Páginas

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Entidades são acusadas de desviar R$ 10 milhões da saúde pública


Uma das funcionárias cita matéria do Fantástico sobre fraudes em hospitais públicos como alerta


no G1/Fantástico


O Fantástico deste domingo mostrou como agia uma quadrilha que desviava dinheiro público da saúde.
Duas entidades que no papel eram sem fins lucrativos são suspeitas de ficar com dez milhões de reais por ano! É dinheiro dos impostos que deveria ser investido nos hospitais.
Novecentos e cinqüenta e dois mil reais, 8.000 euros, 3.200 dólares e mil pesos argentinos e chilenos. Que dinheirama é essa?
Quase um milhão de reais! Tudo em dinheiro vivo. Encontrado num apartamento em Higienópolis, área nobre de São Paulo.
“Aquele era um dinheiro que deveria ser aplicado na saúde pública”, disse o promotor Wellington dos Santos Veloso.
Segundo o Ministério Público, duas organizações civis que deveriam ser sem fins lucrativos eram usadas para desviar o dinheiro.
As organizações chamadas "Sistema Assistencial à Saúde", SAS, e "instituto SAS" eram responsáveis pela gestão de hospitais em Itapetininga, São Miguel Arcanjo, Americana, Araçariguama e Vargem Grande Paulista, além do Rio de Janeiro e de Araranguá, em Santa Catarina.
O papel dessa entidades é o de gerenciar os hospitais, e isso inclui compra de medicamentos e contratação de pessoal. As entidades fazem a gestão e o governo paga a conta.
Para o Ministério Público, no caso dos hospitais administrados pelo SAS e Instituto SAS, a conta apresentada às prefeituras era maior que os valores realmente gastos.
“A finalidade era desviar verbas públicas através da emissão de notas frias e contratos superfaturados”, delegado Wilson Negrão.
As malas de dinheiro foram encontradas na casa de Fabio Berti Carone. Segundo os promotores, ele é suspeito de comandar as duas organizações. Os contratos somavam 100 milhões de reais por ano.
“A investigação demonstrou que o único objetivo de Fabio Berti Carone à frente do sas era desviar recursos públicos em proveito próprio”, disse promotor Luiz Fernando Guinsberg Pinto.
De acordo com as investigações, 10% do valor dos contratos eram desviados. Ou seja, 10 milhões de reais por ano não iam para a saúde.
Nesta semana, a polícia prendeu Fabio Carone e outras nove pessoas suspeitas de envolvimento com os desvios de dinheiro. Todas foram soltas.
Esse funcionário do setor de compras confirma a fraude.
“Teve alguns casos lá que foi 10%, mas ele cobrou da empresa. Ele forçava a empresa: "você quer vender pra mim...", disse um funcionário que não quis se identificar.

Em gravação telefônica, o funcionário comenta a propina de 10% para Fabio.
“A hora que eu mostrei pra ele a conta, um milhão e duzentos, que eu achei que ele ia ficar contente, falei assim, um milhão e duzentos, ele tem dez, né? É... Então, cento e vinte pau”, conta o funcionário.
Num telefonema, uma funcionária cita uma reportagem do Fantástico sobre fraudes em hospitais.
“É a ética do mercado, entendeu? O mercado pratica 10%. Se eu ganho 1 milhão e 300, dou 130. É o normal”
Mulher: Você viu o Fantástico ontem?
Homem: Vi, vi. É, é exatamente isso que o Fábio faz! É exatamente isso!
Mulher: Então, você, cuidado, hein! Toma cuidado! Agora você tem que botar ele na parede e falar: "escuta, é só você que ganha e eu não ganho nada."

Para conseguir fechar alguns contratos, o grupo de Fábio, segundo os promotores, pagava propina para servidores públicos. É o que teria acontecido aqui na cidade de Americana, interior de São Paulo.
Os documentos da investigação a que os advogados tiveram acesso indicam que o prefeito e o secretário de saúde também estavam envolvidos e receberam propina de cem mil reais.
Fantástico: E sobre esse documento, 100 mil reais que o senhor teria recebido?
“Não, isso é inverdade. Isso é uma mentira. É um absurdo. Não existe. Não existiu e nem nunca vai existir”disse o prefeito Diego de Nadai.
Fantástico: O senhor nunca se encontrou com o Fabio?
Prefeito: Na verdade, assim, encontros tiveram, mais do que um, mas nunca pra tratar nada referente a negociata, não.
O secretário de saúde também nega irregularidades.
“Eu tenho total tranquilidade em afirmar que não tive nenhum recebimento de qualquer favor em meu benefício”, disse o secretário de saúde de Americana, Fabrizio Bordon.
Fantástico: O senhor não achou estranho negociar com o Fabio sendo que o Fabio não era o presidente?
Secretário: Essa é a uma informação que de fato pra gente até é nova. Ele era o coordenador na minha concepção.
Na cidade de Itapetininga, o Ministério Público diz que a entidade desviava dinheiro desde 2007.
Depois das prisões, a prefeitura reassumiu a gestão do hospital.
Fantástico: A prefeitura falhou na fiscalização desse contrato?
“Agora eu pedi uma avaliação rigorosa de tudo pra que nós possamos, com o acompanhamento dos fatos, inclusive evitar que situações como essa ocorram mais vezes”, disse o prefeito Roberto Ramalho Tavares.
Na farmácia do hospital, a polícia diz ter encontrado remédios vencidos.
O Fantástico procurou todas as prefeituras.
A de Araçariguama e do Rio dizem que não constataram irregularidades.
A prefeitura de São Miguel Arcanjo informa que as metas da entidade estão sendo cumpridas.
A de Vargem Grande Paulista diz que vai notificar a organização.
Sobre o hospital de Araranguá, a secretária de estado da saúde de Santa Catarina afirma que vai analisar a prestação de contas.
O advogado Celso Vilardi, que defende Fabio Carone, informou que só vai se manifestar depois de estudar a investigação.
Também em nota, o SAS e o Instituto SAS afirmam que os diretores negam as acusações.
“A imagem do dinheiro apreendido na casa do Fabio é muito forte e fala por si, penalizando quem mais precisa dos serviços de saúde pública que é a população mais carente”, disse o promotor Wellington dos Santos Veloso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário