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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Corsários da industria do fumo prejudicam produtores


Fumo: produtores e indústrias divergem sobre reajuste

Da assessoria do Deser
Fotos: arquivo do Deser.
Com controle da classificação em seu poder, indústrias manipulam margem de lucro. Preços melhores hoje criam ilusão que pode levar ao aumento exagerado da área plantada na próxima safra e consequente queda dos preços.
Em plena fase de negociações para o reajuste nos preços do fumo, produtores e fumageiras divergem sobre os índices de aumento. A estiagem que castigou a safra em curso serve de balizador, mas, de um lado, enquanto os representantes dos fumicultores pensam na recuperação das perdas com base no cálculo dos custos de produção, na baixa dos preços da safra passada e defendem um aumento de 9,9%, as indústrias estão preocupadas em elevar ao máximo os seus lucros. Até o momento o maior reajuste ofertado foi de 4,8%, pela empresa Japan Tobacco International (JTI), aceito no último dia 27/01. Quanto às demais empresas do setor, as propostas de aumento apresentadas não passam de 4% de reajuste e não há nenhum protocolo firmado para acordo.
O Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais (Deser) adverte que o aumento proposto pelas indústrias fumageiras não cobrem a queda nos preços ocorrida na safra passada. De acordo com dados da própria AFUBRA – Associação dos Fumicultores do Brasil -, enquanto na safra 2009/2010 o preço médio ficou em R$ 6,35/Kg, na última safra esta média baixou para R$ 4,93/Kg.
Classificação manipulada
No ano passado, os fumicultores reclamavam da baixa classificação dos produtos pelas empresas, que controlam todo o processo e rebaixavam os ganhos dos produtores. Agora, a queixa é a manipulação da margem de lucro das fumageiras, que mesmo classificando alto os diversos tipos de fumo, fazem com que o ganho do produtor continue migrando para os cofres das empresas, visto que essa avaliação de classificação ainda passa longe da realidade. Com a classificação atual, o preço médio do fumo tem variado de R$ 5,70/Kg a R$ 7,00/Kg, o que agrada muitos produtores, mas cria uma ilusão que pode levar ao aumento da área plantada na próxima safra e consequente queda dos preços. Como a classificação é manipulada e sob o domínio das fumageiras, os produtores ficam inseguros com a possibilidade de um rebaixamento no futuro. A redução do consumo mundial de tabaco ano após ano também acende um alerta para a próxima safra agrícola.
“Nesta balança de pesos e medidas, a sobra de tabaco no mercado continuará afetando diretamente apenas uma classe: a do fumicultor brasileiro”, diz a técnica do Deser, Cleimary Zotti. “Daí a importância de se buscar alternativas de diversificação e até mesmo de substituição do cultivo de tabaco, que possam proporcionar maior autonomia e qualidade de vida aos agricultores”, completa.
Recordes de produção e exportação
Em 2010, o Brasil foi responsável pela produção de 781 mil toneladas de tabaco, que correspondem a 10,9% da oferta mundial, segundo dados da FAO, o organismo das Nações Unidas para alimentação e abastecimento. Em 2011, o país exportou 545 mil toneladas, que proporcionaram a arrecadação de US$ 2,9 bilhões, de acordo com a Secretaria de Comércio exterior (Secex) do Ministério do desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Esses números conferem ao Brasil as posições de segundo maior produtor e maior exportador de tabaco no mundo desde 1995.

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