Na foto, um casal de joviais marchantes devidamente paramentados para participar do "NeoCansei"
Na badalada “marcha contra a corrupção”, que agitou a Avenida Paulista no Dia da Independência, uma manifestante despertou a curiosidade da repórter Clara Roman, da revista CartaCapital:
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Era a estréia da estilista Giovana Dias, de 41 anos, em uma manifestação de rua. Uma estréia com estilo: não foi por uma causa qualquer, mas contra a corrupção que, dizem por aí, corrói os bons hábitos nacionais. Como parte do coro dos indignados, ela estacionou numa área próxima da concentração e seguiu os manifestantes a pé.
A marcha, contou ao fim do passeio, foi “emocionante”. Aliás, pontuou ela, será “a primeira de váááááááááááááááááárias” que ainda vai participar. “Eu sinto a emoção de ser cidadã, a energia”, diz Giovanna..., a estilista que nas últimas eleições votou em José Serra, um político, segundo ela, de boa conduta.
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Celebridades, ricaços e maracutaias
A mesma estilista não deve ter gostado muito da notícia publicada no sítio do Congresso em Foco – se é que ela leu a matéria tão pedagógica. Segundo a reportagem, a SP Fashion Week, maior evento de moda do país, deve ao Ministério do Turismo cerca de R$ 300 mil. Ela pegou dinheiro público e não concluiu a prestação de contas. Está inadimplente, num caso típico de calote.
A SP Fashion Week reúne a nata da elite brasileira apaixonada por roupas de grife e desfiles de moda. Em dez anos de existência, ela já contabilizou mais de um milhão de visitantes, 350 modelos e 2 mil jornalistas credenciados. O evento é destaque nos meios de comunicação, em especial na TV Globo. Ele envolve e excita gente famosa, ricaços e artistas “globais”.
R$ 1,8 bilhão em negócios
“Estima-se que, em negócios diretos e indiretos, movimente cerca de R$ 1,8 bilhão nos dois eventos que acontecem a cada ano. Mesmo assim, a São Paulo Fashion Week é um dos eventos que, de acordo com o Portal da Transparência do governo federal, está inadimplente com o Ministério do Turismo”.
Apesar da fortuna envolvida neste negócio privado, a SP Fashion Week vale-se do dinheiro público para realizar seus eventos. Tudo é feito através do Instituto Nacional de Moda e Design (In-Mod), organização responsável pelos convênios com o Ministério do Turismo. No acordo firmado em 2007, no valor de R$ 300 mil, até hoje o instituto não apresentou os documentos exigidos.
Rombo de R$ 80 milhões
A Fashion Week não é o único evento das elites que dá calote. Outras entidades metidas no glamoroso mundo da moda também estão inadimplentes - e depois ainda fazem alarde, na maior caradura, contra a corrupção e a “gastança pública”. O Congresso em Foco descobriu cerca de 500 convênios irregulares firmados com o Ministério do Turismo. O rombo total chega a R$ 80 milhões.
“Pelas regras, as instituições inadimplentes ficam proibidas de receber novos recursos do ministério enquanto não regularizarem sua situação. A falta de prestação de contas ou de comprovação de que o evento foi realizado é uma das causas mais comuns para caracterizar a inadimplência”. Mesmo assim, a SP Fashion Week firmou novos convênios após as irregularidades de 2007.
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