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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Governo federal não tem perfil “gastador”, como acusam adversários, mas “transferidor”


Estudo diz que governo federal transfere mais dinheiro do que gasta
Em dez anos, peso das despesas com servidores e máquina pública fica estável, como proporção do produto interno bruto (PIB), enquanto transferências do tipo aposentadorias e bolsa família mordem 2,7 ponto percentual a mais. Investimentos também crescem, mas menos e abaixo da média internacional. 'Debate precisa ser qualificado', diz pesquisador.

BRASÍLIA - O governo federal não tem perfil “gastador”, como acusam adversários políticos, mas “transferidor”. Em dez anos, o aumento do gasto público como proporção do produto interno bruto (PIB) não resultou da elevação de despesas com pagamento de salário ou compra de material de escritório, mas sim com a área social, por meio de transferência de renda. É o que diz estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado nesta quinta-feira (1).

Segundo o estudo, a fatia do PIB - soma das riquezas geradas no país - destinada à compra de bens e serviços e ao pagamento do funcionalismo se manteve estável entre 2001 e 2011. Já as transferências de recursos federais para famílias, empresas, governadores e prefeitos aumentaram em 2,7 ponto percentual seu peso no PIB. 

Só os repasses do tipo aposentadoria e bolsa família responderam por 2 pontos, dos 2,7. Hoje, as transferências todas representam cerca de 21% do PIB. Em menor grau, e abaixo da média internacional, os investimentos públicos também reforçaram seu espaço no PIB (0,3 ponto a mais). Entretanto, ainda permanecem em menos de 1% do PIB.

“O governo federal está consolidando um padrão de intervenção cada vez mais transferidor e cada vez menos executor”, disse o técnico Rodrigo Orair, um dos autores do estudo. “Nossa preocupação é qualificar o debate sobre a natureza dos gastos públicos federais, que tem se baseado em preconceitos e premissas sem fundamentos”, afirmou outro técnico do órgão, André Calixtre. 

Das transferências efetivadas pelo governo, a maior parte (71,1%) é para famílias. E, destas, a maior fatia (um terço) são despesas previdenciárias, seguidas por políticas de garantia de renda a desempregados, como seguro-desemprego e abono salarial (26,5%), e pelas políticas de proteção aos deficientes físicos e idosos (16,2%), por meio da Lei Orgânica de Assistência Social (Loas). Programas sociais de transferência de renda, como o Bolsa Família, estão em quarto lugar, respondendo por 12% do bolo. 

As pesquisas do IPEA - não só esta - mostram que os efeitos da política de valorização do salário mínimo sobre os benefícios da previdência social, da Loas e dos programas sociais de transferência de renda contribuem com mais de um terço da participação das transferências às famílias no PIB. “A valorização do salário-mínimo tem sido um fator incontestável de distribuição de renda”, afirmou Rodrigo Orair. 

O governo também tem transferido mais renda para estados e municípios (29,2%). Em 2001, essa despesa significava 5,1% do PIB. Hoje, soma 5,8%. As transferências constitucionais e legais aumentaram 0,35% do PIB, puxadas, principalmente, por despesas com saúde, graças Emenda Constitucional 29, e com educação, por conta do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

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