Marco Antonio Araujo: no blog O Provocador
Há um descarado exagero nessa cobertura dada às investigações sobre Rosemary Noronha. A ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo está longe de ser o principal alvo da Polícia Federal, mas a mídia insiste em colocá-la nas manchetes.
Pelo que já foi apurado, essa senhora é um pé-de-chinelo daqueles de sentir vergonha alheia. Sem noção, grossa, cafona e deslumbrada. OK. A “madame” se vendeu por mixaria, coisa de quinta, constrangedora: ingressos para show sertanejo e uma lipoaspiração. Quem dera fosse esse o preço da corrupção no Brasil!
Mas a sirigaita é tratada como chefe da quadrilha. O Brasil tem tido aulas magistrais de dosimetria: a cada criminoso de acordo com seu crime. Menos, pessoal, menos.
Para quem não sabe, a Operação Porto Seguro teve início quando um funcionário público da Advocacia Geral da União se arrependeu de aceitar suborno e resolveu colaborar com a PF. O que ele denunciou foi a venda de pareceres para empresas com pendências jurídicas com o governo federal.
O esquema é pesado e envolve diversos setores e agências reguladoras (de Águas, de Transportes Aquaviários, de Aviação Civil), bem como a Secretaria do Patrimônio da União, o Tribunal de Contas e o Ministério da Educação.
Isso é grave, gravíssimo, já que estão citados funcionários de carreira e nomeados em cargos de confiança. O que não falta é gente para prestar esclarecimentos. Qualquer brasileiro minimamente desconfiado imaginava que esse tipo de safadeza era feita. A diferença é que agora fatos estão vindo à tona. A palavra-chave é essa, sempre: fatos.
Muito mais do que cumprir seu dever de informar com honestidade, os tubarões da mídia estão mais interessados em atingir o ex-presidente Lula. Já se tornou obsessão. Se Lula merece ser investigado, que seja por seus atos, e não pelo que fazem em nome dele.
O que tem de ser festejado são a independência e a autonomia que a Polícia Federal tem demostrado. A desenvoltura com que investigou gente do governo é obrigação e dever republicanos. Mas não foi sempre assim. É mérito de todos os envolvidos passar à população a certeza de quem não há gente intocável neste País. Aplausos.
Não podemos deixar que os sinais sejam invertidos. Quem fez que pague, na justa medida de seus crimes. Se a PF está fazendo seu trabalho de forma corajosa e decente, é preciso cobrar que a imprensa também faça seu papel. Sem vinganças nem picuinhas.
Transformar uma corrupta mequetrefe em centro das atenções é banditismo disfarçado de jornalismo. Gentinha rancorosa.
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