CPFL investe na gestão de Santas Casas

Diante da inadimplência dos hospitais, empresa aplica R$ 20 milhões para ajudar a melhorar resultados

Beth Koike no Valor Econômico

Quando assumiu a Cesp em 1997, no processo de privatização das empresas de energia, a CPFL deparou-se com um cliente inadimplente complexo: as Santas Casas de Misericórdia. Ao mesmo tempo em que não é possível interromper o fornecimento de luz de um hospital, há mais de uma centena de Santas Casas na região de concessão da companhia (interior de São Paulo), sendo que a maioria tem sérios problemas financeiros.

Diante dessa situação, a CPFL decidiu ajudar os hospitais, doando equipamentos médicos. Porém, após cinco anos de doações, que somaram R$ 7,5 milhões, não houve progressos no atendimento aos pacientes, nem tampouco nos balanços das instituições, que continuaram sem pagar a conta de energia.

Em 2003, a CPFL mudou a estratégia e iniciou um programa de capacitação de gestores e médicos a fim de melhorar a situação das Santas Casas. Contratou a consultoria de gestão Cealag (Centro de Estudos Augusto Leopoldo Ayrosa Galvão) e em quase dez anos, investiu cerca de R$ 13 milhões para capacitar 5 mil profissionais de 100 hospitais localizados no interior de São Paulo, cujo fornecimento de energia é realizado pela CPFL.

A taxa de inadimplência dos hospitais em 2007 era de 12% e caiu para 2,8% em 2010, disse Augusto Rodrigues, diretor de comunicação e responsabilidade social da CPFL. Nesse grupo de hospitais estão inclusos também os particulares, mas quase todos os estabelecimentos de saúde inadimplentes são públicos.

Outra ação que está contribuindo para a melhora do desempenho é o direcionamento de algumas unidades para atendimentos específicos. Assim, em algumas regiões de São Paulo, as Santas Casas estão sendo transformadas em maternidades, hospitais pediátricos, entre outras especialidades. Há muitas Santas Casas que não conseguem se manter por causa da concorrência. Ás vezes em uma cidade pequena há três pronto-socorros e faltam médicos especialistas, disse Rodrigues.

Os 60 primeiros hospitais que passaram pelo programa de capacitação, que dura dois anos, tiveram uma redução de 13% na taxa de mortalidade dos pacientes e no tempo de permanência de internação. Houve também uma queda de 21% no índice de infecção hospitalar e de 40% no tempo de espera no pronto-socorro. Neste ano, outras 40 Santas Casas das regiões de Campinas e São José do Rio Preto entraram no programa da CPFL.

A maioria das Santas Casas é deficitária devido a repasses do Sistema Único de Saúde (SUS) em valores defasados em cerca de 40% em relação aos custos dos procedimentos realizados. O passivo desses hospitais em São Paulo é de cerca de R$ 3 bilhões, segundo a Federação dos Hospitais Filantrópicos (Fehosp). Há algumas Santas Casas superavitárias porque conseguem parcerias como essa da CPFL, com o governo municipal e têm um plano de saúde para cobrir a defasagem do SUS, disse Edson Rogatti, presidente da Fehosp.

Comentário: Muito interessante a matéria. Parece até aquele ditado que tem sido repetido a exaustão sobre o "não dar o peixe, mas ensinar a pescar". Olha só que resultado expressivo:

A taxa de inadimplência dos hospitais em 2007 era de 12% e caiu para 2,8% em 2010.

Ou seja, quando a gente fala que o problema do SUS não é só falta de dinheiro, mas também (e principalmente) falta de gestão, não estamos assim tão longe da realidade...