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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Delícias da privataria: Diretor clínico de hospital vai à polícia denunciar falta de médicos


O caso envolve o Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos, SP.
O funcionário diz que o ‘problema’ ocorreu neste sábado (17)
O diretor clínico do Hospital Doutor Osíris Florindo Coelho, o médico Alfonso Maria Garcia Bittencourt, foi até a Delegacia Central de Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, e registrou um boletim de ocorrência denunciando falta de médicos no local.
O caso ocorreu neste sábado (17). Segundo ele, o Hospital de Ferraz de Vasconcelos estava sem profissionais das seguintes especialidades: clínico geral, ortopedista e pediatra. No dia da denúncia, o serviço no pronto-socorro chegou a ser paralisado, diz o diretor. Nesta segunda-feira, o atendimento teria, parcialmente, voltado ao normal. “Mesmo assim ainda é capaz de faltar médicos”, diz o diretor clínico autor da denúncia.
Segundo Bittencourt, a falta de médicos se deve a seguidos pedidos de exoneração. Desde o final de 2011, Bittencourt diz que quase 70 médicos teriam pedido demissão e novos profissionais não foram recolocados.
“Neste sábado estavam trabalhando eu e mais três médicos. Eu sou clínico geral e tive que prescrever medicamentos para pacientes psiquiátricos porque não haviam especialistas trabalhando”, conta Bittencourt.
Ele afirma que registrou o boletim de ocorrência para se resguardar. “Minha intenção foi registrar esta situação porque eu consto como responsável criminalmente por uma eventual omissão de socorro. Eu acredito também que a situação do hospital não chegou ao conhecimento do secretário estadual de Saúde e do governador”, relatou o diretor, que disse ainda que é preciso fazer novas contratações.
Na manhã desta segunda-feira (19), duas pacientes que precisavam de oftalmologista estavam esperando para ser atendidas. As duas trabalham na mesma empresa como consultoras de negócios.
“Eles disseram que não tem oftalmologista hoje e vamos ter que passar por um clínico geral. Estou com dor de cabeça e irritação nos olhos desde a semana passada”, conta Pamela Aparecida Cardoso Leite.
Sua colega conta que já sofreu com a falta de médicos no Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos nos fins de semana. Ela não conseguiu pediatra para o filho de 11 meses quando ele passou mal. “Foi há umas duas semanas, num sábado. Nunca tem pediatra no fim de semana. Meu filho estava com febre alta e diarreia. Eu tive que sair daqui e levar num hospital particular”, reclama Allyne Nunes Farias de Souza.
O boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia de Ferraz de Vasconcelos. O G1 entrou em contato com o Setor de Investigação e um funcionário, que não quis se identificar, disse, por telefone, que o setor ainda não havia recebido o caso.
Outro lado
Em nota, o Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos, por meio da Secretaria Estadual da Saúde, esclarece que as declarações do diretor clínico Alfonso Maria Bittencourt são equivocadas e descabidas. No sábado (17), havia 17 médicos de diferentes especialidades atuando na unidade. No total, só durante o dia, foram realizados 93 atendimentos e 23 partos.
A Secretarial ressalta ainda que nenhum paciente fica sem atendimento no Centro Médico. No entanto, assim como em qualquer outra unidade de saúde, pública ou privada, os casos em que há risco iminente de morte são priorizados.
O Estado ainda diz que a escassez de médicos em hospitais é uma realidade nacional, em razão do aquecimento do mercado e da defasagem na tabela de pagamentos do Sistema Único de Saúde, o SUS.
Caso antigo
Em julho desse ano, o Diário TV exibiu uma série de reportagens onde a falta de médicos especialistas era a principal reclamação. A equipe da TV Diário também teve acesso aos comunicados enviados ao Corpo de Bombeiros e às unidades do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o SAMU, com base na região do Alto Tietê. O documento pedia para que não levassem mais pacientes por falta de profissionais. Em um desses comunicados havia um alerta: ‘se chegar aqui o paciente nem vai sair da ambulância’.
Na época, a Secretaria Estadual da Saúde autorizou o diretor do hospital a dar explicações sobre os problemas enfrentados no atendimento à população. Dirceu Yoshiake disse que o Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos tinha menos médicos do que o necessário, mas adiantou que a situação deveria piorar, porque muitos contratos temporários estavam no fim e, por lei, não poderiam ser renovados.

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