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domingo, 2 de outubro de 2011

Vange Leonel: A questão não é ser politicamente correto, mas ser politicamente responsável


Politicamente responsáveis


Seja lá quem ou o que nos criou nos fez de todas as cores, raças, sexos, espécies e orientações sexuais. Mas, quando alguém defende equiparação de direitos e tratamento ético para todos, é tachado de chato-politicamente-correto.
Claro que a reivindicação de direitos não deve ser rancorosa, e eu acredito no poder revolucionário do humor. No entanto, os que se dizem contrários à correção política pecam igualmente pelo mau humor (e falta de originalidade) quando, por exemplo, chamam feminista de mal-amada e ambientalista de ecochato.
Confesso que não aprecio o termo "politicamente correto", porque acho correção algo mais apropriado para ambientes penitenciários. Prefiro a expressão "politicamente responsável", que implica responsabilidade por aquilo que se fala e faz, correto ou não. Quando você apela para tiradas do tipo "toda loura é burra" ou "não sei por que bato, mas minha mulher sabe por que apanha" pode até arrancar um riso ou outro, mas a piada tem fôlego curto: vai ter graça só até o momento em que sua mãe, irmã ou filha apanharem do marido e uma loura te superar num teste de inteligência.
É sempre bom lembrar que não existe fato fora de contexto, generalização que sempre se sustente ou ação (ou piada) sem responsabilidade e conseqüência. Não há razão ou espírito na provocação pela pura provocação.
Precisamos de mais discussões generosas, contextualizadas, grávidas de suas próprias contradições, não-inocentes e aprofundadas. Reduzir a questão entre os que são contra ou a favor da correção política é burrice.

publicado na Revista da Folha em 12/03/2006

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