na Gazeta do Povo
Ao longo da década passada, os discos de vinil voltaram a atrair a atenção da indústria fonográfica e várias bandas de renome internacional, como o Radiohead, divulgaram álbuns tanto na internet quanto nos velhos discões pretos. In Rainbows , penúltimo trabalho dos ingleses, por exemplo, vendeu 13 mil cópias em 2007 na versão em vinil. Pensando neste mercado em expansão e em reunir adoradores dos “bolachões”, o Canal da Música inicia amanhã uma programação em comemoração ao Dia Internacional do Vinil, com uma série de palestras, exposições, feira de troca e venda e discotecagem com vinis (veja quadro abaixo). O evento é promovido pela Secretaria de Estado da Cultura, em parceria com a rede E-Paraná e o Museu da Imagem e do Som (MIS).
Paixão
Uma volta para o futuro
Paulo Vítola, presidente da E-Paraná
Com o retorno das gravações em vinil, estão voltando os bons tempos em que ouvir um disco era programa valorizadíssimo pelos apaixonados por música. Um novo disco de João Gilberto, de Maria Callas ou dos Beatles era aguardado com incomparável grau de ansiedade e, quando chegava à loja, tornava-se objeto de irresistível desejo. Diante dele, o verdadeiro aficionado ficava logo com as palmas das mãos ligeiramente úmidas e, podendo, não saía dali sem levá-lo para casa.
Claro que não sem antes examinar bem o álbum – isso mesmo, naquele tempo os artistas gravavam álbuns! E como eram bonitos! Muitas vezes, as capas atingiam a categoria de obras de arte, graficamente bem cuidadas, impecáveis. Além de conter encartes com as letras e informações técnicas, lá estavam eles, bem protegidos por envelopes de plástico transparente: os pretos reluzentes, maravilhosos bolachões de vinil. Aqueles que o curtidor retirava da embalagem fazendo uma pinça com a ponta do indicador e do polegar e exibindo no semblante um misto de respeito, sofreguidão e encantamento. Jamais tocava os microssulcos com os dedos, apenas as bordas e o selo central. Colocava-o na picape da sua radiola, vitrola ou aparelho de som, normalmente acompanhado de amigos ou familiares convidados para ouvir. O ritual se repetia diversas vezes por ano, a cada lançamento importante, e parecia mesmo uma celebração quase religiosa. Só quem viveu essa experiência, sabe o que estou dizendo. Todos ficavam observando o braço da vitrola mover-se até fazer com que a agulha pousasse suavemente sobre o disco a girar. Tinha início, nesse ponto, a melhor parte. A audição perfeita de um trabalho musical com todas as nuances de som.
Qualidade
As técnicas de captação de som, mixagem, elaboração da matriz e prensagem atingiram o seu apogeu na década de 1970. Nenhuma outra forma de reprodução do som, anterior ou posterior ao vinil, conseguiu chegar perto da qualidade então apresentada pelos LPs. Não é por outra razão que os vinis voltam a ser prensados pelas poucas fábricas que sobreviveram à invasão das mídias digitais. Para quem gosta de ouvir música com qualidade, eles são simplesmente o máximo. Atenta a esse fenômeno, a indústria eletroeletrônica também investe na produção de novos e sofisticados aparelhos, que enchem os olhos e satisfazem plenamente os ouvidos dos mais exigentes apreciadores. Não se trata de um retorno ao passado, mas da retomada de um caminho de muito futuro, que merece ser efusivamente saudada e celebrada por todos nós.
Como parte da celebração ao vinil, durante a sexta-feira, a rádio E-Paraná FM vai tocar, a cada 30 minutos (das 7h às 19h), uma faixa de algum disco no formato clássico. Segundo o presidente da E-Paraná, Paulo Vítola, a ideia decorre do grande acervo em vinil da rádio: mais de 13 mil LPs de música clássica e MPB. “É uma discoteca que vem sendo acumulada com o passar dos anos, com uma variedade enorme”, conta Vítola. “É uma mídia incomparável. A qualidade do som é perfeita, você ouve todas as nuances e os graves aparecem com muito mais evidência do que em CD ou MP3”.
Outra vantagem do disco, diz o professor de eletromagnetismo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Antonio Carlos Pinho (um dos palestrantes da programação), é a proximidade que a mídia gera entre o artista e o ouvinte. “O MP3 e o CD são uma forma pálida de conhecer o artista. Hoje o ouvinte de uma banda só consegue uma comunicação eficiente quando vai a um show”. O professor acredita que as vendas de vinil só não aumentam mais por causa do preço: um lançamento pode custar cerca de R$ 80. “Os custos de produção são mais altos e hoje um disco de vinil é algo para colecionadores exigentes. É um mercado focado, que oferece até máquinas caríssimas para fazer a limpeza dos discos em casa”.
Também na sexta-feira, às 19 horas, começa a exposição Eu Amo Vinil, com 150 capas de LPs e oito vitrolas antigas, acervo de colecionadores e do MIS. A mostra fica em cartaz até domingo no hall inferior do Canal da Música e traz um resumo da trajetória do vinil no mercado fonográfico brasileiro, dividido em cinco temas: “Destaques da Música Paranaense”, “A Arte Gráfica de Elifas Andreato”, “Psicodelia no Rock dos anos 60/70”, “Trajetória da MPB” e “Trilhas de Cinema de Todos os Tempos” – esta última, baseada na coleção pessoal do produtor audiovisual Tiomkim, que trabalha no MIS há mais de 20 anos.
Desde a década de 1960, por influência do pai, o maestro Oswald Siqueira Filho, Tiomkim coleciona discos de trilhas sonoras de filmes. “Sempre que alguém viajava para o exterior, eu pedia para comprar. Como vou ao cinema desde criança, adorava as músicas dos filmes, mas me encantava principalmente com as capas dos discos, que são obras de arte.” Tiomkim tem mais de 500 discos de vinil somente de trilhas sonoras e vai expor desde LPs clássicos, como o do filme Psicose, de Alfred Hitchcock até o do longa-metragem Sopro no Coração, de Louis Malle, filme que ficou alguns dias em cartaz no país e foi retirado pela censura em 1971.
Serviço:
Dia do Vinil. Canal da Música (Rua Júlio Perneta, 695 – Mercês).
De 12 a 14 de agosto. 6ª, às 19h. Sáb. e dom.,
a partir das 10h.
Entrada franca.
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