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domingo, 6 de janeiro de 2013

Sobre a beatificação de Mr. Willis Carrier


na coluna do Anselmo Gois


A coluna lança a campanha de beatificação de Mr. Willis Carrier (na foto), o engenheiro norte-americano que, em 1902, inventou, em Nova York, o único aparelho que realmente nos salva do calor de rachar: o ar-condicionado. Da mesma forma que muita gente questiona como era viver no passado sem luz ou geladeira, dá para se imaginar como era possível sobreviver no Rio neste calor senegalês, interrompido vez ou outra por chuvas fortes, como as desta semana.

O historiador Milton Teixeira, pesquisador maior da cidade, diz que o carioca sempre deu um jeitinho para lidar com o verão, que não era tão quente como hoje, mas já esquentava a mufa. "No século XIX, algumas medidas eram trocar a roupa escura pela clara, usar chapéus de abas largas, leque nas mulheres e escravos com abanos na hora das refeições. A imperatriz Leopoldina usava apenas camisolas na intimidade de São Cristóvão. Ela contava que acordava numa poça de suor que ficava na cama", conta.

Teixeira lembra que o pessoal mais rico se bandeava para Petrópolis, cidade da Serra Fluminense, não tanto pelo calor, mas para fugir das epidemias que recrudesciam no verão.

No início do século XX, morriam, na estação, 20 mil pessoas de febre amarela, peste bubônica e varíola.

"O imperador D. Pedro II, mais precavido, chegava a passar seis meses em Petrópolis", observa o historiador.

Já o querido astrônomo Rogério de Freitas Mourão, 77 anos, lembra que o habitante do Rio tinha um grande aliado contra o calor até meados do século passado: a arquitetura colonial, cujos prédios tinham pé-direito alto, sótão e porão, que ajudavam a climatizar a edificação. "A atividade solar cresceu uma média de 5% nos últimos dez anos. Com o desmatamento, a urbanização e a emissão de gases, como o metano, a sensação de calor aumenta ainda mais."

E haja água e banho de mar para resfriar tanta gente.

Na verdade, lembra Teixeira, no século XIX, "tomávamos banho uma vez por semana, o que já era um grande avanço, pois no século anterior era um a cada três meses".

E mais: até o fim do século XIX, não eram comuns os banhos de mar. Mas aí é outra história.

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