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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Corrupção na medicina moderna


Allan S. Levin

Médicos honestos são pressionados pelos 
grandes laboratórios interessados em lucro e não em saúde

O Sr. J. é advogado em São Francisco e a Sra. J. é auditora com um escritório próspero em Santa Clara. Eles têm três filhos, sendo que o mais velho tem seis anos e o mais novo tem onze meses. Como não eram pais inexperientes e histéricos, não ficaram muito preocupados com a diarréia crônica do filho mais novo, até que ela foi além dos seis meses. Procuraram o melhor pediatra das redondezas e ficaram felizes quando conseguiram que o filho fosse examinado pelo professor catedrático da Universidade Stanford, um médico experiente e muito respeitado, com pouco mais de cinqüenta anos e que falava com autoridade. Ele fez o histórico e um exame físico e disse para a Sra. J.: "Olha, querida, Jimmy está muito bem. A diarréia dele é funcional. Incomoda mais a você do que a ele. Ele só precisa de um pouco de Kaomagna; você precisa de alguns comprimidos de Valium". A Sra. J. ficou ressentida com o modo condescendente do professor, porém, mais do que isso, não se sentiu bem com o diagnóstico dele. Por meio de um amigo, ela descobriu um médico dedicado ao estudo de doenças causadas por alimentos, fatores ambientais, além de bactérias e vírus. Esse tipo de médico costuma receitar menos medicamentos e, freqüentemente, promove mudanças alimentares e ambientais no lugar de prescrever medicamentos. Ele disse: "Sra. J., pode ser que seu filho seja alérgico a leite de vaca. Vamos experimentar um simples controle alimentar por algumas semanas e ver o que acontece". Dito e feito: dois dias após a suspenção do leite, as fezes do pequeno Jimmy ficaram normais. 

A Sra. J. ficou uma fera. Ela veio a mim e gritou: "Será que o Dr. da Universidade Stanford não sabe nada a respeito de alergia a leite?" Minha resposta foi: "Só posso imaginar duas razões por que o doutor não levou em consideração a alergia ao leite. Ou ele ignora a copiosa literatura publicada a respeito do assunto ou ele tem um particular interesse na distribuição de grande quantidade de medicamentos"

A saúde se tornou um negócio arquimilionário e os médicos continuam sendo os principais distribuidores dos produtos da indústria farmacêutica. À medida que aumentava o custo de desenvolvimento e comercialização dos medicamentos, os laboratórios intensificaram seus esforços para conquistar os médicos. 

Houve um enorme aumento, não apenas dos custos operacionais dos laboratórios, mas também dos lucros. O aumento de lucro atraiu concorrentes, o que provocou um aumento geral da publicidade sobre medicamentos. Anúncios em periódicos médicos e revistas se tornaram atrativos, porque os noticiários vinham cuidadosamente associados a "descobertas médicas". 

Esse "esforço de publicidade", que começou com presentes para médicos e estudantes de medicina, se tornou uma campanha maciça para moldar atitudes, pensamentos e diretrizes dos médicos. Os laboratórios empregam representantes para visitar os consultórios médicos e distribuir amostras grátis. Eles descrevem as indicações para esses medicamentos e tentam persuadir os médicos a usar seus produtos. Como qualquer outro vendedor, eles falam mal dos produtos de seus concorrentes, enquanto passam por cima das limitações dos seus próprios produtos. Os representantes não têm nenhuma formação médica ou farmacológica e não são fiscalizados por nenhum órgão estatal ou federal. Esse sistema de vendas teve tanto sucesso que, hoje em dia, o médico comum foi virtualmente treinado pelos representantes de laboratórios. Esta prática levou a um uso excessivo de medicamentos por parte dos médicos e por parte da população leiga. Uma recente pesquisa mostrou que, atualmente, uma em cada três internações é resultado direto do uso indevido de medicamentos vendidos com ou sem receita. 

A indústria farmacêutica corteja jovens estudantes de medicina, oferecendo presentes, passagens para participação em "congressos" e "material educativo" gratuito. Jovens médicos recebem de laboratórios verbas para pesquisa . As escolas de medicina recebem grandes somas de dinheiro para experiências clínicas e pesquisas farmacêuticas. Os laboratórios oferecem regularmente jantares de gala e coquetéis para grupos médicos. Eles fornecem verbas para a construção de hospitais, escolas de medicina e institutos "independentes" de pesquisa. 

A indústria farmacêutica, propositalmente, tem procurado exercer uma forte influência dentro das escolas de medicina. Na universidade, o médico é perito em doenças agudas, em doenças terminais e em modelos animais (cobaias) de doenças humanas. O médico tem pouca ou nenhuma experiência quanto às necessidades diárias de um doente crônico ou de um doente com sintomas precoces de doença grave. Como o médico acadêmico não depende da boa vontade do paciente para sua sobrevivência, o bem-estar do paciente se torna de pouca importância para ele. Esses fatores o tornam péssimo juiz da eficácia dos tratamentos e um simples peão no jogo da indústria da saúde. Com a ajuda de médicos acadêmicos de influência, os laboratórios conseguiram controlar o exercício da medicina nos Estados Unidos. Atualmente, eles estabelecem os padrões, contratando pesquisadores para fazer estudos que mostrem a eficácia de seus produtos ou desmerecem os produtos dos concorrentes. 

