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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Desespero compatível com a ganância: tramitação de projeto privatista foi liquidada na calada da noite e em tempo recorde



Os deputados paranaenses da base de apoio ao governador Beto Richa (PSDB) protagonizaram um dos piores episódios da história do Paraná ao levantarem as cancelas para a privatização, retomando uma investida neoliberal que começou lá no Governo Lerner. De forma sorrateira, na calada da noite e atropelando a opinião pública, aprovaram por 39 votos contra apenas 8 (os sete da bancada do PT e mais o deputado Rasca Rodrigues, do PV) o projeto de lei 915/2011. Por uma manobra de quem tentou se esconder no plenarinho para votar a matéria em sessão secreta, os deputados aproveitaram a ausência do povo nas galerias para liquidarem à toque de caixa a tramitação do projeto. Um desespero só compatível com a ganância pelos rendimentos vantajosos que resultarão dessa “entrega” do patrimônio público. Teve de tudo: protesto, truculência que instigou a invasão do Plenário, fuga, omissão, covardia e muitos deputados só se sentiram confortáveis para se pronunciar em favor da privataria quando o povo já estava bem longe. O deputado do PRB, Pastor Edson Praczyk, justificou sua votação com a base do governo, dizendo que ficou escandalizado quando um manifestante disse que se ele votasse pela aprovação do projeto das OSs, “iria para o inferno”.
Chegou-se a prometer um acordo para votação apenas do mérito do projeto e deixar para hoje o restante. Mas isso também caiu por terra. E como acreditar em palavra empenhada de quem fala em nome de um governador que, enquanto prefeito da Capital, se comprometeu a cumprir seu mandato até o último dia e não o fez? Episódios hilários não faltaram: na sessão que iniciou secreta no Plenarinho da Casa, enquanto a base oposicionista aumentava ainda sob o calor da presença do povo nas galerias e tentava impedir quórum à votação, deputados do PMDB, como Luiz Eduardo Cheida, e o maior acusado pelos tucanos de motivar a invasão, deputado Professor Lemos (PT), foram alguns dos que garantiram o tal número mínimo para retomar os trabalhos e atropelar a opinião pública. Lemos, num lapso, estava preocupado em defender um projeto seu vetado pelo governador, como se argumentação naquele momento adiantasse alguma coisa. E toda a culpa que tentam maldosamente lhe imputar para atingir o PT e os movimentos sociais tende a recair apenas na forma de uma perseguição furiosa e pesada contra uma assessora do petista. Uma jovem idealista e que acredita que a participação popular, cidadã tenham voz no nosso estado é quem pode pagar caro pela truculência do governo tucano.
O Fórum Popular da Saúde e as entidades presentes no protesto já anunciaram que vão continuar a campanha contra a implantação dessas investidas de privatização dos serviços públicos. Por que tanto medo, tanta manobra e tanta brutalidade, Beto Richa?
Um episódio triste foi narrado por funcionário do Legislativo que conversou com policiais à paisana que estavam de prontidão no prédio da ALEP. O funcionário conta que os policiais estavam cansados, pois já haviam, no dia anterior, trabalhado na operação do clássico Atletiba e foram recrutados às pressas, tirados da rua, para fazer a segurança da Assembleia. “Tudo pelo social”, disse um deles. Ao que o funcionário rebateu: “só que, hoje, o social está do lado contrário ao que vocês vieram proteger”. Os policiais concordaram. Eles também perceberam que os únicos usuários do SUS ou do SAS que estavam ali eram justamente os manifestantes e os policiais e o quanto havia sido ingrato para eles “ganharem o dia” de trabalho nesta segunda-feira. Os 39 deputados que defenderam com afinco a elevação das cancelas para a privatização, não entendem de saúde pública, nem sabem do que se trata, a não ser pelos serviços assistenciais que promovem ou, melhor dizendo, que se auto-promovem sobre a dor das pessoas mais carentes. A decisão da calada da noite de ontem ainda vai amargar e muito no bolso do contribuinte e na qualidade do atendimento prestado à população que mais necessita deles. Em vez da necessidade humana, o que vai pesar na balança será o lucro dos gestores da saúde. Um retrocesso sem tamanho!

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