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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A CPI e o velho tanque de guerra


no Zé Beto


A imagem do velho tanque de guerra se arrastando lentamente, mas indo em frente e passando por cima dos obstáculos é perfeita para a situação que os curitibanos vivem neste momento em que os nobres vereadores responsáveis por uma investigação sobre um dos seus pares, ou melhor, o mais poderoso deles, termina da forma que foi anunciada antes mesmo de começar. 

Primeiro porque a própria instalação da CPI foi um conchavo entre eles mesmos, a turma do apoio incondicional, uma forma de se montar uma espetáculo para fazer o tempo passar e aliviar a pressão em cima do presidente da casa, atropelado que foi pelas denúncias que vazaram a partir de relatório do Tribunal de Contas, exposto provavelmente na esteira da briga pelo poder na capital que terá seu lance definitivo na eleição para prefeito no ano que vem. Os papeluchos deixaram o rei nu, justamente ele que seria o coadjuvante principal na campanha, apesar de o prefeito atual negar isso até o fim dos tempos, mesmo porque, se não fizesse, afundaria junto neste mar, apesar de não ter nada a ver com as denúncias. 

Até que os integrantes da chamada base de apoio ao Executivo resolvessem se manifestar para que se desse uma conotação de seriedade e vontade de uma investigação sobre os fatos que a chamada opinião pública, vulgo povo, já sabia de cor de tanto acompanhar o noticiário, quanto tempo demorou? Um século, para que nos bastidores se alinhavasse um script onde, no fim, entre mortos e feridos, todos se salvassem. 

O resultado é esse que será apresentado hoje, na forma de um relatório onde os indícios apresentados desde o início pelo Tribunal de Contas, que se baseia apenas em tão somente em provas reais, ou seja, documentos, vão exatamente na direção oposta. Os homens públicos brasileiros, em sua maioria, ainda acham que a plateia que assiste a tais espetáculos é composta de seres inertes, que não conseguem pensar, ou seja, idiotas completos. Enganam-se. Eles é que não conseguem ver que, devagar, como o deslocamento do velho tanque, as coisas estão mudando. 

Antes se cometiam atos inescrupulosos, assaltos aos cofres públicos, sem que nada se ficasse sabendo – e a impunidade se transformasse numa espécie de bálsamo a reforçar a ideia do sacripanta de que ele tinha este poder de pintar, bordar e ainda aparecer com cara de santo como defensor dos interesses da sociedade. Hoje, pelo menos, alguns casos são escrachados pela imprensa. A impunidade continua, o que é pego em flagrante delito continua com cara e declarações de anjo ofendido, mas quem paga a conta fica sabendo de fato o que ele é. Um grande avanço! 

O tal tanque é alimentado pelo principal combustível numa democracia – o voto. Sim, as máquinas eleitorais construídas por tais figuras até conseguem uma sobrevida política para eles, mas o poder que parecia indestrutível, inabalável, este não existe mais, também porque neste mundinho sombrio o aliado de hoje é o traidor de amanhã – por uma questão de sobrevivência. E sem poder, estas pessoas murcham. 

Se o resultado da CPI em questão é este anunciado, que o Ministério Público, o Tribunal de Contas e, por fim, a Justiça, coloquem suas lentes em cima para uma investigação isenta – se é que é possível.

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