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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Artigo interessante: A competência cultural dos(as) médicos(as) latinoamericanos(as) na prestação de cuidados de saúde em Portugal

Para os #coxinhas de plantão que vem alardeando a chegada do “Juízo Final”, ou a iminência de genocídio ou acenam com o incontornável e fatal “choque cultural” com a chegada dos médicos estrangeiros ao país, recomendo a leitura do trabalho “A competência cultural dos(as) médicos(as) latinoamericanos(as) na prestação de cuidados de saúde em Portugal” publicado na Revista Iberoamericana de Salud y Ciudadanía.

A dica do trabalho foi dada em matéria do Tijolaço:

Ali, são ouvidos médicos cubanos, espanhóis e colombianos que foram trabalhar em Portugal e que falaram sobre essa experiência. Transcrevo apenas um pequeno depoimento, de uma médica uruguaia que está por lá”:
Tú tienes que tener un segundo para mí, dos minutos aunque sea de
camino, de acercarte al primer familiar que está y decirle „señora, está 
así, hicimos esto, la cosa está así, lo voy a llevar a tal hospital, 
quédese tranquila, yo lo voy a acompañar‟. Es lo mínimo. Los 
médicos portugueses, entran, salen, meten el tipo y se van. Yo al 
principio decía „pero esto es inhumano!‟ […] Yo hablo con los 
familiares. Eso les llamó mucho la atención a los enfermeros y a los 
TAE [Técnicos de Ambulância de Emergência], yo siempre busco un 
minuto […]. Hay cosas que son de sensibilidad humana porque el 
paciente no es una cosa o un objeto. (E2, médica uruguaia)

Abaixo transcrevo mais alguns textos do artigo:

La primera dificultad que noto es el idioma. […]. Pero también la postura más empática ayuda mucho, lo que es el lenguaje no verbal, la comunicación no verbal, ayuda mucho 
(E4, médico uruguayo).

Para mí es todo un desafío trabajar con gente de diferentes orígenes. En el centro de salud donde yo trabajo hay mucha población pakistaní, africana y china. Con la población pakistaní hablo inglés y la población china no habla ni inglés, ni portugués, ni español. Me tengo que comunicar con ellos a través de gestos y dibujos
(E7, médico colombiano trabalhando em Portugal)

Resumo
A imigração contemporânea em Portugal coloca desafios importantes em termos de adaptação às novas necessidades de uma população cada vez mais heterogênea, especificamente no âmbito dos cuidados da saúde. Este artigo visa contribuir para o conhecimento sobre o papel e as competências dos médicos(as) estrangeiros(as) na prestação de cuidados de saúde em contextos de diversidade cultural, através de uma abordagem metodológica qualitativa. Para o estudo foram utilizadas entrevistas em profundidade com médicos e médicas latino-americanas que trabalham no Sistema Nacional de Saúde português, nomeadamente médicos(as) uruguaios(as), cubanos(as) e colombianos(as), a fim de analisar as representações e percepções destes profissionais sobre a sua prática profissional em relação às competências, funções e relações com os utentes. Os resultados do estudo apontam para o desempenho de práticas culturalmente competentes nos cuidados de saúde que prestam estes profissionais da saúde, representando uma mais-valia na prestação de serviços de saúde no contexto português.

Conclusões
A diversificação da força de trabalho é considerada uma das estrategias para melhorar os serviços de saúde segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde – Europa (WHO Regional Office for Europe, 2010). Assim, o referido relatório aponta para a importância nas políticas de recrutamento no sentido de garantir que o pessoal que trabalha no serviço de saúde venha refletir a diversidade da população, sempre e quando respeite os princípios éticos de recrutamento, recentemente adoptados pela Organização Mundial da Saúde. Além disso, a melhoria da competência cultural dos prestadores de serviços é um dos fatores que ajuda a reduzir as barreiras culturais e sociais para o acesso a uma prestação eficaz de serviços de saúde (WHO Regional Office for Europe, 2010).


A análise preliminar das entrevistas mostra como as habilidades interpessoais que os médicos e médicas entrevistadas afirmam ter, quer por causa da formação curricular e profissional, quer por causa da prática médica desenvolvida no país de origem, levam a uma maior proximidade, conhecimento e compreensão da situação e do contexto do utente, imigrante ou português, que acaba por conduzir aparentemente a práticas culturalmente competentes nos cuidados de saúde ao utente, independentemente da sua origem nacional. Isto sugere que os profissionais da saúde estrangeiros representam uma mais-valia na prestação de serviços de saúde e, por tanto, o trabalho deles e delas pode ter um impacto positivo no Sistema Nacional de Saúde português...

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