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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O DNA é tucano: 1988, o ano que nunca terminou

Histórico confronto entre policiais e professores completa 25 anos hoje. Data marca o dia de luta dos docentes por melhores condições de trabalho

na Gazeta do Povo

Há exatamente 25 anos, uma manifestação de professores em greve entrou para a história do Paraná por causa da violência do desfecho. No dia 30 de agosto de 1988, policiais militares avançaram com cavalos, cães e bombas de efeito moral contra uma multidão de docentes que protestava por melhores salários e condições de trabalho na Praça Nossa Senhora de Salette, em Curitiba. A repressão deixou dez pessoas feridas e resultou na prisão de cinco manifestantes.
Na ocasião, a greve já durava duas semanas sem que as duas partes, governo do estado e Associação dos Professores do Paraná (APP), chegassem a um acordo. Lidos hoje, vários itens da pauta sindical são de difícil compreensão. A menção a reajustes acima de 200%, por exemplo, só faz sentido quando se leva em consideração os índices exorbitantes da inflação no fim dos anos 80. “Naquela época, lutávamos por um piso salarial, porque a inflação vinha, corroía os salários e ficávamos à espera de uma reposição”, lembra o professor aposentado Romeu Gomes de Miranda.
A insatisfação culminou com uma passeata da Praça Rui Barbosa até o Centro Cívico com direito a caminhão de som. Os docentes planejavam protestar em frente do Palácio Iguaçu, mas a polícia organizou um cordão de isolamento. Dali para o confronto que se seguiu não demorou muito. Até hoje, não se sabe ao certo o que originou a confusão.
O fato é que, após o combate, a categoria se percebeu mais unida do que nunca. “Muitos dos professores que não haviam entrado na greve, aderiram logo que viram o que aconteceu na praça”, conta Isolde Benilde Andreata, professora aposentada e presidente da APP em 1988.
A unidade conquistada na ocasião foi bem aproveitada pelos líderes da categoria e repercute até hoje, mais de duas décadas depois. O 30 de agosto virou símbolo da luta dos professores por melhores condições de trabalho. O testemunho daqueles que estiveram no ato é recontado em vídeos, textos e palestras, a cada nova geração de docentes que entra para o funcionalismo público. Todos os anos, o sindicato faz sua principal manifestação nesta data e apresenta ao governo sua pauta de reivindicações atualizada.
Muitas conquistas trabalhistas vieram depois daquele fatídico dia: o piso salarial nacional, o plano de carreira para docentes, o aumento na periodicidade dos concursos públicos e o direito à hora-atividade, tempo destinado ao preparo das aulas fora de sala. Prova de que aquela luta de 1988 não foi em vão.
Ex-governador nega violência e afirma que ato foi político
A memória do 30 de agosto de 1988 também reacende o conflito de versões sobre a história contada. Enquanto os professores acusam os policiais pela truculência, o senador Alvaro Dias, então governador do estado, nega que a repressão foi violenta e afirma que a manifestação foi usada para fins de exploração política.
Na ocasião, a guerra de informações chegou à publicidade oficial. Em 1.º de setembro, dois dias após o conflito, o governo do estado publicou anúncio de página inteira na Gazeta do Povo em que lamentou a ação dos professores e elencou 13 pontos que poderiam ser distorcidos por “interesses pessoais ou partidários”.
Em um dos itens, o governo afirmou que os policiais só reprimiram a manifestação depois de sofrerem “muitas agressões, sem reação”. A nota também negava a recusa em negociar, afirmava que o movimento estava “morrendo” e que não contava com o apoio da base.
Ainda hoje, o ex-governador refuta a intensidade do conflito. “Se compararmos com tumultos recentes, aquilo vai parecer uma brincadeira”, diz. Dias afirma que houve orquestração para o registro de cenas específicas, que nenhum boletim de ocorrência foi registrado e que havia na multidão “especialistas em tumultuar” vindos de São Paulo. “Essa história é um factoide alimentado por pessoas de má-fé com objetivo de exploração política em função da eleição”, afirma.
Registros
Nos anos seguintes ao conflito, no entanto, a APP-Sindicato se dedicou a recolher filmagens da violência policial e produzir documentários sobre o tema. Grande parte do material foi publicado no YouTube, incluindo reportagens de telejornais da época e dezenas de depoimentos de quem estava na manifestação.
“Os policiais derrubaram nossas barracas e arrancaram os cabos do carro de som para nos impedir de instruir o movimento”, conta o professor Cezário Benedito Pedro, uma das testemunhas do conflito. Segundo ele, sem voz de comando e com o estouro contínuo das bombas, os manifestantes entraram em pânico. O som das explosões também teria assustado os cavalos que perderam o controle, ferindo várias pessoas. “Era uma praça de guerra. Foi puro desespero”, diz Pedro.

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