Páginas

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Prefeito de Colombo foi funcionário fantasma de Bete Pavin, diz MP


G1 teve acesso aos documentos da investigação do Ministério Público.

Quatro anos depois, ele a convida para participar de decisões da prefeitura.

Uma investigação do Ministério Público (MP) do Paraná mostra que a relação entre e prefeito interino de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, José Renato Strapasson, do PTB, mais conhecido como Pelé, e a ex-prefeita Bete Pavin (PSDB) é antiga. A tucana é investigada por ser suspeita de contratar Strapasson para trabalhar na Assembleia Legislativa do Paraná quando ela era deputada estadual. A suspeita é de que Strapasson não cumpria expediente na Casa. Ele seria um funcionário fantasma e, por isso, também é alvo de investigação.
Nesta segunda-feira (7), o G1 teve acesso aos documentos da investigação. O procedimento foi protocolado no Ministério Público quatro dias após as denúncias, feitas pela RPC TV, em julho de 2008. Desde então, foram levantados diversos documentos para tentar comprovar a ligação dos fantasmas com Bete Pavin.
Quem cuida do caso é a promotora Danielle Gonçalves Thomé, que está em férias e deve retornar ao trabalho em fevereiro. A investigação permanece parada desde agosto de 2012, quando o MP conseguiu dados de parte dos investigados no Insituto Nacional de Seguridade Social (INSS).
Além de Pelé, o irmão dele e outras três pessoas também eram suspeitos de receber salário, sem exercer qualquer função na Assembleia. Ele negou a irregularidade e chegou a pedir para que a reportagem provasse que ele era funcionário da Assembleia.

Na ocasião, a reportagem procurou cada um dos funcionários. Um deles era uma jovem, que na época era secretária de uma imobiliária de Colombo. Ela sequer soube dizer quais seriam suas funções no legislativo estadual. "Ai meu Deus... Não sei explicar".

Entre os fantasmas estava uma costureira, vizinha de Bete Pavin. Há quatro anos admitiu que era contratada para fazer assistência social em nome da então deputada. Ela explicou que não dava expediente na Assembleia e que estava sempre em casa. “Segunda, quarta e sexta das 4h às 5h só que eu não tô. O resto estou sempre aqui”, disse a costureira.

Depois de muitas tentativas, a então deputada Bete Pavin aceitou falar sobre as contratações. Várias perguntas foram feitas e a reportagem ouviu uma resposta. "Eu sou candidata à prefeita de Colombo e sou mulher". (Reveja as reportagens)
G1 tentou contato com Bete Pavin e com Strapasson. O prefeito interino informou, pela assessoria de comunicação, que ele e Bete só poderiam falar com a imprensa sobre o caso na quarta-feira (9), no período da manhã. Nestes dois primeiros dias da semana, os dois devem continuar trabalhando na montagem do secretariado municipal.
Prefeitura
Quatro anos depois das denúncias, os nomes Pelé e de Pavin reaparecem juntos. Pelé é vereador eleito presidente da Câmara Municipal de Colombo, porém, assumiu o cargo de prefeito na terça-feira (1º) porque Pavin, apesar de ter sido a mais votada nas eleições de outubro, não pode assumir o cargo.

Pelé e Pavin posaram para fotos no gabinete do prefeito (Foto: Divulgação/Prefeitura de Colombo)
Prefeitura divulgou foto de Pelé e Bete Pavin no gabinete da Prefeitura de Colombo
(Foto: Divulgação/Prefeitura de Colombo)
Ela foi impedida pela Justiça Eleitoral, devido ao fato de as contas da prefeitura, na época em que administrou a cidade, terem sido rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Mesmo com o impasse judicial, Pelé chamou Pavin para ajudá-lo informalmente nos assuntos da prefeitura. Participante da coligação da candidata, ele afirmou que todas as decisões tomadas durante a formação da equipe terão a participação de Pavin. Para Pavin, a situação não traz nenhum conflito.

"Na verdade, estou aqui como uma voluntária, a convite do prefeito em exercício, que também foi eleito dentro de um projeto para Colombo e ele, enfim, em um ato bonito, em um gesto bacana, reconhecendo o voto dos cidadãos colombenses, que me deram 52% dos votos válidos, me chamou para que a gente estivesse aqui presente, nesse momento tão importante e crítico para a cidade de Colombo" afirmou.

A postura de ambos, quando buscam dar um ar de normalidade para uma situação anormal, arbitrária, pessoal e, sobretudo, ilegal, apenas contribui para um processo de anestesia da consciência moral coletiva"
Clodomiro Bannwart Júnior, professor UEL
Logo após assumir o cargo, Pelé fechou a prefeitura e havia apenas expediente interno. Ao lado de Pavin, segundo eles, tomaram decisões relacionadas a gestão. Uma delas é a composição do primeiro escalão da Prefeitura, que até esta segunda-feira (7), tem apenas um nome: Aziolê Maria Cavalari Pavin, irmã de Bete Pavin, para comandar a pasta de Educação.
Esta análise, na avaliação do professor de Ética e Filosofia Política na Universidade Estadual de Londrina (UEL), Clodomiro Bannwart Júnior, está equivocada. “O argumento de que a mesma está ‘contribuindo voluntariamente’, em nome do projeto de governo da coligação que a elegeu, não procede, visto que a condenação judicial recai sobre a prefeita eleita e não sobre a coligação”, considerou o professor. Ele considera ainda que o afastamento imediato de Pavin é uma ordem de cunho ‘legal’ e que não impede de o projeto de governo da coligação ser cumprido por quem, de fato, cabe a competência legalmente reconhecida.

O que se percebe, acrescentou Bannwart, é uma postura de déficit ético, pois a atitude de ambos reflete negativamente na opinião pública que reprova, censura e cria uma expectativa frustrada de comportamento. “A postura de ambos, quando buscam dar um ar de normalidade para uma situação anormal, arbitrária, pessoal e, sobretudo, ilegal, apenas contribui para um processo de anestesia da consciência moral coletiva. O que é péssimo para democracia e para o Estado de Direito”.

Para ler mais notícias do G1 Paraná, clique em g1.globo.com/parana. Siga também o G1 Paraná no  Twitter e no RSS.

Nenhum comentário:

Postar um comentário