A indústria alimentícia e a indústria farmacêutica estão intimamente aliadas. Os laboratórios freqüentemente produzem os aditivos usados nos produtos alimentícios. Várias indústrias de alimentos foram compradas pela indústria farmacêutica. Esse conglomerado muitas vezes patrocina pesquisas em universidades de grande prestígio. Um professor de nutrição da Universidade Harvard publicou vários estudos comprovando que os aditivos químicos na comida não causam hiperatividade nas crianças. Ele publicamente endossou o consumo de refrigerantes, doces e aditivos químicos na alimentação infantil, argumentando que as crianças hiperativas não devem ser tratadas com controle alimentar, mas sim com os medicamentos de rotina. ANutrition Foundation prestigiou esse cientista, fundando um laboratório, com seu nome, no campus da Universidade Harvard. A terapia de rotina para crianças hiperativas implica no uso de Ritalina, uma droga semelhante às anfetaminas. Ritalina produz dependência, pode provocar comportamento psicótico e atinge altos preços no tráfico das drogas. 

Estes fatos descrevem apenas uma parte do problema. Médicos são pressionados para adotar tratamentos que eles sabem que não funcionam. Um exemplo claro é a quimioterapia, que não funciona para a maioria dos cânceres. Há mais de uma década existem provas mostrando que a quimioterapia não elimina o câncer do seio, do cólon ou do pulmão. Os estudos que relatam efeitos positivos da quimioterapia nesses tumores foram comprovadamente manipulados. A maior parte de estudos sobre quimioterapia de câncer considera os pacientes que morrem pela toxicidade dos medicamentos como "impossíveis de serem avaliados". Essas mortes não entram nas estatísticas de mortalidade. Em um conhecido documento sobre quimioterapia, os pesquisadores ignoraram as estatísticas das mulheres cujos tumores não respondiam. Apesar desta omissão clamorosa, a sobrevivência do grupo das mulheres tratadas foi apenas 12% superior ao grupo das mulheres não tratadas. Avaliando cuidadosamente o estudo original, fica evidente que a quimioterapiareduz o tempo em que viviam sem tumores? 

A maioria dos médicos concorda que a quimioterapia é ineficaz para a maior parte dos tipos de câncer. Apesar desse fato, médicos honestos são forçados a usar essa modalidade de tratamento por grupos de pressão, que têm interesse nos lucros da indústria farmacêutica. Quando um médico da Califórnia prescreve 5-flourouracil para um paciente com câncer no cólon, ele é recompensado. Isto acontece apesar de muitos artigos em revistas médicas de prestígio terem demonstrado que o medicamento não funciona. O mesmo médico não será recompensado ao tratar o paciente com alta dosagem de vitamina C. De fato, ele corre o risco de perder sua licença médica. Não há nada na literatura médica indicando que o tratamento nutricional de pacientes com câncer é perigoso. Por outro lado, existe vasta literatura sustentando o raciocínio científico que recomenda o uso deste tipo de tratamento. 

Situação semelhante existe no campo da alergia. Médicos acadêmicos — com o apoio da indústria alimentícia e da indústria farmacêutica — estão tentando desacreditar os pesquisadores que descobriram que a alergia a alimentos é um grande problema médico. Eles citam diversos estudos não controlados, enquanto ignoram a enorme quantidade de estudos científicos que mostram a disseminação de alergias a alimentos. 

Estes são apenas alguns fatos que mostram a corrupção no campo da medicina. O médico de família deixou de ter a liberdade de escolher o tratamento que ele julga ser o melhor. Ele precisa seguir regras estabelecidas por médicos comprometidos, cujas decisões podem não ser do interesse do paciente. Você, contribuinte, eleitor, consumidor, pode ajudar a enfrentar essa corrupção. Você precisa assumir o controle sobre sua saúde. Se você não entende por que seu médico prescreve certo medicamento ou tratamento, faça perguntas. Se o médico fica impaciente ou zangado, procure cuidados médicos em outro lugar. Dê forças para o médico que usa formas não-convencionais de tratamento, sem usar medicamentos. Ele está arriscando o ganha-pão e a liberdade pessoal. Ele procura ajudar a você e não quer se acomodar aos mandamentos da indústria da saúde. Com seu apoio, ele pode se aliar a um número crescente de médicos que repudiam a tirania do complexo industrial da saúde.

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Dr. Alan S. Levin é médico catedrático de imunologia e dermatologia na Universidade da Califórnia, São Francisco. Ele é co-autor de dois livros, sendo um deles "A Consumer Guide for the Chemically Sensitive" (Guia do consumidor para as pessoas sensíveis a produtos químicos).

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