.

A Unimed-RJ, por exemplo, paga aos hospitais entre R$1,2 mil e R$6 mil por um dia de internação em CTI. O valor de uma diária em quarto vai de R$450 a R$950. A seguradora afirmou que repudia procedimentos que não privilegiem as necessidades clínicas dos clientes ou que as coloquem em segundo plano. Já a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi) informou que o repasse máximo por um dia em CTI é de R$2.084 e, em quarto, de R$1.142. As propinas pagas pelos hospitais aos funcionários das empresas de remoção variam entre R$50 e R$600.

Vereador quer CPI para apurar denúncias

A denúncia da existência de uma máfia das internações atuando em clínicas e hospitais privados deixou entidades ligadas a planos de saúde e especialistas do setor horrorizados. O vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores do Rio, Paulo Pinheiro, se disse "envergonhado" e "indignado" com a denúncia de que funcionários de ambulâncias recebem propina para enviar pacientes para clínicas privadas, interessadas em manter seus leitos cheios, e prometeu tentar instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a denúncia.

- Isso é a mercantilização do sofrimento humano - definiu o vereador.

Pinheiro disse ainda que tomará outras providências. Ele pedirá ao Ministério Público estadual que instale um inquérito civil e cobrará providências da Delegacia de Saúde Pública para que ela investigue o caso.

- Por último, é necessário atentar para a questão ética e pressionar o Conselho Regional de Medicina do Rio e o Conselho Regional de Enfermagem, se tivermos nomes de envolvidos.

A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que representa 15 grupos privados de assistência à saúde, disse desconhecer o esquema e acrescentou que, caso as irregularidades sejam comprovadas, as associadas saberão adotar as providências cabíveis. Já Solange Beatriz Mendes, diretora executiva da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), da qual a FenaSaúde é filiada, lamentou a prática nos hospitais:

- Estou barbarizada. Temos todo o interesse em saber de práticas que agridam os seguros. Na confederação, existe um setor que se dedica à apuração de fraudes. O segurado que se vir envolvido em práticas que considere estranhas deve denunciar.

Carlos Alberto Esch, diretor do Hospital Clínica Ipanema, um dos locais suspeitos de participar do esquema de propinas, negou as acusações e sugeriu que a culpa seja de ex-funcionários:

- Estamos fazendo uma reestruturação na clínica, e 40 pessoas estão sendo demitidas. Ninguém gosta de ser demitido, né? Só pode ser uma denúncia falsa de um deles.

2 comentários:

  1. Isso não é verdade o hospital esta em reestruturação nada , ele nem mais está lá no hospital como diretor tem 4 meses que estamos abandonados é agora ele vem falar com reestruturação , se o hospital não tiver paciente não tem salário e eles pagam sim por propinas , há mais de 2 anos , dependendo do convênio pagam um valor até maior, se quizer eu posso provar pois recebia valor depositado na conta .

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  2. Devida a falta de pacientes o hospital está demitindo 120 funcionários , como eles não pagam nem sala´rio como dizem os proprios recepcionistas e não pagam indicações pela indicação de pacientes o hospital fica vazio porque eles dão prioridades a quem paga como o hospital clinica ipanema não paga nada não mandamos paciente. Os funcionários estão assustados com tudo o que esta acontecendo ,parecem que eles vão falir.

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