Brasil é um dos poucos países em que homicídios afetam mais a longevidade da população do que problemas físicos
na Gazeta do Povo
O principal motivo que leva pessoas a perderem anos de vida no Brasil são os homicídios. Segundo a pesquisa Global Burden of Disease (GBD) – Carga Global de Doença, em português – a violência limita mais a longevidade dos brasileiros do que enfartes, derrames ou qualquer tipo de câncer. Na maioria dos outros países incluídos na pesquisa, problemas no coração são a principal causa.
O estudo foi publicado na revista inglesa The Lancet e conta com a participação de 486 cientistas de 302 instituições em 50 países. Entre as responsáveis pelo levantamento de dados estão a Universidade de Harvard, o Imperial College, de Londres, e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os resultados mostram que as doenças infecciosas, enfermidades relacionadas à mortalidade infantil e a desnutrição causam agora menos mortes no mundo do que há 20 anos. No entanto, a América Central e a região chamada no estudo de América Tropical, que compreende Brasil e Paraguai, são as únicas a registrar fatores externos, e não doenças, como principal causa para a perda de anos que se poderia viver, tendo como referência a expectativa de vida de cada país.
Na região chamada de Europa Ocidental, que inclui países como Inglaterra, França e Espanha, as mortes violentas são a 50ª causa limitadora de longevidade. Mesmo entre outros vizinhos sul-americanos os homicídios não estão entre os dez fatores mais relevantes. Na região chamada pelo estudo de América Latina do Sul, que envolve Argentina, Chile e Uruguai, os assassinatos ocupam a 12ª colocação.
Outro fator não vinculado a doenças que diminui o tempo de vida da população brasileira e paraguaia, assim como dos cidadãos da América Latina do Sul, são as lesões causadas por acidentes de trânsito, que aparecem na quarta posição.
Guerra
Segundo o doutor em Demografia e pesquisador José Eustáquio Diniz Alves, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o peso das mortes por causas externas no Brasil fica mais claro quando se compara o número com a quantidade de óbitos em conflitos bélicos, como a Guerra do Vietnã (1961-1975). “Lá morreram 46 mil soldados americanos. No Brasil morrem mais homens por causas externas do que isso. Temos cerca de duas guerras do Vietnã por ano”, alerta.
Dados do Sistema Nacional de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, confirmam a importância da violência como fator que interrompe vidas, principalmente entre os jovens. Segundo dados referentes a 2010, a faixa etária com maior número de óbitos causados por agressões está entre os 20 e os 29 anos, na qual foram registradas 20,2 mil mortes, o que equivale a 38,7% do total de casos.
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