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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Protesto de ricos contra 'gente diferenciada'


Moradores do Morumbi, bairro nobre da zona sul de São Paulo, vestiram suas camisetas brancas para protestar, no domingo (28) perto do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
O que eles queriam?
Pediram mais segurança no bairro, em um movimento chamado de SOS Morumbi. Querem ainda uma subprefeitura própria e a instalação de uma base policial fixa dentro da comunidade de Paraisópolis.
Quase não dá para esconder que o protesto teve como alvo a favela de Paraisópolis, onde mora "gente diferenciada".
Os manifestantes começaram dizendo que é preciso que o governo trabalhe para reduzir a desigualdade social. Mas piorou. "O Morumbi está ilhado entre três favelas. A diferença social é muito grande", pontuou uma moradora.
Outro morador disse: "Estamos indignados com o que acontece em São Paulo e particularmente no Morumbi, onde não temos o direito de ir e vir. Temos que nos proteger cada vez mais, temos que ter segurança, escola particular, seguro de saúde particular".
O ato terminou com os moradores soltando balões brancos ao céu.
A resposta veio da favela
Muros e mais segurança particular não resolvem. O presidente da União dos Moradores de Paraisópolis, Gilson Rodrigues, respondeu com uma carta. O comunicado diz que os moradores da comunidade sofrem tanto ou mais com a realidade criticada pelo movimento SOS Morumbi.
"A solução para isso, no entanto, não passa por aumentar o muro que divide o Morumbi de Paraisópolis", criticou. Ele defende a continuidade de ações do poder público com investimentos em educação, saúde, esporte e moradia.
"O que mais diferencia os jovens que moram em Paraisópolis daqueles que moram no Morumbi é a ausência de oportunidades iguais", sugere Gilson Rodrigues.
Depois de excluir, reclamam
O poder efetivo no país e no estado mais rico da federação, São Paulo, sempre foi exercido pela elite. Os pobres só recentemente experimentam aumento do poder aquisitivo e o direito de participar mais efetivamente da sociedade civil. A elite reclama, mas o que fez pelo país? Qual foi o seu exemplo? Desmandos, falta de planejamento, privilégio e exclusão. E apontam mais exclusão como solução.
Não é o país que queremos.
Eles só se esqueceram que é por culpa do egoísmo de gente como eles, preocupadíssimas com o próprio bem estar e eternamente empenhadas numa busca frenética por dinheiro, que os pobres desse país foram  empurrados para a miséria, que faz nascer dentro de cada um a revolta. Parte dessa falta de perspectivas contribui para o aumento da criminalidade.
Mas responsabilizar os outros é fácil... Difícil seria assumir a parcela de culpa (que direta ou indiretamente recai sobre a turma). A elite só conhece uma causa: a própria. Só lutam por eles próprios, exigindo direitos que negam aos outros.
Um dos preços para a sociedade injusta e desigual que criaram é caro demais: a violência.
Mas se preocupam com a questão da segurança, não com a violência que atinge a outras pessoas. Como a violência que é haver alguém vivendo na miséria, sem ter o que comer nem onde morar. Sem ter um pedaço de terra de onde possa tirar o sustento da família.
A violência imposta aos que vivem espremidos em condições sub-humanas em casas construídas em encostas de morros – em muitos casos, os únicos lugares não ocupados pelo modelo predatório da especulação imobiliária. Nos guetos "made in brazil", onde humilhados e ofendidos tentam desesperadamente sobreviver, recebendo da sociedade somente desprezo.
Por tudo isso, quando brasileiros de classes mais abastadas sofrem com assaltos, sequestros e insegurança pública, vale a pena lembrar que há uma dívida social que precisa ser saldada. De nada adiantará fazer planos para combater a criminalidade, se continuamos na mesma pisada de sempre: o lucro crescente dos exploradores fazendo crescer a miséria dos explorados...
Apesar de tanto protesto, nenhum daqueles participantes concorda em entregar um só centavo dos seus ganhos para mudar a tal desigualdade. Especialmente se for em um sentido de mudança mais profundo.
Ah, claro! Ainda falam mal de projetos sociais do governo como cotas nas universidades. Usam roupas brancas, faixas, cartazes... E gastam uma grana em gastos com seguranças particulares, condomínios fechados, circuitos internos de TV, cercas eletrificadas e carros blindados...
Nesse cabo de guerra, de tanto ser puxada, a corda pode partir. O problema é que, em muitas vezes, caem os que estão dos dois lados.
* Helena Sthephanowitz™ é jornalista e autora do blog Os Amigos do Presidente Lulae do Os Amigos do Brasil. Ela escreve no Na Rede, da Rede Brasil Atual.

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