Em primeiro lugar, quero explicitar que:
• não concordo com a importação de médicos sem revalidação de diplomas e acredito no escopo e na equipe do atual Revalida;
• incluir dois anos a mais no curso de Medicina é uma decisão que não poderia ter sido tomada sem maior discussão com a sociedade, e poderá significar o fim de uma especialidade importante, a Medicina de Família e Comunidade;
• no caso de ser adotada a medida de serviço civil obrigatório, ela deveria ser adotada também por todas as outras profissões da saúde e, quiçá, de outras áreas também; • faltam financiamento e melhor estruturação de gestão no SUS;
• a fixação do Governo em melhorar a saúde somente aumentando o número de médicos é populista, ainda que atenda aos anseios das entidades médicas em ressaltar que os médicos são o pilar fundamental da saúde (mudaram o discurso agora porque viram o tiro que deram no pé).
• partindo do exemplo de como se deu o PROVAB, podemos prever, no início do programa, muita bagunça e falta de planejamento, salvo engano de minha parte.
• não morro de simpatias pela Dilma e muito pelo Padilha, que jogaram no lixo uma série de causas importantes do SUS, da saúde mental à área de HIV/AIDS.
Posto tudo isso, gostaria de dizer que a reclamação geral de médicos e estudantes de Medicina, da forma como está se dando nas redes sociais, só angaria mais antipatia a uma classe que é, salvo exceções, mal letrada politicamente e excessivamente centrada em privilégios alcançados em décadas e décadas de desigualdades sociais replicadas no campo da saúde. Percebe-se uma total falta de crítica do que significa, para a população geral, ver gente choramingando e esbravejando que terá a garantia de um salário de 10 mil reais por mês, assim que se formar. Só para comparação, o salário nominal de um professor-doutor da UNICAMP, como eu (aliás, professor da Faculdade de Ciências MÉDICAS), é menor do que isso.
Os satélites da subjetividade médica orbitaram durante tanto tempo ao redor de um sol cuja autoridade emanava, em grande parte, da mentalidade da Casa Grande brasileira, que agora ela está despreparada para a suposta festa do consumo da Senzala, que alçou-se à classe C e exige Saúde.
Volto a insistir: ou se luta pela Saúde Coletiva como um todo, e nisso se implicam todas as categorias e forças, ou nós, médicos, seremos para sempre os coxinhas de jaleco.
*Luís Fernando Tófoli é médico, professor-doutor no Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
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