Para os #coxinhas de plantão que vem alardeando a chegada do “Juízo Final”, ou a iminência de genocídio ou acenam com o incontornável e fatal “choque cultural” com a chegada dos médicos estrangeiros ao país, recomendo a leitura do
trabalho “A competência cultural dos(as) médicos(as) latinoamericanos(as) na
prestação de cuidados de saúde em Portugal” publicado na Revista
Iberoamericana de Salud y Ciudadanía.
A dica do trabalho foi dada em matéria do Tijolaço:
“Ali, são ouvidos médicos cubanos, espanhóis e colombianos que foram
trabalhar em Portugal e que falaram sobre essa experiência. Transcrevo apenas
um pequeno depoimento, de uma médica uruguaia que está por lá”:
Tú tienes que tener un segundo para mí, dos minutos aunque sea de
camino,
de acercarte al primer familiar que está y decirle „señora, está
así,
hicimos esto, la cosa está así, lo voy a llevar a tal hospital,
quédese
tranquila, yo lo voy a acompañar‟. Es lo mínimo. Los
médicos
portugueses, entran, salen, meten el tipo y se van. Yo al
principio
decía „pero esto es inhumano!‟ […] Yo hablo con los
familiares.
Eso les llamó mucho la atención a los enfermeros y a los
TAE
[Técnicos de Ambulância de Emergência], yo siempre busco un
minuto
[…]. Hay cosas que son de sensibilidad humana porque el
paciente
no es una cosa o un objeto. (E2, médica uruguaia)
Abaixo transcrevo mais alguns
textos do artigo:
La primera dificultad que
noto es el idioma. […]. Pero también la postura más empática ayuda mucho, lo
que es el lenguaje no verbal, la comunicación no verbal, ayuda mucho
(E4,
médico uruguayo).
Para mí es todo un desafío
trabajar con gente de diferentes orígenes. En el centro de salud donde yo
trabajo hay mucha población pakistaní, africana y china. Con la población
pakistaní hablo inglés y la población china no habla ni inglés, ni portugués,
ni español. Me tengo que comunicar con ellos a través de gestos y dibujos
(E7, médico
colombiano trabalhando em Portugal)
Resumo
A imigração contemporânea em
Portugal coloca desafios importantes em termos de adaptação às novas
necessidades de uma população cada vez mais heterogênea, especificamente no
âmbito dos cuidados da saúde. Este artigo visa contribuir para o conhecimento
sobre o papel e as competências dos médicos(as) estrangeiros(as) na prestação
de cuidados de saúde em contextos de diversidade cultural, através de uma abordagem
metodológica qualitativa. Para o estudo foram utilizadas entrevistas em profundidade
com médicos e médicas latino-americanas que trabalham no Sistema Nacional de
Saúde português, nomeadamente médicos(as) uruguaios(as), cubanos(as) e
colombianos(as), a fim de analisar as representações e percepções destes
profissionais sobre a sua prática profissional em relação às competências, funções
e relações com os utentes. Os resultados do estudo apontam para o desempenho de
práticas culturalmente competentes nos cuidados de saúde que prestam estes
profissionais da saúde, representando uma mais-valia na prestação de serviços
de saúde no contexto português.
Conclusões
A diversificação da força de
trabalho é considerada uma das estrategias para melhorar os serviços de saúde
segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde – Europa (WHO Regional
Office for Europe, 2010). Assim, o referido relatório aponta para a importância
nas políticas de recrutamento no sentido de garantir que o pessoal que trabalha
no serviço de saúde venha refletir a diversidade da população, sempre e quando
respeite os princípios éticos de recrutamento, recentemente adoptados pela Organização
Mundial da Saúde. Além disso, a melhoria da competência cultural dos prestadores
de serviços é um dos fatores que ajuda a reduzir as barreiras culturais e sociais
para o acesso a uma prestação eficaz de serviços de saúde (WHO Regional Office
for Europe, 2010).
A análise preliminar das
entrevistas mostra como as habilidades interpessoais que os médicos e médicas
entrevistadas afirmam ter, quer por causa da formação curricular e profissional,
quer por causa da prática médica desenvolvida no país de origem, levam a uma
maior proximidade, conhecimento e compreensão da situação e do contexto do utente,
imigrante ou português, que acaba por conduzir aparentemente a práticas culturalmente
competentes nos cuidados de saúde ao utente, independentemente da sua origem
nacional. Isto sugere que os profissionais da saúde estrangeiros representam
uma mais-valia na prestação de serviços de saúde e, por tanto, o trabalho deles
e delas pode ter um impacto positivo no Sistema Nacional de Saúde português...
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