Dr. Rosinha, especial para o Viomundo
Ruas e avenidas têm nomes. Aliás, dar nome a logradouros públicos é só o que sabem fazer a maioria dos vereadores e alguns dos deputados estaduais. Eu sou um dos curiosos que, às vezes, busca saber quem foi a pessoa que dá nome a determinada rua, avenida ou praça. O que o cidadão fez de tão importante para merecer a homenagem?
Aqui em Curitiba há uma avenida com o nome de João Gualberto. João Gualberto foi o coronel que comandando 58 soldados do Regimento de Segurança do Paraná atacou a localidade de Irani, município de Palmas, no dia 22 de outubro de 1912 – o início da Guerra do Contestado. No ataque morreram 21 pessoas, entre elas o monge José Maria e o próprio coronel. Hoje o coronel é nome de rua, e o monge? Bem, o monge, dizem alguns, virou santo e faz milagres.
Demorei a saber quem foi João Gualberto, por falha da educação pública paranaense. A história do Paraná ainda é pouco ensinada. Mesmo dentro dela pouco se fala, e quando se fala é com preconceito, sobre a Guerra do Contestado. Por isso, foi com alegria que constatei que a edição de outubro da Revista de História da Biblioteca Nacional, número 85, traz um “Dossiê Contestado, 100 anos”. Dia 22 deste mês fez um século do início da guerra, ou melhor, do massacre.
Foram vários os fatores que levaram à Guerra do Contestado. Registro três: 1) havia um território sendo disputado entre os estados do Paraná e Santa Catarina; 2) a construção da estrada de ferro São Paulo–Rio Grande, que expulsava de suas terras os posseiros, gente pobre que, sem indenização, não tinha para onde ir; 3) os “coronéis”, que no início do século passado submetiam social, economica e politicamente as pessoas pobres e miseráveis. A miséria alimentava a religiosidade desse povo, que seguia o catolicismo rústico dos “monges”. Cerca de 50 deles perambulavam pela região à época do conflito.
No texto “Tragédia anunciada”, da página 17 a 21 da revista, Paulo Pinheiro Machado conta que o “grupo de José Maria chegou ao Irani (então município de Palmas no Paraná) vindo de Taquaruçu (município de Curitibanos, Santa Catarina), de onde tinha sido expulso a mando do prefeito local, o coronel Albuquerque, homem conhecido por sua arrogância e autoritarismo”.
“Diante da ameaça do coronel Albuquerque, o monge José Maria dispersou os seus seguidores, dirigindo-se ao Irani com um grupo reduzido…”. “As autoridades paranaenses interpretaram a migração como uma ‘invasão de catarinenses’ no território contestado (daí o nome da guerra)”.
As perseguições ao monge José Maria “foram motivadas pelo temor da concentração de gente pobre do campo. As autoridades locais e estaduais, em sua maioria grandes fazendeiros e oficiais da Guarda Nacional, sentiam que tinham como missão subjugar os sertanejos que não se submetiam mais aos seus respectivos coronéis”. E assim fizeram.
Nesta guerra, que durou de outubro de 1912 a janeiro de 1916, mais de 10 mil pessoas morreram vitimadas pelos confrontos, pela fome e por doenças, principalmente as epidêmicas. Entre março e abril de 1915, o exército chefiado pelo general Setembrino de Carvalho derrotou os sertanejos. Os redutos foram destruídos por militares e grande número de “vaqueanos civis”, que nada mais eram que capangas a soldo dos coronéis. A rendição final ocorreu no início de 1916 e ficou conhecida como “açougue”, pois foi marcada por massacres e degolas de combatentes já rendidos.
Recomendo: leiam o dossiê e procurem saber quem são os personagens que dão nome às ruas, avenidas e praças dos municípios. Pode ser que necessitemos contestar alguns.
Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado federal (PT-PR) e vice-presidente brasileiro do Parlamento do Mercosul. No twitter: @DrRosinhaAqui em Curitiba há uma avenida com o nome de João Gualberto. João Gualberto foi o coronel que comandando 58 soldados do Regimento de Segurança do Paraná atacou a localidade de Irani, município de Palmas, no dia 22 de outubro de 1912 – o início da Guerra do Contestado. No ataque morreram 21 pessoas, entre elas o monge José Maria e o próprio coronel. Hoje o coronel é nome de rua, e o monge? Bem, o monge, dizem alguns, virou santo e faz milagres.
Demorei a saber quem foi João Gualberto, por falha da educação pública paranaense. A história do Paraná ainda é pouco ensinada. Mesmo dentro dela pouco se fala, e quando se fala é com preconceito, sobre a Guerra do Contestado. Por isso, foi com alegria que constatei que a edição de outubro da Revista de História da Biblioteca Nacional, número 85, traz um “Dossiê Contestado, 100 anos”. Dia 22 deste mês fez um século do início da guerra, ou melhor, do massacre.
Foram vários os fatores que levaram à Guerra do Contestado. Registro três: 1) havia um território sendo disputado entre os estados do Paraná e Santa Catarina; 2) a construção da estrada de ferro São Paulo–Rio Grande, que expulsava de suas terras os posseiros, gente pobre que, sem indenização, não tinha para onde ir; 3) os “coronéis”, que no início do século passado submetiam social, economica e politicamente as pessoas pobres e miseráveis. A miséria alimentava a religiosidade desse povo, que seguia o catolicismo rústico dos “monges”. Cerca de 50 deles perambulavam pela região à época do conflito.
No texto “Tragédia anunciada”, da página 17 a 21 da revista, Paulo Pinheiro Machado conta que o “grupo de José Maria chegou ao Irani (então município de Palmas no Paraná) vindo de Taquaruçu (município de Curitibanos, Santa Catarina), de onde tinha sido expulso a mando do prefeito local, o coronel Albuquerque, homem conhecido por sua arrogância e autoritarismo”.
“Diante da ameaça do coronel Albuquerque, o monge José Maria dispersou os seus seguidores, dirigindo-se ao Irani com um grupo reduzido…”. “As autoridades paranaenses interpretaram a migração como uma ‘invasão de catarinenses’ no território contestado (daí o nome da guerra)”.
As perseguições ao monge José Maria “foram motivadas pelo temor da concentração de gente pobre do campo. As autoridades locais e estaduais, em sua maioria grandes fazendeiros e oficiais da Guarda Nacional, sentiam que tinham como missão subjugar os sertanejos que não se submetiam mais aos seus respectivos coronéis”. E assim fizeram.
Nesta guerra, que durou de outubro de 1912 a janeiro de 1916, mais de 10 mil pessoas morreram vitimadas pelos confrontos, pela fome e por doenças, principalmente as epidêmicas. Entre março e abril de 1915, o exército chefiado pelo general Setembrino de Carvalho derrotou os sertanejos. Os redutos foram destruídos por militares e grande número de “vaqueanos civis”, que nada mais eram que capangas a soldo dos coronéis. A rendição final ocorreu no início de 1916 e ficou conhecida como “açougue”, pois foi marcada por massacres e degolas de combatentes já rendidos.
Recomendo: leiam o dossiê e procurem saber quem são os personagens que dão nome às ruas, avenidas e praças dos municípios. Pode ser que necessitemos contestar alguns.
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